O 5G e o gênio da garrafa

O Brasil comemora os resultados do recente leilão do 5G promovido pela Anatel e espera, ansioso, as promessas de uma revolução tecnológica que transformará a sociedade.

Um exemplo surpreendente dessa expectativa aconteceu comigo ao final do primeiro dia do leilão, noite de 04/11. Minha tia, uma antenada senhora de 97 anos, ligou pedindo explicações sobre o que era esse tal de 5G, para o que servirá e como ela poderá utilizar.

Como responder sem frustrar suas esperanças?

Fato é que as empresas darão início ao esforço de implantar nova infraestrutura, investindo bilhões nos próximos anos, enquanto fabricantes se mobilizarão para dar conta das encomendas. Será um trabalho árduo de um batalhão de engenheiros e técnicos.

Para que a minha tia possa experimentar essa modernidade, outros atores, no entanto, precisarão se mobilizar.

Primeiramente, há que se considerar que smartphones 5G são mais caros, o que afastará parcela significativa de brasileiros à tecnologia.

Recentemente, milhões de estudantes não puderam acompanhar o ensino à distância por falta de smartphones adequados para 3G e 4G. Esse abismo tende a se aprofundar.

Indo além, 5G exigirá de 5 a 10 vezes mais antenas que as atuais e sua instalação dependerá de autorizações municipais que hoje levam meses (ou anos!) para serem concedidas.

Prefeitos precisarão decidir entre promover a inovação, dinamizar a economia local, criar empregos e viabilizar Smart Cities ou se ficarão no passado, brigando por taxas de instalação e criando barreiras desnecessárias.

Por fim, mas não menos importante, Estados precisarão reduzir o apetite arrecadatório se, de fato, estiverem comprometidos com essa revolução tecnológica. Não é possível viabilizar conectividade IoT -estamos falando de milhões ou bilhões de dispositivos- com os percentuais de ICMS atuais ou mesmo com os 17% recém definidos pelo STF.

Se não ultrapassarmos essas barreiras, estamos fadados a manter o gênio da inovação dentro da garrafa.