O 8° desperdício em crescente necessidade
Jackson Linhares

O 8° desperdício em crescente necessidade

“Custos não existem para serem calculados. Custos existem para serem reduzidos.”  Taiichi Ohno

A filosofia Lean, com foco na eliminação de desperdícios e na maximização do valor para o cliente, identifica Sete tipos de desperdícios que podem ocorrer em um processo produtivo. É amplamente adotada em diversas indústrias, centrada na eliminação de desperdícios e na maximização do valor entregue ao cliente. Esse enfoque visa não apenas a redução de custos, mas também o aprimoramento contínuo dos processos, o aumento da eficiência operacional e a entrega de produtos e serviços de maior qualidade. Dentro desse contexto, o Lean identifica sete tipos de desperdícios (ou "mudas", como são chamados no japonês), que podem ocorrer em qualquer processo produtivo. São eles: superprodução, espera, transporte, excesso de processamento, inventário, movimento e defeitos.. A compreensão e a eliminação desses desperdícios são cruciais para a otimização de processos e o aumento da eficiência.

Vamos traduzir esses "desperdícios" para uma linguagem mais simples e atual:

Os 7 Desperdícios Lean

1. Produzir Demais: Fazer mais do que precisa

Imagine uma fábrica de roupas que produz um monte de camisetas, mesmo sabendo que não vai vender todas. É como cozinhar um banquete para duas pessoas!

2. Esperar na Fila: Tempo Perdido

Já ficou esperando na fila do banco ou do supermercado? Esse tempo parado é um desperdício. Na indústria, isso acontece quando um produto fica esperando para ser processado.

3. Transportar Sem Necessidade: Ida e Volta Inútil

Carregar caixas de um lado para o outro sem motivo é como fazer uma viagem longa sem destino. Todo esse movimento gasta tempo e energia.

4. Fazer Mais do Que Precisa: Trabalho Desnecessário

É como passar horas editando uma foto que já está boa. Fazer coisas extras que não agregam valor ao produto final é um desperdício.

5. Ter Muito Estoque: Acumular Coisas

Guardar um monte de produtos que ninguém vai comprar é como ter um armário cheio de roupas que você nunca usa. O estoque ocupa espaço e pode ficar obsoleto.

6. Se Mexer Demais: Movimentos Inúteis

Imagine ter que se levantar da cadeira várias vezes para pegar um lápis. Esses movimentos desnecessários fazem você perder tempo e podem causar fadiga.

7. Fazer Coisas Erradas: Refazer Tudo

Quando um produto sai com defeito, é preciso refazê-lo. Isso gera retrabalho e desperdício de material.

O surgimento dos 7 e o por que da concentração nos três primeiros?

A definição dos 7 desperdícios, como conhecemos hoje, é fruto de um processo evolutivo dentro da Toyota. Na época em que Taiichi Ohno e seus colegas estavam desenvolvendo o Sistema Toyota de Produção (STP), a ênfase era em eliminar desperdícios mais visíveis e tangíveis, relacionados diretamente à produção.

Embora todos os oito desperdícios (falaremos do 8° logo adiante) sejam importantes, é comum que as empresas se concentrem inicialmente nos três primeiros (superprodução, espera e transporte) por alguns motivos:

  • Visibilidade: Esses desperdícios são mais facilmente identificáveis visualmente em um ambiente de produção, como pilhas de produtos acabados, máquinas paradas e movimentação constante de materiais.
  • Impacto financeiro: A superprodução e o excesso de estoque gera custos de armazenamento, enquanto o transporte aumenta os custos logísticos. A redução desses desperdícios costuma gerar um retorno sobre o investimento mais rápido.
  • Interconexão: Os três primeiros desperdícios estão frequentemente interligados. Por exemplo, a superprodução leva ao excesso de estoque, que por sua vez aumenta a necessidade de transporte. Ao atacar esses desperdícios, outros podem ser automaticamente reduzidos.

É importante ressaltar que os outros cinco desperdícios também são cruciais para a otimização de processos e devem ser considerados em uma abordagem Lean mais abrangente.

