Narrativas da Educação Brasileira: Episódio PISA 2022
SEDUC/Divulgação/Exame

Narrativas da Educação Brasileira: Episódio PISA 2022


Vamos enfrentar os desafios que já reconhecemos certos ou ficar buscando desafios certos para enfrentar?

Essa semana o assunto foi o Resultado do PISA 2022, organizado e promovido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O governo, imprensa e organizações do 3o. setor se manifestaram prontamente sobre os resultados complexos e duradouros da realidade da Educação Brasileira. Os resultados são ruins, muito preocupantes, embora não muito diferentes de uma série de anos anteriores. Mostram que a Educação Básica e a Educação Superior brasileiras precisam de transformações profundas.

Em síntese os resultados estão resumidos na figura abaixo. E nos dizem que:

  • Matemática - 73% dos alunos de 15 anos apresentaram desempenho abaixo do esperado
  • Leitura - 50% dos alunos de 15 anos apresentaram desempenho abaixo do esperado.
  • Ciências - 55% dos estudantes apresentaram desempenho abaixo do esperado.

Em Matemática, estamos abaixo da Colômbia, Peru e Uruguai. O único pais Sul americano abaixo do Brasil é o Paraguai.

Fonte: Pisa 2022/OCDE| Folha de São Paulo

As manifestações pela impressa foram diversas. Muitas proativas. Mas resolvi destacar apenas duas que me pareceram emblemáticas. Em comum, elas apresentam alguma porção variada do que irei chamar de 3S: Superficialidade, Sofisma e Sustentabilidade(ausência).

Há estudos e mais estudos que falam das condições de trabalho do professor, da falta de reconhecimento, da falta de condições de trabalho.


Narrativa No. 1 - Sobre como desviar a atenção dos problemas

Vamos reavaliar todos os cursos de educação a distância, não permitindo mais, esta é a ideia, que os cursos de licenciatura sejam 100% ” (Palavras do Sr. Ministro da Educação).


O Sr. Ministro, com todo o respeito, sabe que falar em cursos 100% EaD é algo inapropriado, embora seja algo que está previsto em Lei, essa possibilidade não foi regulamentada pelo MEC. Os estudantes das Licenciaturas têm no mínimo as atividades de Estágio Supervisionado e de Extensão, que devem ser presenciais pela legislação atual. Assim uma fala pública de autoridade governamental que traz uma superficialidade ao tema em questão.

Contudo há a possiblidade do representante do MEC, considerar que os Estágios e a Extensão não estejam sendo realizados de acordo com a legislação. Se isso não está sendo realizado, ou se haja dúvidas sobre como está sendo realizado pelas IES. O MEC tem o recurso da Supervisão para atuar!

Outro aspecto a considerar é um certo conservadorismo implícito que não tem justificativa (sustentabilidade científica) em um mundo em que se fala de competências socioemocionais, competências específicas, metodologias ativas de aprendizagem.

Paul Leblanc, presidente da SNHU (Southest New Hampshare University), juntamente com a WGU (Western Governors University), instituições públicas americanas, tem se destacado na oferta de cursos ONLINE, inclusive de formação de professores, baseado em competências. Uma pensamento central desta nova abordagem é sintetizado na frase:
" ..tempo em cadeiras, não representa tempo de aprendizado..." (Paul Leblanc, The Students First: Equity, Access, Opportunities)
Segundo Paul LeBlanc "...tempo, e não aprendizado, tem moldado profundamente o modelo de Educação Superior." (Paul Leblanc, The Students First: Equity, Access, Opportunities)


Considerando o caso específico das aprendizagens em Ciências, um conjunto de trabalhos científicos, liderados pelo Nobel de Física americano Carl Wieman, mostram consistentemente melhores resultados de aprendizagem. Essa metodologia pode ser aplicada na Educação Superior, na formação de professores de Física, Química ou Biologia, tanto na modalidade presencial quanto a distância. Erick Mazur, conhecido professor de Física de Harvard que utiliza a metodologia ativa peers instruction, declarou no contexto da pandemia, onde teve realizar suas aulas remotamente, que os resultados foram tão bons quanto no modelo presencial.

