Neurotransmissor da bagunça
Certamente, há algo de, no mínimo, diferente, em quem gosta de escrever ouvindo músicas e assistindo TV ao mesmo tempo. Por mais que parece “meio louco”, é assim que consigo produzir, é assim que dou vasão ao “meu processo criativo”. Deve ser mania de jornalista, que produzia textos ao longo dia sem se preocupar com o barulho da redação do jornal. Mais recentemente, descobri que posso ser TDAH por conta de um neurotransmissor (ou a falta dele na medida certa) que pode bagunçar a vida social para sempre.
Mas, o que significa TDAH? O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neuropsiquiátrico cuja característica principal é o surgimento de “padrões persistentes de desatenção, hiperatividade e impulsividade”. Posso estar errado, mas, desatenção, hiperatividade e impulsividade são características quase permanente de estudantes de até 25 anos, perfil da maioria dos que chegam às universidades brasileiras.
E a pergunta é: nós, os professores e professoras estamos preparados para lidar com esta realidade dos adolescentes que chegam a nossa sala-de-aula? Será que estamos preparados para acolher nossos filhos e filhas com o mesmo problema? Certamente, a resposta é não. E o um não peremptório. Eu, pai; você; mãe; nós, os leitores e leitoras; professores e professoras; nunca fomos preparados para lidar com as diferenças. E, entendam: diferenças negativas ou positivas aos olhos da sociedade. São diferenças. Apenas diferenças: nada além.
E se uma pessoa possui “desatenção, hiperatividade e impulsividade”, isso pode interferir significativamente no desempenho acadêmico, nas relações sociais e na qualidade de vida. Este problema é neurobiológico; portanto, está ligado a um problema que não é apenas psicológico: é biológico.
Pessoas como TDAH são diferentes. Não podem ser encaradas como pessoas “normais”. São pessoas que possuem “fatores genéticos”: se um dos pais for TDAH; filho ou filha possuem predisposição genética para ser TDAH. Fatores ambientais tais como exposição a substância tóxicas durante a gravidez, complicações no parto e exposições ao chumbo também podem levar ao desenvolvimento da TDAH.
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Particularmente, defendo a tese de que as Mídias Digitais também podem desenvolver ou, ao menos, potencializar, a “dependência química” relacionada à TDAH. Vivemos em um mundo da “dependência” dos tabletes e smartphones. Uma espécie de “ansiedade da informação”. Logo, estamos criando um exército de “dependentes químicos” da Internet e dos seus “aparelhos”. Alguém pode imaginar um mundo com o “WhatsApp” fora do ar por mais de 24h?
Paralelamente a isso, temos fatores ligados às “disfunções cerebrais”, ou seja, o cérebro pode ter área que sofre anormalidade relacionadas ao controle da atenção e da impulsividade. Pessoas com esses tipos de disfunções são TDAH. Logo, precisam e acolhimento e de atenção redobradas. Possuem uma espécie de “neurotransmissor da bagunça”. Capaz de transformar as pessoas em “irresponsáveis” e pouco afeitas ao cumprimento de obrigações.
Não o fazem porque querem, mas, porque precisam de acompanhamento multidisciplinar. Precisam vencer a própria “ansiedade” por cumprir as cobranças de si mesmo. Porém, no mais das vezes, não conseguem. É preciso determinação, amor e afeto permanentes para que se consiga ajudar pessoas com este tipo de problema a levar uma vida normal. Como se pudesse ser considerada normal na sociedade atual alguém que “não cumpre seus deveres”.
PS: Escrevi este artigo vendo TV, ouvindo música e tomando “uma cervejinha”. Será que sou TDAH? Embora possa parecer um “exemplo de concentração”, acho que sou. Ainda não fiz os testes. Mas, meu comportamento indica que sim. E escrevi esta postagem para que as pessoas comecem a entender que a “bagunça organizada” de cada um pode não ser “mera bagunça”. E que essas pessoas precisam de apoio, afeito e muita compreensão. São pessoas maravilhosas. Mas, são diferentes!