Por que considerar todos os 8 desperdícios?

  • Otimização completa: Ao abordar todos os desperdícios, é possível alcançar uma otimização mais completa dos processos, maximizando a eficiência e a qualidade.
  • Prevenção de problemas: A identificação e eliminação de desperdícios como defeitos e habilidades não utilizadas podem prevenir problemas futuros e garantir a sustentabilidade do negócio.
  • Melhoria contínua: A busca pela eliminação de todos os desperdícios promove uma cultura de melhoria contínua, incentivando a inovação e a busca por soluções mais eficientes.

O polêmico e muito discutido 8° Desperdício - Talento Desperdiçado.

Tenho que tocar na ferida, precisamos falar sobre o caçula e  8º desperdício, o talento desperdiçado. É uma adição recente à lista tradicional de desperdícios Lean, mas que tem ganhado cada vez mais relevância. Ele se refere à subutilização das habilidades e conhecimentos dos colaboradores.

Mas por que o 8º Desperdício é tão contestado por alguns?

A inclusão do 8º desperdício, o talento desperdiçado, como um elemento fundamental da metodologia Lean tem sido objeto de debates e divergências. Alguns  questionam a necessidade de adicionar esse elemento à lista original, argumentando os seguintes pontos:

  • Subjetividade: Ao contrário dos outros 7 desperdícios, que são mais facilmente quantificáveis (como tempo, material ou dinheiro), o talento desperdiçado é um conceito mais subjetivo e difícil de medir.
  • Foco na produção: Alguns entendem que o Lean se concentra principalmente na otimização dos processos produtivos e na redução de custos, e que o desenvolvimento de pessoas, embora importante, seria um aspecto mais ligado à gestão de pessoas do que à produção em si.
  • Dificuldade de implementação: Identificar e medir o talento desperdiçado em uma organização pode ser complexo e exigir ferramentas e metodologias específicas.

No entanto, os defensores do 8º desperdício argumentam que:

  • Pessoas como motor da mudança: As pessoas são o principal motor de qualquer transformação, e investir em seu desenvolvimento é fundamental para alcançar a excelência operacional.
  • Interconexão: O talento desperdiçado está intrinsecamente ligado a outros desperdícios, como a falta de comunicação, o excesso de processos e a falta de autonomia.
  • Sustentabilidade: Um sistema Lean que não considera o desenvolvimento das pessoas não é sustentável a longo prazo.

Em resumo, a discussão em torno do 8º desperdício reflete a evolução da metodologia Lean e a crescente compreensão de que a otimização de processos não pode se dissociar do desenvolvimento das pessoas. A inclusão do talento desperdiçado como um desperdício a ser combatido demonstra a importância de se considerar os aspectos humanos da gestão empresarial.

Para superar essas resistências e implementar práticas que valorizem o talento, é fundamental:

  • Demonstrar o ROI: Quantificar o impacto do investimento em desenvolvimento de pessoas nos resultados da empresa.
  • Comunicar a importância: Mostrar como o desenvolvimento de talentos está alinhado com os objetivos estratégicos da organização.
  • Envolver os líderes: Os líderes precisam estar engajados e comprometidos com o desenvolvimento de suas equipes.
  • Oferecer ferramentas e recursos: As empresas precisam fornecer as ferramentas e os recursos necessários para que os colaboradores possam desenvolver suas habilidades.

A implementação de uma estratégia Lean bem-sucedida requer uma visão holística que vá além dos desperdícios mais evidentes. Embora a concentração inicial nos três primeiros desperdícios — superprodução, esperas e transporte — seja um passo importante, focar apenas neles limita o potencial de melhoria contínua. Para maximizar a eficiência e a competitividade, é essencial que as organizações identifiquem e eliminem todos os oito desperdícios, promovendo uma cultura de melhoria contínua e engajamento das equipes. Somente assim será possível alcançar a verdadeira excelência operacional, com processos ágeis, eficientes e sustentáveis.

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