Nossas inquietudes e o rato morto em Clarice
No silêncio da noite aparecem os pensamentos mais íntimos do nosso eu. Aqueles que muitas vezes não compartilhamos com outrem e ficam ali, quietinhos, esperando o surgimento de um silêncio ensurdecedor para aparecerem. São nossos medos e ansiedades que são criados em formas de questionamentos. Estas reflexões me conectaram bastante com o conto "Perdoando Deus" de Clarice Lispector.
Tem como figuração uma mulher que passeia pela Avenida de Copacabana, bem sucedida e que vive frequentemente em sua tranquilidade. Em seu redor, muitas belezas a cercam e por isso, ela acredita viver o amor solene e completo. No entanto, aqueles que conhecem um pouco da literatura de Clarice, sabem que a autora carrega em seus textos o desequilíbrio e a discordância do personagem para com o ambiente.
A mulher que anda por Copacabana pisa em um rato morto! Logo ela, que se achava digna do bem e não se achava digna de merecer isso. Questiona Deus, a figura cristã suprema, o todo poderoso "E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue" .
Por mais que estejamos nos esforçando, às vezes a vida insiste em permanecer difícil e nos confrontamos diariamente com o rato morto. Por que? Por que? Talvez a vida seja isso. Um eterno desconcertar-se. Ou como dizem por aí "O que não te mata te fortalece". Enfrentemos o rato morto.