Nosso propósito é viralizar

Olá querido leitor,

A carta de hoje será uma reflexão um pouco diferente, ela não é sobre mercado de trabalho, mas tem relação com tendências, e principalmente será de grande interesse para àqueles que trabalham com redes sociais, além de outras pessoas que são consumidoras assíduas de ambientes digitais. O questionamento deste texto será a respeito da geração e época que vivenciamos, a qual o custo da nossa atenção é uma das moedas mais valiosas que existem. Qual o valor do seu like? 

Recentemente a Galeria Nacional de Londres foi alvo de um protesto promovido por duas jovens ativistas, elas jogaram uma lata de sopa de tomate em uma das obras mais conhecidas de Vicent van Gogh, Girassóis, exigindo que o governo britânico suspenda novos projetos de extração de petróleo e gás. Como se não bastasse, elas ainda passaram cola na mão e grudam na parede abaixo da obra.

Tenho certeza que parte do público achou essa ação louvável e digna de aplausos, no entanto uma parcela das pessoas começou a questionar qual era o fundamento desta ação, e se realmente ela tinha sentido ou se era apenas um ato de vandalismo. De fato as ativistas geraram o buzz que queriam, mas elas se destacaram mais pelo ato do que pela causa, se desconectando do propósito.

Um bom exemplo de protesto, para você leitor entender claramente a diferença de um ato  de vandalismo de um político, precisamos voltar para o século XVIII na França em 1798, neste ano houve um assalto popular à Bastilha, era uma antiga prisão do governo francês na época, e a queda da Bastilha foi a simbologia do povo contra o antigo regime francês e a opressão promovida contra os indivíduos na época. A insatisfação da população mais pobre era oriunda da crise econômica e social que o país vivia na época, anterior à essa revolta a burguesia e os camponeses sofreram por um período de seca e fome.

Esse protesto foi considerado um marco e deu início a uma das maiores revoluções da história, além disso culminou na execução do rei Luís XVI na guilhotina, que era outra simbologia de opressão e negligência à população fora do status de nobreza.

Em suma, o protesto precisa de um propósito e contexto, ele precisa representar em algum elemento a causa que está em voga, e no caso das ativistas do Museu, infelizmente não ocorreu desta forma. As ativistas optaram por realizar uma crítica ao governo inglês sem simbologia nenhuma, perdendo portanto a relevância da causa.

Acredito que essa atitude das jovens é um claro exemplo do pensamento da geração de agora, influenciadas pelas plataformas como Instagram e principalmente Tik Tok, onde todo produtor de conteúdo tem o potencial de viralizar independente do número de seguidores, os jovens da geração Z foram condicionados a oferecer um conteúdo que viraliza, mas não seja tão aprofundado, e não ocasione de fato uma reflexão ou aprendizado por parte do público.

Essa tendência é uma consequência da popularização das redes sociais, todas elas disputam seu tempo de atenção na plataforma, sem exceção: Instagram, Facebook, Tik Tok, Youtube, Twitter e Be Real. Independente do conteúdo é um conteúdo, ou seja, ele te prende na plataforma, e quanto mais posts tiverem mais interessante fica a plataforma, fazendo com que você permaneça muito tempo sem ao menos perceber isso.

O protesto não influenciou no aprendizado do público, a ação tomou uma proporção maior do que a causa, apesar de a geração Z ser mais preocupada com o consumo de marcas mais sustentáveis, ela falha a respeito dos estudos de causas e execução das críticas sociais.

Para concluir, esta carta é uma espécie de desabafo e ao mesmo tempo um pedido para que as pessoas se conscientizem de verdade, estudem, procurem informações, busquem um propósito que não seja apenas visualizações e likes.