A NOVA ORDEM MUNDIAL
Quando, a 2 de setembro de 1945, terminaram os seis longos anos em que decorreu a IIª Grande Guerra, não se ditou apenas o fim de um conflito bárbaro, sanguinário e avassalador.
Terminou também, e de forma definitiva, uma antiga ordem.
Durante séculos, quase desde a queda definitiva e formal do Império Romano do Ocidente, no longínquo ano de 554 d.C., formou-se uma ordem baseada em Estados soberanos, regidos por reis e imperadores de direito divino, que, herdando os princípios básicos do império extinto, fundamentalmente no domínio político e jurídico, criaram o que hoje chamamos de Europa e, e, com isso, da civilização moderna global.
Esta ordem, embora passando por profundas revoluções e incontáveis guerras, conflitos, querelas e convulsões, manteve o seu ordenamento básico durante quase 1400 anos, alicerçada no poder da nobreza, na influência do clero e na "pressão" da burguesia, relegando o povo para segundo plano.
Mesmo o parlamentarismo britânico, o iluminismo, a Revolução Francesa e o liberalismo não alteraram efetivamente essa ordem, mas apenas "redistribuíram" as relações de poder entre as várias classes e poderes distintos.
Só com a Iª Grande Guerra, entre 1914 e 1918, e, de forma definitiva, com a sua continuação entre 1939 e 1945 (porque, de facto, a IIª Grande Guerra não passou de uma continuação da primeira), é que a antiga ordem, velha de milénios, ruiu em definitivo.
Caíram os grandes impérios, reorganizaram-se as nações, alteraram-se os poderes, e as democracias baseadas no Estado de Direito impuseram-se, criando, agora sim, na parte ocidental da Europa, uma nova ordem.
Na parte leste do continente europeu, nascia os Estados Soviéticos, baseados na ideologia marxista, absorvendo grande parte do Leste europeu.
Embora completamente distintas entre si, ambas eram, de facto e na essência, novas ordens que se opunham à antiga, definitivamente morta e "enterrada".
Para "sustentar" esta nova ordem, baseada "no povo, pelo povo", nasceu uma nova classe de políticos e um novo modo de fazer política.
Os políticos provinham das classes trabalhadoras ou da burguesia e precisavam de manter o povo satisfeito e cativado para se fazerem eleger (no Ocidente) ou assegurar a sua manutenção no poder (no Leste).
O poder baseava-se, agora, na manutenção da coesão social, através de um conjunto de crenças (liberais, socialistas, marxistas, etc.) partilhadas pelo povo soberano.
Foi à volta deste conceito que a nova ordem e o "novo mundo" se estruturaram.
De alguma forma, criou-se um equilíbrio com a oposição entre os dois grandes blocos, o Ocidental, liderado pelos Estados Unidos e pela Europa Ocidental (nomeadamente o Reino Unido), e a União Soviética a Leste, que, de uma forma ou de outra, mantinham alguma ordem e conferiam previsibilidade ao contexto político, social, económico e militar mundial.
A bipolarização entre os blocos ocidentais e soviéticos e a "Guerra Fria", embora tenham causado grandes convulsões, injustiças e tensões, acabou por manter uma estabilidade, sustentada pela dissuasão mútua, e garantiu alguma paz, prosperidade e grande desenvolvimento no contexto global.
O próprio conflito ideológico promoveu grandes avanços tecnológicos, culturais, desportivos, entre tantos outros.
Contudo, o desenvolvimento e progresso gerado pela nova ordem pós-guerra, sem que nos apercebêssemos, provocou também grandes alterações no tempo necessário para as mudanças e na forma como a sociedade se relaciona com esse tempo.
Desta forma, as "ordens" sociopolíticas, que antes se mantinham por séculos, passaram a ser sujeitas a pressões nunca antes vistas, devido aos novos modos de comunicação, à globalização potenciada pela internet, pelos órgãos de comunicação social e pelo crescimento do nível de cultura e escolaridade dos povos.
Foi assim que o enorme colosso que era o Bloco Soviético, que todos acreditávamos ser quase eterno, tanto era o seu poder militar, nuclear, industrial e político, ruiu como um castelo de cartas.
O Ocidente proclamou vitória, esquecendo-se de que os tempos mudaram e que a "nova ordem" já acumulava anos, desgaste e inadequação.
Tanto a Europa como os Estados Unidos da América não perceberam, ou não quiseram perceber, que, com a queda da União Soviética e do Bloco de Leste, se abria espaço para uma nova ordem e não para a continuidade hegemónica da ordem instituída.
Inocente, ignorante e incauto, o "Bloco Ocidental" achou que, sem a oposição do Leste, era o dono e senhor absoluto da geopolítica mundial, impondo-se nos mercados, regulando, oprimindo e ditando regras como se fosse dono do mundo, alheio à realidade do que, de facto, se passava na "vida real".
E, na "vida real", os indivíduos, agora conectados, unidos e globalizados, seguiam quase indiferentes ao que os seus dirigentes ditavam, imaginavam e julgavam que impunham.
Uma sociedade que vive a um ritmo acelerado, sem o conceito de fronteiras e barreiras, alheada das ideologias e dos princípios filosóficos, indiferente e descrente na política e nos seus agentes; uma sociedade mais egoísta e egocêntrica, sem sentido de pertença cultural ou patriótica; uma sociedade centrada, não mais no grupo, mas no indivíduo, globalizada no seu modo de funcionamento, mas egocêntrica na forma como se assume, pensa e atua.
