Nosso Ensino Médio tem futuro?

Em setembro de 2018 tivemos a já esperada - nem por isso menos impactante – notícia de que o percentual de alunos das escolas públicas de ensino médio com aprendizagem adequada em português e matemática apresentava estagnação/tendência de queda. A grande novidade na divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) pelo governo federal foi a abrangência dos dados: pela primeira vez a Prova Brasil/Saeb, realizada no final de 2017, teve participação obrigatória de todos os alunos das escolas públicas de ensino médio do país.

Os resultados mostraram que ainda estamos longe de atingir níveis satisfatórios de qualidade educacional neste segmento da Educação Básica, do qual é esperado que os jovens saiam preparados para ingressar no mercado de trabalho ou, para os que já trabalham ao longo do curso, aptos a conquistar melhores posições e/ou a formalização de contratação nas empresas.

O maior desafio do ensino médio no Brasil ainda é o da aprendizagem. Por isso, precisamos urgentemente melhorar a estrutura e organização dos cursos deste segmento, a fim engajar os jovens e prepará-los para o mercado de trabalho. Algumas iniciativas e programas implantados nos últimos anos em escolas de ensino médio são dignos de nota e têm potencial de escala, merecendo nossa atenção. Abordarei dois deles.

No Modelo de Escola, criado pelo ICE (Instituto de Corresponsabilidade pela Educação), as escolas funcionam com professores e estudantes em tempo integral e carga horária de 45 horas durante os cinco dias da semana. Além das aulas de disciplinas já previstas no currículo há cursos que objetivam, de maneira articulada, apoiar a construção do Projeto de Vida dos estudantes por meio do aprendizado de competências e habilidades como estratégia para desenvolvimento do jovem autônomo, competente e solidário, e de temas variados, procurando ampliar a bagagem cultural e fortalecer o protagonismo juvenil. Esse programa está implantado em 338 escolas de ensino médio de Pernambuco e em 339 escolas da rede estadual de São Paulo (neste caso, implementado pela SEE-SP e uma rede de parceiros). Sua ampliação para outros 10 estados da União está em andamento, capitaneada pelo ICE com o apoio de outras instituições, como o Instituto Sonho Grande e o Instituto Natura.

A segunda iniciativa está em seu quinto ano de existência e propõe um modelo de interação pedagógica e de aprendizado baseados na perspectiva educacional canadense do Profound Learning. Trata-se da Escola SENAI “Shunji Nishimura”, localizada em Pompéia, interior de SP, que oferece o curso de ensino médio de três anos com currículo baseado apenas em projetos interdisciplinares, elaborados a partir das áreas do conhecimento e em conjunto pelos quinze professores contratados em tempo integral. Não há divisão por ano/série, e o grupo de alunos que ingressa junto na escola permanece o mesmo até o final do curso. É surpreendente o engajamento e a paixão pela aprendizagem dos jovens desta escola e os resultados alcançados no ENEM 2017 pela primeira turma de formados atingiram níveis bem mais elevados que os das escolas técnicas do SENAI. Todos os alunos ingressaram em universidades públicas.

Bons modelos não nos faltam, tampouco profissionais ávidos por implementar políticas públicas que garantam a quarta meta do Movimento Todos pela Educação para 2019-2022: “Todo aluno com Ensino Médio concluído até os 19 anos.”

Mônica S. Gouvêa é socióloga e psicóloga, Mestra em Educação pela Unicamp, diretora educacional da Magia de Ler - jornal Joca e consultora para a Educação Básica.