Navegando no Mundo RUPT: O Desafio Paradoxal de Viver Entre a Ordem e o Caos

Navegando no Mundo RUPT: O Desafio Paradoxal de Viver Entre a Ordem e o Caos

Que existem muitos conceitos no mundo corporativo, é verdade. Mas (talvez) mal comparando, assim como os antigos navegadores usavam as estrelas como guias para se orientar em mares desconhecidos, no mundo corporativo, os conceitos e termos bem identificados podem servir como pontos de referência para navegar entre os desafios e problemas que surgem em qualquer horizonte empresarial.

Da mesma forma como o mundo muda muito rapidamente, os conceitos se sucedem, tentando dar conta de desvendar o momento em que vivemos. O resultado é um balaio de acrônimos e termos da moda, que podem trazer uma carga a mais de confusão. Isso porque hoje vivemos expostos a uma carga inédita de informação, sendo bombardeados por ela assim que pegamos nosso celular ou abrimos nosso computador. E é olhando para essas telas que passamos boa parte dos dias.

Para quem quer se informar e ter alguma ajuda para navegar entre os problemas cotidianos de sua empresa, ter que saber o que é VUCA ou BANI pode aumentar essa ansiedade. Já falei sobre essas duas siglas em outro artigo, por isso, quero tratar aqui do RUPT.

Lembrando sempre que esses conceitos estão aqui para ajudar e, nesse sentido, acho que RUPT tem muito a oferecer na nossa navegação cotidiana em mares nem sempre calmos, muito pelo contrário.

Este não é um conceito novo, já está rodando desde, no mínimo, 2019, mas agora parece ter sido encontrado o seu momento aqui, em terras brasileiras. Eu mesmo ainda não conhecia, mas acho que talvez ele tenha mais conexão com o mundo de hoje do que com o de 2019, por exemplo.

O conceito de "mundo RUPT" (Rápido, Inesperado, Paradoxal e Tenso) foi introduzido pelo MIT Sloan School of Management como uma evolução dos acrônimos VUCA e BANI, que descrevem características das realidades organizacionais e sociais contemporâneas. Ele destaca uma nova forma de pensar os desafios e a complexidade do ambiente atual, tendo como foco quatro dimensões principais, quatro pilares que ajudam a dar forma ao nosso momento.

Em primeiro lugar, temos o Rápido. Talvez seja esse o que mais reflete a forma como enxergamos o mundo de hoje. Temos que estar sempre em sintonia com o ritmo acelerado das mudanças e das inovações, o que exige agilidade na adaptação e nas decisões. O perigo é não se deixar levar pela velocidade, aprendendo a diminuir o ritmo sempre que necessário. Entender esse timing talvez seja uma das habilidades mais necessárias aos dias de hoje.

Em seguida, vem o Inesperado: para abraçar o clichê, podemos dizer que o inesperado se tornou o novo normal. A imprevisibilidade veio para ficar (ok, sempre esteve aí, mas agora chegou com mais força e mais rapidez), lançando uma sombra de incertezas constantes sobre as organizações, desafiando a estabilidade e a previsibilidade que um dia, em um passado que hoje parece muito distante, já foram consideradas mais garantidas. Nesse cenário de mudanças em ritmo acelerado, as reviravoltas são moeda corrente e as empresas se veem constantemente frente a eventos inesperados que podem alterar completamente o curso de suas operações. Nessa conta, podem entrar uma crise econômica global, uma pandemia inesperada ou uma revolução tecnológica disruptiva. Espero que não, que nossa geração não passe por isso (nem as próximas), mas nem mesmo uma guerra mundial está descartada desse cenário. Ou seja, para recorrer a outro clichê, a única certeza é a incerteza. Saber disso já pode nos deixar mais atentos e rápidos nas respostas.

O terceiro pilar aqui é o Paradoxal. Pensar nele é pensar na convivência de elementos opostos ou contraditórios, que desafia as organizações a encontrar aquele equilíbrio delicado entre diferentes forças e necessidades. Um exemplo claro desse paradoxo reside na busca incessante por eficiência, aliada à crescente demanda por maior empatia e humanização nas relações empresariais. Será que é possível? Sim, temos que fazer acontecer, mas, para isso, é preciso ter a consciência de que talvez tenhamos que navegar com um pé em cada barco. Isso já foi uma imagem usada para mostrar o que não se fazer, mas hoje, talvez seja uma necessidade, um novo esporte que teremos que dominar, desenvolvendo as habilidades necessárias para ele.

E, por último, temos o Tenso. Se essa é a descrição que mais faz sentido para você, alguma coisa com certeza está errada. Viver em tensão permanente é o caminho para um burnout ou qualquer coisa que afete a saúde mental. Temos que entender aqui que é algo a se lidar, porque é a somatória dos três pilares anteriores. Muita rapidez, com surpresas inesperadas aparecendo constantemente, enquanto se tenta um equilíbrio entre situações paradoxais, é uma rota segura para a tensão. Indivíduos e organizações se veem constantemente sob a mira de expectativas cada vez mais altas e exigentes, o que pode levar a um aumento do estresse, da ansiedade e da sobrecarga de trabalho. Por isso, aqui é onde precisamos entender como evitar que as águas fiquem revoltas ou como sair delas com algum equilíbrio físico e mental.

O RUPT é mais um modelo que busca preparar líderes e organizações para navegar nesse ambiente cheio de desafios, utilizando abordagens estratégicas e sustentáveis para lidar com a volatilidade e as tensões. Ele reforça a necessidade de competências como visão sistêmica, adaptabilidade e uma forte base ética e cultural nas lideranças. Ênfase minha nessas duas últimas.

Claro, daqui a pouco vai surgir um acrônimo novo, uma nova formulação, um novo conceito. Na minha opinião, o segredo para tornar eles relevantes de verdade, é fazer com que se tornem pontos de reflexão. Os momentos em que lemos sobre eles precisam despertar também o nosso senso crítico, o que pode nos levar a concordar - ou não - com a visão de mundo que trazem. E fazendo isso, estamos pensando, evoluindo e contribuindo para o nosso mundo, seja ele qual for.

Gonzalo Isasa

Polímata Nexialista| ESG Sense Maker| Designer Organizacional| Governança estratégica |Executive Enterprise Coach | Transformação organizacional | Estratégia sistêmica | Inovação

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Realmente, este um assunto para refletir e conversar amplamente. Por trás desses acrônimos existem múltiplas camadas a serem observadas. Um dia destes temos que marcar um cafezinho e aprofundar no tema e suas implicações...hehehehehe

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