Novos Caminhos

Novos Caminhos

Se com o tempo cresce em nós a serenidade de escolhas e de aberturas para o novo, então nos é lícito caminhar criando novos momentos que fiquem como boas raízes de lembranças para o sempre, suavizando a dor das buscas, aliviando a jornada e permitindo a comunhão em novos caminhos. (PP)

Quando chegamos a uma certa idade (eu com 60), e com certo tempo para repensar um pouco a vida (mês do inferno astral para os que acreditam), o resultado é um choque com a realidade. No meu caso, realmente eu não tinha a menor noção de que estou ficando velho. O fato de ser ativo fisicamente, procurando também estudar sempre assuntos novos e diversificados, de me vestir de forma jovem (por vezes mais na moda e moderninho que meu filho), estar separado e ter bons relacionamentos fez com que o tempo não fosse, ao menos aos meus olhos, percebido em seus detalhes e nas minhas atitudes.

Devo ter vivido de forma intensa uma vez que não sinto a marca do tempo, e posso garantir que minha vida foi bem normal como a grande maioria dos mortais. Alguns bons momentos, problemas, decepções, muita luta, algumas vitórias e derrotas, poucos e bons amigos, filhos excepcionais e uma família que eu não trocaria por nada. Mas - com certeza - poderíamos exercer alguns ajustes visando relações mais próximas e amigas.

Se neste momento de balanço e novos caminhos assistirmos a um filme rápido da vida, fica evidente que algumas correções seriam bem-vindas e necessárias. Começarei pela derrubada de mitos e sonhos, como: ter a vida ideal, ser uma pessoa extremamente bem-sucedida, ter uma família perfeita, ter o trabalho perfeito, ter a companheira perfeita e outras perfeições próprias da imaturidade. A constatação é que a vida não é perfeita, nem todos os sonhos são realizáveis e isso é que faz da vida uma extraordinária experiência.

Os 60 anos passaram rápidos demais, o que leva a uma indagação. Rápido porque foi bom? Por que se viveu de forma intensa? Rápido porque envelhecemos sem perceber todos os detalhes das mudanças? Quando jovem, a vida tem uma dimensão do tempo diferente, a de se ainda ter muito tempo para viver. Com o passar dos anos aprendemos a valorizar mais os momentos, sentindo a corrida do relógio da vida. Os meus pensamentos não me remetem a querer voltar no tempo nem a viver de novo o passado. O sentimento que fica mais evidente é o de querer fazer coisas novas, trilhar por novos caminhos, sentir novas emoções, aprendendo a respeitar o tempo e sua perfeita sincronização com a nossa existência.

Estes novos caminhos precedem momentos de adaptação para uma aceitação onde - ora estamos bem sozinhos, lendo um bom livro, ouvido musica, contemplando o tempo e ora não – somos tomados por uma inquietação profunda e sufocante na busca da agitação perdida, da pessoa amada, do momento magico, onde tudo conspira para registrar - como numa foto perfeita - o momento idealizado.

Pedalar, nadar e andar de moto faz com que eu tenha um sentimento jovem e com uma visão ativa da vida. Isso é positivo e necessário para prolongar ao máximo nossa existência, mas sem perder a noção da realidade. Vamos envelhecer, vamos reduzir nossa capacidade física e intelectual, vamos precisar de ajuda e, por fim, vamos morrer. Logo, o grande lance é saber como ocupar este tempo da melhor forma possível e sem se desconectar da realidade. (PP)

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