Essa sociedade vive também num mundo completamente diferente.
Um mundo que não se estrutura apenas na velha Europa e nos seus milenares países, mas num mundo onde emergem várias potências, desde a América Latina à África, onde já não há ascendências culturais e ideológicas, mas apenas competitividade económica, tecnológica e produtiva.
Já não há colónias e colonizadores, mas, sim, capacidade de inovação e regressão, progresso e estagnação, desenvolvimento e apatia.
Enquanto as antigas potências se iludem, acreditando que ainda são "reis e senhores", as antigas colónias e subjugados lançam-se numa vingança fria, tardia, mas eficaz, dominando através da inovação, do progresso e de uma nova e assertiva visão do futuro.
Por isso, países como a Índia, Brasil, África do Sul, muitos países africanos e, claro, a China, constituem já potências incontornáveis em todos os domínios da geopolítica global e ameaçam, até, dominar essa mesma geopolítica.
Com uma nova mentalidade, novas estruturas e uma nova visão, apostados em orientar-se para a conquista do futuro, quase certamente serão os criadores, impulsionadores e "senhores" de uma nova era.
Uma nova era para a qual esses países "emergentes" estão a criar uma nova mentalidade, novas competências, novos saberes, novos mecanismos, novos sistemas, uma nova economia e, claro, estão a apostar cada vez mais na educação e formação de indivíduos capazes de implementar e sustentar essa nova ordem.
Enquanto isso, o Ocidente, especialmente os Estados Unidos e a União Europeia, continuam "cheios de si mesmos", ainda a saborear uma vitória que não conquistaram e num ascendente que já não possuem.
No Ocidente, tenta-se, artificialmente, manter o "status quo", com os mesmos de sempre a fazer o mesmo de sempre, esperando conseguir resultados diferentes.
Ano após ano, de crise em crise, de falhanço em falhanço, a teimosia, a cobardia e, fundamentalmente, o medo da mudança paralisam as instituições ocidentais, ao ponto de serem ignoradas, ultrapassadas e desobedecidas pelo próprio povo que as sustenta.
Os mais recentes movimentos populistas e extremistas que, eleição após eleição, conquistam o poder por todo o Ocidente, os movimentos antissistema, a crescente radicalização dos grupos e das causas, o desrespeito pela Lei e pela autoridade, que, cada vez mais, "enchem" os nossos telejornais, são a prova irrefutável de que o Ocidente precisa de aceitar que aquilo em que acredita e que proclama já não existe.
A renovação da mentalidade e do sistema, a mudança do modo de ser e estar em política, a criação de uma nova geração de agentes políticos, com novos conhecimentos, novas competências e novos métodos de ação, deixou de ser uma necessidade para se tornar um imperativo, se o Ocidente quiser manter alguma estabilidade, influência e ascendente no contexto global.
Se essa mudança não acontecer rapidamente e com elevada eficiência, as ordens inverter-se-ão, a capacidade de influência e os centros de decisão alterar-se-ão completamente, e o Ocidente passará de dominador a dominado, de senhor a vassalo, tudo isto sem recursos próprios, sem mão de obra suficiente, com uma população envelhecida, acomodada e iludida.
O Ocidente, especialmente a Europa, está a viver um daqueles momentos na história que influenciará, de forma definitiva, o seu futuro e até a sua continuidade.
Se quiser manter-se, terá de agir imediatamente, com firmeza, inteligência e astúcia.
Caso contrário, verá que lhe sucederá o que já aconteceu a tantos outros impérios: o eterno, afinal, tem fim; o invencível, afinal, é derrotado; tudo passa, e, num futuro próximo, os senhores de hoje serão meras notas de rodapé nos livros de história que relatarão um passado estúpido, inconsequente e arrogante.
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1 semO presidente Putin questiona a legitimidade do Zelensk, vale ressaltar que ele, suspendeu a eleição e mandou prender o presidente da Corte Constitucional e Supremo Tribunal de Justiça da Ucrânia. Esclareço que há 70 mil presos políticos na Ucrânia de Zelensk
Trade Exportador
3 semO bravateiro cor de laranja, (Trump) é o ultimo respiro da supremacia branca no mundo.... está com medo do poder do BRICS e da união do Sul Global
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3 semTotalmente de acordo mas não existe na Europa um líder como já tivemos. São todos políticos calculistas com um horizonte visual de 4 anos, que diminui 1 ano a cada ano que falta para as próximas eleições sem importar o que passe dentro de 10 anos. Já dizia o Mário Soares, feio, feio é perder. A nossa democracia e tolerância é o que nos vai matar e está a fazê-lo.
Dizer que Ocidente (eventualmente) se poderá tornar irrelevante, parece-me arriscado. Para já, muitas forças alternativas tentam derrubar o modelo ocidental (democracia, liberdade, etc.) mas, nem sequer no ámbito económico, são superiores de maneira evidente. Serão? possivelmente sim, mas nem tudo é macroeconomia.
Absolutamente de acordo, apenas com duas ressalvas:1) os lideres ocidentais já perceberam quais são realmente os verdadeiros desafios? 2) ainda vamos a tempo de recuperar e assumir um papel relevante na geopolitica mundial?