Nem só de máquinas viverá a indústria

Você já percebeu como atletas de alta performance estão sofrendo com a crise provocada pela COVID-19? Saiba que muitos deles irão passar por tudo isso e retornarão com mais força e determinação, enquanto outros atletas, não.

O que faz a grande diferença entre eles e os demais é o que carregam dentro de si, pois parte do preparo destes atletas é física, mas outra tão importante quanto, é intangível, mental. Parte é o hardware, o corpo, e a outra parte, alma, a psicologia, o software.

Imaginem que, enquanto travamos esta verdadeira batalha contra o vírus, torna-se ainda mais importante buscar forças internas para finalmente nos defendermos, reagir, e continuar no foco mente-corpo, software-hardware, disponibilidade-máquina.

Convertendo esta visão para a indústria, a nova realidade exige uma rotina transmutada porque põe à prova a capacidade de resposta das empresas, em especial à alguns pilares do que convencionamos chamar de quarta revolução industrial, como são a flexibilidade, a modularização, o alto grau de personalização e a digitalização de processos. 

Isto posto, te convido a pensar junto sobre algumas necessidades claras que remetem a saídas possíveis baseadas em software e tecnologia, a verdadeira alma dos negócios.

Vamos elencar algumas ações possíveis dentro deste modelo, conectando funções de gestão, planejamento e controle ao que acontece dentro das fábricas, onde muitos, bravamente, continuam atuando com todo o cuidado necessário. 

Seria possível aplicar o chamado “home office” para uma indústria?

Para isso se concretizar uma tecnologia de reconhecimento facial, integrado a GPS, e com proteção aos riscos de fraudes, pode trazer uma forma de localizar e saber onde as pessoas estão atuando e onde, seja em casa, ou na planta da fábrica. Hoje já existem mobile apps que realizam este tipo de ponto eletrônico virtual, usando a inteligência artificial para reconhecer os integrantes de um time.

Outra tecnologia que está sendo amplamente adotada agora é o cloud computing, com toda a segurança que sistemas em nuvem podem agregar para a operação, tanto para proteção dos dados, quanto para permitir que os colaboradores mantenham a distância social necessária, e mesmo assim interajam com toda a gestão de backoffice, como controladoria, financeiro, fiscal e custos. 

Parte do time atuando na planta fabril, e a outra, em home office.

Frente às mudanças prementes provocadas por esta crise, a criação de novos produtos, assim como o lançamento de novas versões, como aconteceu com o álcool em gel em embalagens de água e de shampoo, por exemplo, podem ser geridas e controladas pelos engenheiros em seus escritórios de casa utilizando uma ferramenta de “desenvolvimento de produtos”, onde além da codificação e nomenclaturas, podem ajustar preços, custos, estrutura do produto (ou ficha técnica), roteiros de produção, além de disparar os testes de prototipação na fábrica, antes de liberar os novos produtos ao mercado consumidor.

A interação digital com clientes com plataformas B2B e B2C, assim como CRM Mobile para o time de vendas viabiliza negócios sem restrição de distância, possibilitando atender mais clientes, em menor tempo, de uma forma estruturada e continuar captando mais pedidos, menores em alguns casos, no entanto mais variados e diversos, como para reposição de peças em uma estratégia focada na revisão e manutenção de máquinas e equipamentos neste momento.

Frente às oscilações da demanda, é necessário revisitar o forecast, avaliar as pesquisas de mercado e atualizar as demandas, e assim recalcular o MRP (planejamento de necessidades de materiais). Desta forma o planejador do PCP, direto do seu escritório em casa, pode executar e consultar os resultados do cálculo do sistema que considera: o estoque ainda disponível, a mudança nos prazos de entrega dos fornecedores, e as negociações de prazos e quantidades com os clientes. Certamente, avaliar os impactos com esta solução é muito mais ágil do que se debruçar sobre planilhas eletrônicas manualmente atualizadas, porque assim, a cada mudança de cenário e eventos externos, basta re-executar o processamento e ter uma nova perspectiva de compras e produção atualizadas para os próximos dias, semanas ou meses.

Conhecidas e atualizadas as requisições da fábrica, o comprador, mesmo em home office, pode gerar automaticamente workflows para cotação com todos os seus atuais fornecedores, assim como à outros novos, que estão disponíveis na plataforma de SRM (Supplier Relationship Management) com centenas de milhares possíveis e que utilizam a mesma plataforma de negociação, tudo online e digital, mantendo rastreadas as compras e evitando riscos de fraude. 

Com um menor contingente circulando na planta fabril, menores serão os gastos com energia elétrica, segurança, água e refeições, mesmo assim, com o gerente industrial operando remotamente, conseguirá planejar o melhor sequenciamento possível da produção usando ferramentas como o APS (Advanced Planning and Scheduling) que acessa todo o cadastro de recursos como máquinas e equipamentos, roteiros de produção e ainda cruza com os lead times e a disponibilidade de saldos de matérias-primas e outros insumos e componentes.

Para cada item, e mediante suas interações com o time da fábrica, o gerente ainda reprocessa sempre que necessário, frente às variações diárias do mercado e da demanda, analisa e atualiza todas as ordens de produção para enviar então ao MES (Manufacturing Execution System). O MES é o sistema que atende tanto a parte física quanto a parte da gestão remota porque reflete em tempo-real, da fábrica para a tela, todas as quantidades produzidas, as eventuais perdas, assim como máquinas paradas e os motivos para tal. Ou seja, o gestor pode orquestrar o seu time e os turnos para extrair localmente o máximo da sua fábrica, mesmo à distância.

Nem todas as linhas de produção são totalmente automatizadas e preparadas para utilizar o MES, no entanto ainda assim é possível realizar apontamentos de forma digital, extrair relatórios e consultas em tempo-real daquilo que se é produzido utilizando aplicativos de celular conectados à rede local onde os operadores podem lançar as produções e atualizar a disponibilidade para vendas, sejam físicas ou online, como nos e-commerces por exemplo, além de retroalimentar a programação e o forecast de vendas. 

Seguindo esta tendência, os técnicos de manutenção não precisariam mais circular desnecessariamente pelo chão-de-fábrica, evitando contato, pois suas ordens de serviço são sinalizadas no tablet ou celular também por aplicativos móveis e assim reduziriam os riscos andando pelos setores e departamentos da empresa, além disso já saberiam quais são os kits para realizarem seus consertos e setups na palma da mão. O gestor da manutenção, onde quer que estivesse, também supervisionaria as atividades e os indicadores de “tempos médios de falhas” e “entre de reparos” (MTBF e MTTR).  

Bem, este foi apenas um exercício para entendermos como a rotina já mudou de forma inexorável. Ainda poderíamos continuar conversando por horas sobre como as soluções adequadas podem trazer um total sincronismo entre o local e o remoto, entre a fábrica e o home office. Todo um novo modus-operandi se descortina frente a nós e esta abordagem que fizemos aqui se tornará cada vez mais frequente em todos os nossos processos.

Acredito que o uso racional das tecnologias atualmente disponíveis, métodos e processos eficazes, alinhados na mesma direção, aumentam fortemente a capacidade de resposta da indústria, assim como suas chances de superação deste obstáculo global.

Assim, como os atletas campeões, vamos fazer as indústrias se preparem muito bem e voltarem com força total, mas desta vez com uma nova rotina de sucesso! Sem transformação não haverá solução.