Nossas raízes e a jornada de autoconfiança

Nossas raízes e a jornada de autoconfiança

Como uma continuidade do artigo anterior, hoje quero explorar não apenas os desafios, mas também as ferramentas e estratégias que podem empoderar as pessoas negras em suas jornadas profissionais e pessoais. Em minha experiência, não foi suficiente reconhecer que existiam barreiras: eu tive que construir formas e maneiras para ultrapassá-las e, assim, fazer com que minha voz fosse ouvida, que minha presença fosse necessária e minha pessoa fosse respeitada.

Seguindo os textos e contos de Ariano Suassuna, sou conhecido por ser uma pessoa “realista-esperançosa”. Eu explico: sou realista por ter consciência das dificuldades e obstáculos da vida, do passado e atuais, mas rejeito a ideia de dar ouvidos demais às pessoas pessimistas de plantão, que tentam minar minhas forças e que nada agregam na minha vida. Por outro lado, sou esperançoso porque gosto de celebrar cada conquista alcançada, por menor que seja, ter contato com pessoas positivas e valorizar as experiências diárias e os desafios superados.

Falando em ferramentas, um diário de realizações pode ser uma prática poderosa. Ao registrar seus sucessos, você estará não apenas criando um arquivo de conquistas, mas também gerando um lembrete constante em seu cérebro do valor único que você soma no mundo.

E aí você pode perguntar: mas e os fracassos, não devem ser considerados também? E a resposta é simples: claro que sim, mas sempre encarando esses fracassos como uma oportunidade de fazer diferente e melhor da próxima vez. E aqui cito uma frase do emblemático líder sul-africano Nelson Mandela:

"Eu nunca perco... ou eu ganho ou eu aprendo!"

Essa frase poderosa, vista pelo viés de pessoas não negras, pode parecer uma expressão de arrogância (sim, nós negros e negras quando nos auto afirmamos, geralmente, somos chamados de arrogantes...), mas ela é carregada de muito sentido para mim. Observe que Mandela não foi arrogante ao dizer “nunca perco”. Ele somente deixou de dar valor a um obstáculo (a derrota...) para valorizar o sucesso (que é a vitória) e o que de melhor ganhamos nas derrotas (o aprendizado).

Outra ferramenta bastante divulgada nos últimos tempos, as redes de apoio desempenham um papel crucial na trajetória de autovalorização. Ao se envolver em comunidades de suporte, seja por meio de grupos de mentoria, redes sociais ou coletivos de profissionais negros e negras, você não apenas encontra solidariedade, mas também a oportunidade de ser mentor e mentora. Esse ciclo de apoio é essencial, pois...

quando pessoas negras se apoiam mutuamente seus valores são ressaltados e todas se tornam mais fortes.

A habilidade da inteligência emocional nos capacita a identificar e lidar melhor com nossas emoções (sorry, Mr. Goleman, mas não gosto da expressão "gerenciar emoções"...), além de aumentar nossa chance de compreender as emoções alheias.

Como isso se aplica à sua carreira? Ser capaz de lidar com críticas e desafios com resiliência não apenas melhora a sua qualidade de vida, mas também destaca a sua capacidade de liderança em ambientes de trabalho que demandam por mais inclusão, por exemplo.

E o que dizer da tal representatividade? Ao compartilhar histórias de sucesso de pessoas negras em diversas áreas, mostramos que o sucesso é possível e acessível. Seja na política, na tecnologia, na arte ou nos negócios, cada história inspira outras pessoas a acreditar em si mesmas. Use suas plataformas para amplificar essas vozes.

Sua própria história pode ser a faísca que desencadeia a mudança na mentalidade de outra pessoa.

Devemos também trabalhar para ressignificar a narrativa sobre o que significa “merecer” algo. Ter sucesso não é um ato isolado de mérito individual; é também um resultado de luta e persistência em face das adversidades. O que você já enfrentou e conquistou é um testemunho de sua força. Reforce isso em sua mente e nas interações com as pessoas. Quando você fala de suas experiências, você valida sua jornada e a importância de sua voz.

A mensagem final que desejo deixar é: você não é apenas capaz, você é essencial!

Suas vivências e conquistas são fundamentais para a construção de um futuro mais justo e inclusivo. Não deixe que nada ofusque seu brilho, recuse-se a ser uma pessoa silenciada e lembre-se sempre: sua história é importante, suas lutas importam e suas raízes profundas te sustentam.


Abraços, fiquem bem!!!


Fotos: gettyimages.com

Eduardo Ambrozio

Recursos Humanos | Business Partner | Coordenador de RH | Consultor Interno de RH| DHO | Recrutamento e Seleção | R&S | Treinamento e Seleção | T&D

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Excelente reflexão! Como profissional atuando em RH há mais de 20 anos, observo que uns dos maiores atravessamentos para nós negros em espaços corporativos, estão relacionados à autoestima e segurança para nos colocarmos, expor nossos pontos e nossas críticas. Precisamos de autoconhecimento, coletivos negros como rede de apoio, mentoria, terapia, competência técnica e sobretudo, humanizar a relação com nós mesmos. Muito obrigado por tudo e por tanto!

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