New Normal?

New Normal?

Caros amigos, senti vontade de escrever sobre esse tema, sem pretensão alguma de que esse texto traga um caráter acadêmico ou até mesmo informativo. Não esperem também fontes estatísticas que sustentem o ponto de vista desse texto.

O que trago aqui é apenas uma reflexão, acompanhada de um ponto de vista, pela perspectiva de alguém que vive de entender o comportamento humano e, ao mesmo tempo, está muito impactada como humana que é, diante desse momento que todos nós estamos vivendo.

Acho que nunca li e assisti a tantos conteúdos sobre um mesmo tema em um espaço tão curto de tempo.

O mundo todo está falando dos impactos do COVID e as comunidades de Negócio, Marketing e Consumer Insights estão muito ativas e preocupadas em entender quais dos novos comportamentos permanecerão e serão incorporados no “Novo Normal”, para que possam se preparar para atender essas novas necessidades quando tudo isso passar.

Novo Normal? Eu pessoalmente não gosto desse descritor. Alguém acha que estávamos vivendo um “Normal”?

Algumas mudanças de comportamento que percebemos instauradas em função da Pandemia e Isolamento parecem reforçar que as coisas não estavam muito normais.

Estamos passando mais tempo em casa, convivendo mais com nossos cônjuges, filhos, cozinhando, fazendo refeições juntos, participando da educação das crianças.

Mas será que os padrões anteriores referentes a esses comportamentos eram “normais”?

Eu acho que não.

Essas me parecem situações que deveriam ser consideradas como parte da rotina (ainda que não na intensidade atual), mas o que vivíamos era algo bem longe disso.

Não quero entrar nesse mérito, porque só esse ângulo daria conteúdo para um novo texto, exclusivo, para falar só sobre isso!

Mas usei a reflexão acima para abrir meu ponto de vista sobre o que vai ficar, ser incorporado e o que pode voltar ao estado anterior a pandemia.

Todo comportamento é baseado em uma necessidade e o reforço dele é fruto da relevância que aquilo tem ou traz para a nossa vida.

Quando experimentamos viver um pouco mais com nossos filhos, fazer um jantarzinho em casa, assistir um filme na 4f à noite com nosso companheiro (a) e percebemos que isso é muito bom e que estávamos nos privando disso tudo, certamente a volta à rotina “normal” não será a mesma em relação aos nossos comportamentos sobre essas questões, isso porque experienciamos os benefícios de vivenciarmos isso.

Então o que todos nós estamos ouvindo sobre “valorização da casa”, “entretenimento em casa”, “mais tempo em família”, “home cooking não deve voltar a ser como era antes – deve encontrar um espaço diferente, um ponto de equilíbrio entre a necessidade absoluta vivenciada no momento atual e a quase ausência absoluta dessas experiencias na vida que vivíamos antes da pandemia. Isso porque experimentamos o benefício de vivenciar tudo isso!

A “explosão do online” no consumo também é algo que não terá retorno pela mesma razão da experiência positiva e barreira quebrada, mas especialmente porque a transformação digital está sendo acelerada sobremaneira pela necessidade do momento e o varejo estará muito mais preparado do que sempre esteve para atender de forma virtual o shopper.

Eu nunca fiz minhas compras de supermercado virtualmente, comprava outras coisas, mas nunca as compras de alimentos, bebidas e produto de limpeza e higiene e beleza para a minha casa. E sabe por quê? Duas razões: 1 - eu amo ir ao supermercado, é um prazer e 2 – eu nunca acreditei que alguém escolheria as frutas e verduras com o cuidado que eu mesma tenho ao fazê-lo.

Eu estava enganada! Tive experiências excelentes e pude perceber que, além disso, eu estava gastando muito tempo com essa “tarefa” semanalmente e que eu tenho pouco tempo disponível. Então poderia fazer coisas nesse tempo que me trazem ainda mais prazer do que ir ao supermercado – ler, ver um filme, ligar para um amigo.

Não devo migrar 100% meu comportamento de compra para o online, mas certamente não terei a mesma frequência de visita ao supermercado que eu tinha – irei navegar entre os dois mundos!

Quanto às “novas formas de entretenimento” e o boom dos canais virtuais atuando nessa frente, Lives no Youtube, maratonas de Netflix, reuniões familiares e com amigos pelo Zoom. Esses comportamentos podem ser incorporados quando tudo voltar ao “normal”, mas não acredito que, nem de perto, da forma como se instaurou hoje. Isso porque somos seres sociais, precisamos do contato, precisamos interagir ao vivo e a cores, o abraço nos faz falta, o calor humano também. Essa privação tem sido uma das maiores fontes de ansiedade e angústia do isolamento.