Não existe contradição entre EaD e presencial se forem desenvolvidas segundo critérios de qualidade já estabelecidos.

No Brasil, nos últimos vinte anos foram credenciados mais de 181 programas de Pós-graduação Stricto Sensu na área de Ensino na CAPES (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal da Educação Superior). Tive o privilégio de ser um dos fundadores, e professor pesquisador por 20 anos, de um desses programas que atingiu conceito 6 na CAPES. Essa área envolve diversas subáreas entre as quais: Ensino de Matemática, Ensino de Física, Ensino de Biologia, Ensino de Química, entre outras. Nesses programas os pesquisadores estão em contato com o que há de melhor em tendências nacionais e internacionais em termos de currículos, metodologias de ensino e aprendizagem, uso da tecnologias digitais de informação e comunicação na Educação Básica e Superior.

Assim há muitos caminhos para resolver o problema da Educação Básica com olhos para o futuro, não para o passado, utilizando soluções nacionais e internacionais, entre elas a Educação a Distância.


Narrativa No. 2 - De como o sofisma ainda é uma arte

"... Se a atividade dos professores é presencial, não faz sentido eles terem formação a distância..." (representante de uma organização do 3o. Setor)


Achei interessante esse linha de pensamento. Me faz pensar por extrapolação, que um estudante de Oceanografia deveria estudar no mar e estudante de Astronomia deveria estudar onde?

Trata-se de sofisma, provavelmente não intencional, que parte de um pressuposto aparentemente bem entendido e leva a um resultado final desconexo.

Como a Comunidade da Educação Superior do Brasil pode ouvir tais narrativas e não se manifestar e agir de forma contundente?

Vamos ficar omissos ?


#EducacaoSuperior #HigherEducation #EaD #onlinelearning #CNE #ABED #Semesp #ABMES #ANUP #MEC #CAPES #HigherEd #collegesanduniversities

Gustavo Alves

CEO @ Dash Criativa | GSC Curator | ProLíder'24 | WSA Youth Ambassador

8 m

Carlos, valeu por compartilhar .. 🙂

Marcio Ruiz 🇧🇷🇪🇸

Consultor Administrativo | Top Voice em Gestão de Empresas, Liderança de Equipe & Habilidades Analíticas | Membro do Parlamento Mundial de Educação | Escritor | Professor |

1 a

Sigo convicto que a modalidade de ensino não é o problema. Realmente não acredito que a culpa de décadas de erros na educação tenha que recair sobre a EAD. São muitos fatores a se considerar, dentre eles legisladores mal preparados ou mal assessorados durante décadas, com visões limitadas e como disse o Fernando Dalbão Carvalho , que pouco conhecem o setor educacional. Qual o percentual de docentes formados em EAD que estão atuando no ensino para causar tamanho desastre no PISA? Além disso, estamos há décadas com baixos níveis de resultado no ensino básico, que é a raiz do problema. Na minha opinião, trata-se de mais uma narrativa rasa de quem não compreende a realidade brasileira, provavelmente por não participar da mesma. E incluo o MEC nisso.

Fernando Dalbão Carvalho

Direção Executiva | Gestão Acadêmica | Consultoria Educacional | Processos Regulatórios | Internacionalização

1 a

Parabéns Carlos Fernando Araujo Jr., ao abordar os resultados desanimadores do PISA 2022, a falta de repertório que geram as manifestações equivocadas imprensa que, de forma emblemática, refletem o que você muito bem denominou de 3S: Superficialidade, Sofisma e a notável ausência de Sustentabilidade. Seu artigo traz à luz a preocupação com a abordagem rasa de quem deveria conduzir a nau, argumentos enganosos de alguns free-ridings que pouco conhecem o setor educacional. Sigo convicto de que há uma clara falta de sustentação nas discussões em torno dos resultados educacionais do PISA 2022, há culpados? Sem dúvidas! Mas essa conta não pode recair apenas na modalidade EaD, isso seria apequenar a discussão.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Carlos Fernando Araujo Jr.

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos