Nem 8 nem 80, aprenda a encontrar o meio termo
Se você persegue um padrão de qualidade alto em tudo o que faz e constantemente se chateia quando algo não sai como havia programado, talvez se enquadre na categoria dos perfeccionistas. A ideia aqui não é rotular, apenas identificar pensamentos e comportamentos mais comuns em pessoas que buscam a perfeição em tudo o que fazem.
A pesquisadora norte-americana Brené Brown, autora de A Coragem de Ser Imperfeito, alerta que, para alguns, o perfeccionismo pode surgir apenas quando estão se sentindo vulneráveis. Para outros, o perfeccionismo é compulsivo, crônico e debilitante, e chega a parecer um vício.
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Por trás desse ‘vício’ de fazer tudo perfeito está o desejo de agradar, ser aprovado e acolhido.
O psicólogo Abraham Maslow, que criou o conceito conhecido como a Pirâmide de Maslow em 1950, identificou o conjunto de condições necessárias para que um indivíduo alcance a satisfação, seja ela pessoal ou profissional. Na hierarquia das necessidades humanas, em que as fisiológicas são as mais básicas, passando por segurança, social e estima, as de autorrealização estão no ápice. Também conhecida como necessidade de crescimento, a autorrealização inclui o sentido de aproveitar o próprio potencial, e os desejos estão voltados para a perfeição.
A ideia de fazer várias vezes a mesma coisa (retrabalho) para não deixar nada fora de lugar até atingir a tão esperada perfeição pode não ser um comportamento saudável, porque impede o reconhecimento de aspectos positivos e focaliza somente o que falta. Isso gera insatisfação e derruba a autoestima.
Ora, o ser humano é mesmo muito exigente consigo, mas isso não se traduz apenas em uma satisfação própria de fazer tudo corretamente. O comportamento está voltado para ‘o que os outros vão pensar?’
E essa preocupação excessiva vem do medo do julgamento, baseado na vergonha e na dificuldade de lidar com a vulnerabilidade em situações de grande visibilidade como apresentações ou entrevistas para a imprensa.
Para Brené Brown, que estuda o comportamento humano há mais de 20 anos, perfeccionismo nada tem a ver com se esforçar para a excelência ou buscar o autoaperfeiçoamento. “Perfeccionismo é um escudo de 20 toneladas que carregamos conosco, achando que ele nos protegerá, quando de fato, é aquilo que realmente nos impede de sermos vistos”, defende.
E o mais incrível de toda essa busca é que ser perfeccionista não garante o sucesso, porque representa exatamente o contrário, já que dificulta a conquista.
Veja se alguns dos pensamentos abaixo faz algum sentido pra você:
– ‘Comecei a escrever um livro, mas ele está na gaveta, porque ainda preciso acumular mais conhecimento para expor o que penso;
– ‘Já descartei vários convites para ‘lives’, porque não me sinto pronta pra isso. Sempre dou a desculpa de ‘falta de tempo’;
- "Queria muito escrever posts nas redes sociais, mas acho que ninguém vai gostar o que tenho pra dizer";
– ‘O maiô ou biquini estão no armário, porque ninguém merece ver minhas celulites na praia;
– ‘Evito me apresentar em público e passo a tarefa para outra pessoa, na empresa, para não correr o risco de errar na frente das pessoas.
Crenças como essas limitam e bloqueiam o desenvolvimento, afinal quem não arrisca, não avança. Está na hora de analisar se toda essa dinâmica tem impedido você de se comunicar como gostaria.
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A SAÍDA NÃO É FAZER AS COISAS DE QUALQUER JEITO
O ser humano tende a levar as coisas para os extremos quando é convidado a pensar numa forma de balancear um comportamento, uma ideia ou uma sensação.
Lembro-me de quando ouvia a mesma pergunta de colegas de trabalho e clientes: ‘Aurea, você está brava, aconteceu alguma coisa?’ Aquilo me incomodava, porque afinal eu nunca estava sentindo o que eles achavam que eu estava vivenciando. Comecei a prestar mais atenção em mim mesma e, com dificuldade de entender como tirar aquela cara brava da minha frente, logo me questionei: ‘Eles querem que eu chegue dando gargalhadas como a Dercy Gonçalves?’