Aqui existem duas vertentes que certamente terão pesos diferentes como incorporação ao comportamento pós COVID.

1 - Os “programas de entretenimento” em casa, como as LIVES por exemplo, devem entrar no hábito de muitos até porque não te priva da liberdade de ter uma vida de “lazer” que seja on e offline. Assim como vemos os jogos de futebol na TV e as vezes vamos ao estádio. Então, é uma forma com a qual já estamos confortáveis e vamos ter muito mais ofertas online a partir de agora.

2 – As formas de “se relacionar online”: aqui o cenário é diferente porque recorremos a alternativas como o “COVIDeo” para não sofrer a “CARENTEna”. O que estamos fazendo é maximizando o uso de recursos que um dia já usamos muito, como o telefone, hoje sob a forma de Facetime (que já era mais desenvolvido em outros países e no caso do Brasil, começamos a usar mais, porque é a forma que temos como ver nossXs queridXs). Neste caso, estamos enganando o estômago, porque no final do dia, queremos abraçar, beijar e brincar entre quatro paredes.

Enfim, tudo isso para dizer que até podemos tentar mapear quais novos comportamentos serão “permanentes”, mas nunca saberemos em que medida! Teremos que seguir monitorando e reagindo real time àquilo que nós, seres humanos, vamos privilegiar como forma de vida daqui para frente.

Mas que as coisas irão mudar, isso é fato. Vamos aprender com o que vivenciamos nesse período e incorporar muitos hábitos e comportamentos novos em nossas vidas, ressignificando os comportamentos anteriores.

Minha sugestão é sempre voltar às necessidades e motivações humanas e o quanto tais novos comportamentos agregam de relevância à vida de todos nós. Essa é uma alavanca importante para que esses sejam incorporados de agora em diante.

Raquel Albernaz

Nota: meus agradecimentos ao amigo Alain Enya que se disponibilizou a ler meu texto e me trazer algumas inspirações extras.

Angelita Ferraz

Co-founder & CEO at Ferraz Pesquisa de Mercado.

4 a

Que texto excelente Raquel! Parabéns! Tudo.que citou aqui é o que temos ouvido direto do consumidor!!!

Gabrielle Pimentel

Strategy, Human Insights, Manager

4 a

Perfeita reflexão!!! Escreve mais!!! You rock!!!

Malu Acedo

Account Director at Ipsos UU Brasil

4 a

Raquel Albernaz Adorei o texto e a forma humana e pessoal de refletir sobre o tema. Diante de tantas formas de quantificar uma situação inusitada, ler algo pessoal reenergiza. Achei muito interessante o ponto de vista sobre a nova realidade sobre um normal que nem era tão normal assim. A digitalização de todas as coisas....As relações pós pandemia: pessoais e profissionais. Temas de muitas reflexões. Compartilhe mais conosco. Muito bom.

Denise Bayeux

AARTEDAMARCA, Partner Co-Founder I PESQUISA DE MERCADO I PESQUISA DE OPINIÃO I ESTRATEGISTA DE COMUNICAÇÃO E MARCAS I BRANDING I WORKSHOPS DE MARCAS SUSTENTABILIDADE - ESG, VOLTADOS PARA COMUNICAÇÃO DE EMPRESAS E MARCAS

4 a

Concordo, precisamos social. Alguns novos hábitos serão incorporados, outros nem tanto...

Flavio Ferrari

✅ LinkedIn Top Voice (Business Innovation) - 2024 | Conselheiro Consultivo | Análise Estratégica de Cenários Futuros -Inovação, Comunicação e Aplicações de Inteligência Artificial (IA) | Apresentador e Palestrante

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Excelentes reflexões, Raquel. Oportunas e realistas. O ser humano é a medida de todas as coisas. Também acredito que a pandemia trará poucas mudanças além da aceleração do embarque das facilidades tecnológicas, mas terá provocado oportunidades de reflexão que inspirarão transformações futuras. E gostei do seu comentário sobre a “normalidade”. Falei sobre isso em um post no Descolapso, quando a expressão (que também não gosto) começou a ganhar espaço. O “normal” sempre nos acompanha. Parabéns!

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