"O ótimo é inimigo do bom".
De acordo com o Art. 196 da Constituição Federal de 1988, “A saúde é direito de todos e dever do Estado”. E assim criou-se com uma canetada o sistema público de saúde.
Esse sistema teria os seguintes pilares: Universalidade, Equidade, Integralidade, Regionalização e hierarquização, Resolubilidade, Descentralização, Participação dos cidadãos e Complementariedade do setor privado.
Passado pouco mais de trinta anos, o que podemos dizer do balzaquiano sistema?
Para evitar o textão e não me acusarem de oligofrenicofóbico, dada a cognição das gerações mais atuais, solto algumas perguntas abaixo, para reflexão.:
- Existe algum político que não tenha um convênio médico? Ou até melhor: Existe alguma pessoa que possuindo recursos para pagar um convênio médico, opte por usufruir da saúde pública no Brasil?
-O dinheiro utilizado para a saúde pública, vem de onde?
Creio que pelas suas respostas você pôde concluir que você paga, através de impostos, por um serviço que não consegue usufruir por não funcionar adequadamente., e quando possível paga uma segunda vez para a esfera privada tentar suprir a ineficácia da esfera pública. Correto? Pois bem. Ainda é pior.
Através do dinheiro recolhido dos seus impostos, as três esferas do poder público, que legislam, executam e julgam as ações referentes a saúde pública, pagam convênios médicos para eles mesmos.
Desta forma, usando o raciocínio cartesiano, concluímos que os gestores da saúde pública sabem da sua ineficácia. Certo? Alguma dúvida até aqui?
Até então temos o seguinte: Existe um sistema de saúde gerido pelo estado que tem a obrigação constitucional de atender a todos, de forma integral, existem gestores públicos responsáveis por isto e, quem tem recursos opta pela saúde privada e os gestores do sistema de saúde pública, enquanto indivíduos, também optam pelo sistema de saúde privada. Pagamos duas vezes a mesma despesa, sob pena de morte.
Já dissequei em outros artigos os motivos do nosso sistema de saúde pública não funcionar, a despeito das maravilhosas estatísticas apresentadas pelos diversos governos, mas basicamente a ineficiência da atenção primária gera um efeito cascata em todos os níveis de atenção. O médico generalista, na linha de frente, tem de ser capacitado para resolver a maior parte dos problemas e a maior parte das situações de urgência- não o é, tem de receber uma excelente remuneração para poder ter apenas um emprego e poder dedicar-se plenamente a ele- não recebe. Sem contar a criminosa falta de recursos, a ausência do prontuário eletrônico nacional ( ridiculamente fácil de ser implementadas do ponto de vista técnico) as videoconferências para consultas especializadas, etc.
A exemplo de outros países, as visitas aos serviços de urgência/emergência, tem de ser cobradas, mesmo que por valor simbólico, mas é imperativo que o seja. Com vinte anos de formado, boa parte em serviços públicos, afirmo que a maior parte do atendimento não se encaixa em situações de urgência/emergência.
De boas intenções o inferno está cheio
As intenções e os princípios do nosso sistema público de saúde são inegavelmente excepcionais, mas está na hora, passados trinta anos de caos e ineficiência, de assumirmos que o ótimo é inimigo do bom. Ofereçamos uma saúde de boa qualidade para todos nós, enquanto população, e busquemos a excelência, como de fato, uma nação. Tentemos oferecer a excelência per se, sem o lastro de ações, e naufraguemos antes de partirmos, como o fizemos.
Não concorda comigo? Cancele seu plano de saúde.
Texto: André Luis Alves DeLemos.
Médico.
Médica Acupuntura
4 aParabéns pelo artigo Andre !
Psicóloga Institucional e Clínica *Experiência de 21 anos no Terceiro Setor *Acolher *Treinamentos, Projetos Sociais, Palestras e Consultorias
5 aShow! Totalmente bem dito!