Minha voz interna que me ajuda a apaziguar os ânimos, me disse: ‘Não seja extremista, nem lá nem cá’. Eu estava sendo convidada a encontrar um meio termo.
É no fiel da balança que eu quero que você pense. Como encontrar um ‘ponto bom’ entre o perfeccionismo e a displicência?
A dificuldade de perceber o meio termo vem da rigidez, da busca pela perfeição, de uma espécie de dívida que parece que temos se não fizermos o absolutamente perfeito, porque o medo do julgamento está ali atrás da porta querendo nos surpreender.
Para sair desse circuito que parece sem saída, pense em como reagiria a um desabafo de um amigo (a) que lhe conta sobre algum projeto malsucedido. Talvez você não o chamasse de burro, incompetente, relapso ou displicente. Talvez você não o cobrasse com rigidez e falta de empatia. Imagine-se na situação e pense se talvez não seria acolhedor com seu amigo e o motivasse a enxergar os pontos positivos de tudo o que fez para encontrar os pontos de melhoria e continuar se desenvolvendo com motivação e alegria.
Mas, por que quando isso acontece com a gente mesmo somos tão castradores conosco? A resposta está no livro Autocompaixão, pare de se torturar e deixe a insegurança para trás, de Kristin Neff.
A pesquisadora indica alguns caminhos para praticar a virtude que muitas vezes oferecemos ao outro, mas não a nós mesmos. A autocompaixão é um misto de bondade, atenção plena e gratidão, não exatamente nessa ordem, mas tudo junto e misturado. A proposta da escritora/pesquisadora é que tenhamos um olhar bom para nós como teríamos para o outro e, para isso, é importante que estejamos atentos para olhar para dentro e em volta. A auto-observação contribui para nos mantermos acordados para o que realmente acontece e não focados exclusivamente no que a mente sabotadora nos traz, como ‘você ainda não fez direito’, ‘olha o que as pessoas vão dizer, faça novamente’, ‘você não consegue mesmo, és uma fraude’.
E por fim, mas não definitivamente, a gratidão que nos ajuda a reconhecer o que somos e temos. Quem não tem esse olhar bondoso para consigo pode sentir uma eterna frustração por nunca alcançar o que deseja.
Como diz Brené Brown, a jornada de autoconhecimento para vencer o perfeccionismo começa com resiliência a vergonha, amor próprio e aceitação. É o desafio de passar de ‘o que as pessoas vão pensar?‘ para o ‘eu sou bom o bastante’.
Como você tem olhado pra si mesmo? Essas questões estão presentes em momentos de grande visibilidade em que você quer se comunicar, mas dá um passo pra trás?
Deixo você com as reflexões e desejo uma boa jornada nesse processo de autoconhecimento.
Gostou do artigo? Comente para eu saber de que forma o texto conversou com você.
Designer comportamental
2 aO perfeccionismo que atrapalha na verdade é procrastinação! A pessoa se apega a perfeição para não fazer a conclusão. Em comunicação é muito comum a dificuldade de travar, ficar sem movimento na frente da câmera, gaguejar no microfone. O velho guerreiro já dizia : “quem não se comunica ….”
Bióloga / Consultoria Ambiental / Divulgação Científica/ Professora de biologia.
2 aOpa, esse artigo eu vou ler com carinho, estou precisando dessa reflexão! 🤗👏🏽👏🏽
Especialista em Comportamento Organizacional e Liderança / Apaixonada por Comunicação Não Violenta/ Criadora do Método Vamos Aprender a Conversar/Mentora/ Facilitadora de cursos e palestras
2 aParabéns Aurea Regina de Sá! Mais uma grande contribuição para os leitores e seguidores do linkedin!!! Brené Brown é tudo de bom!
Jornalista e redator freelancer especializado em esportes, social media, copywriter, ghostwriter e revisor de textos. Tenho ferramentas para fazer a sua empresa, principalmente do ramo esportivo, a crescer no digital.
2 aExcelente Aurea Regina de Sá. Muitas vezes a perfeição é inimiga da execução.