Natureza S/A: Como capturar o valor do maior negócio que existe no Brasil?
A bioeconomia desponta como um pilar fundamental para o desenvolvimento sustentável, harmonizando-se com as dinâmicas geopolíticas contemporâneas. Não é apenas uma moda passageira; ela terá uma relevância significativa para a economia global. No Brasil, por exemplo, é alavancada pela vasta riqueza natural do país e oferece uma alternativa econômica resiliente e sustentável. Dessa forma, a Natureza é o maior “negócio” que temos.
A relevância econômica da agenda de sustentabilidade é inegável. Segundo o Relatório da ONU sobre a Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (TEEB), os serviços ecossistêmicos globais, que incluem a biodiversidade, podem valer trilhões de dólares anualmente.
Além disso, um relatório do Fórum Econômico Mundial (WEF) de 2020 estimou que mais da metade do PIB global (cerca de 44 trilhões de dólares) é moderado ou altamente dependente da natureza e de seus serviços. A importância de preservar e investir em capital natural é ainda mais evidente quando consideramos um estudo da Universidade de Cambridge, que estimou que a perda de biodiversidade e degradação dos ecossistemas poderia resultar em uma perda econômica anual de 2 a 4 trilhões de dólares até 2050, ou seja, o impacto pode ser negativo em 104 trilhões de dólares.
O capital natural é uma das maiores riquezas do planeta, e sua gestão sustentável pode transformar desafios ambientais em oportunidades econômicas. Segundo a International Union for Conservation of Nature (IUCN), 38% das espécies de árvores do mundo estão em risco de extinção devido ao desmatamento e outras atividades humanas. Este dado alarmante não apenas destaca a urgência de ações de conservação, mas também revela o potencial econômico de um manejo sustentável dos recursos naturais. É importante salientar que mais de 90% do PIB brasileiro tem relação direta ou indireta com os recursos naturais.
A bioeconomia já representa uma parcela importante do PIB brasileiro, evidenciando seu papel como uma alternativa econômica resiliente e sustentável. Este setor está em perfeita consonância com a demanda global por práticas de negócios ecoeficientes.
Já para os CEOs, entender a bioeconomia é uma oportunidade única de diversificação e crescimento. Investir em negócios que promovam a sustentabilidade não só atende às expectativas dos consumidores modernos, mas também abre novas fontes de receita e reduz riscos associados a práticas insustentáveis.
Porém, ainda temos alguns desafios para enfrentar, como o desmatamento e a necessidade de expandir o acesso ao crédito para pequenos produtores do agronegócio, por exemplo. E a resposta para isso passa por políticas públicas robustas e inovadoras, nas quais empresas podem desempenhar um papel crucial ao colaborar com governos e sociedade civil para desenvolver e implementar essas políticas.
A COP16 da ONU destacou a necessidade urgente de financiamento adequado para a conservação da natureza. Apesar das promessas de milhões de dólares, o montante ainda está longe dos bilhões necessários, estimados em 700 bilhões anuais. Este cenário sublinha a importância de mecanismos financeiros fortes e inovadores, como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e o mercado de carbono regulado, que no Brasil está muito próximo de sair do papel, e é um caminho mandatório para alcançarmos uma economia de baixo carbono.
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Em um cenário geopolítico onde a sustentabilidade é um diferencial competitivo, o Brasil tem a oportunidade de liderar a bioeconomia mundial. É importante lembrarmos que mais de 20% da biodiversidade do planeta encontra-se aqui. Empresas brasileiras podem se posicionar como protagonistas no mercado internacional, promovendo a biodiversidade como um ativo estratégico e mostrando a capacidade de produzir inovação em setores chaves, como biocombustíveis e agroindústria.
Dessa forma, o mundo corporativo pode contribuir com sua experiência em avaliação de riscos e compliance para garantir que esses mecanismos sejam eficazes e estejam alinhados com as melhores práticas internacionais.
A criação de hubs de inovação e natureza que integrem serviços e soluções para valorizar e proteger o capital natural é essencial. Eles podem oferecer ferramentas necessárias para que as empresas possam medir, gerir e otimizar seu impacto ambiental. Através dessas plataformas, é possível transformar desafios ambientais em oportunidades de negócio, alinhando-se com as metas globais de sustentabilidade e contribuindo para uma economia mais verde e inclusiva.
A COP16 também ressaltou a importância de metas ambiciosas, como a proteção de 30% das terras e águas até 2030. Atualmente, apenas 17,6% das terras e águas interiores e 8,4% das áreas marítimas e costeiras estão protegidas.
Ou seja, temos uma possibilidade única para transformar desafios ambientais em oportunidades econômicas. Com a expertise em sustentabilidade e inovação, é possível criar um modelo de negócios que não apenas respeite os limites do planeta, mas também promova a regeneração dos ecossistemas. Através de políticas públicas robustas, mecanismos financeiros inovadores e parcerias estratégicas, podemos construir um futuro onde a natureza e a economia caminhem lado a lado, gerando impacto positivo e lucro.
O futuro da bioeconomia é promissor, e as empresas estão prontas para ajudar a transformar esse potencial em realidade. Precisamos apenas começar.
*artigo originalmente publicado no jornal Valor Econômico em 1/1/2024
Criativa do universo das marcas
2 mSem ética ambiental e social não existe amanhã. O futuro é de todos, ou de ninguém. Excelente artigo. Obrigado por compartilhar.
Diretor de Soluções - LATAM na Dell Technologies | Transformação Digital
2 mParabéns pelo artigo, Ricardo! 🌿 Suas reflexões sobre sustentabilidade são fundamentais para nosso futuro econômico e ambiental.
Account Manager at Shenzhen New Lung LTD
2 mA integração dos serviços ecossistêmicos à economia global é crucial para preservar a biodiversidade e evitar perdas econômicas significativas, e a COP29 é uma oportunidade essencial para alinhar negócios e políticas ambientais para um futuro sustentável.
Controller Financeiro
2 mExcelente artigo, Ricardo M. de Assumpção A bioeconomia, de fato, é uma oportunidade estratégica inestimável, mas a grande questão que fica é: estamos prontos para tornar o capital natural um ativo realmente protegido, ou ele seguirá sendo explorado sem limites? Transformar a biodiversidade em um ativo econômico exige um equilíbrio delicado e um compromisso genuíno, tanto do setor privado quanto das políticas públicas, para evitar que essa riqueza natural se esgote antes mesmo de alcançarmos uma economia sustentável. A responsabilidade compartilhada será essencial para que o Brasil possa liderar globalmente sem comprometer sua própria sustentabilidade.
Real Estate Senior Manager @ EY | Corporate Finance, Sustainability & Climate
2 mExcelente!!!