O alto desempenho zera todos os dias.

O alto desempenho zera todos os dias.

Alta performance é importante? Ninguém discorda disso. É suficiente para caracterizar um legado? Claro que não.

Há poucos dias, em uma primorosa apresentação, Edson Mackeenzy fez a seguinte provocação sobre alta performance:

"Alta Performance é estar acima da média de maneira consistente e a longo prazo."

Segundos de silêncio total...

Um dos participantes, então, fez a ele uma pergunta simples: - Mack, mas o que define esta média?" E a resposta veio certeira: "a média é a SUA média."

A resposta de Mack foi libertadora. Porque chancela o que sempre pensei sobre o absurdo da concorrência. Pode parecer paradoxal alguém forjado no competitivo ecossistema comercial mover o pêndolo do tema, mas vamos pensar juntos.

Afinal, o que é concorrência?

Concorrer, como caminho para aprendizado, diz respeito a sermos melhores HOJE do que nós fomos ONTEM. E ponto.

Nunca acreditei no que entendemos pela clássica concorrência, ao estilo Gladiadores, onde para que alguém ganhe, outro tem que ser esmagado. Além de surreal, vai contra os princípios colaborativos da própria natureza.

Os animais só aniquilam uns aos outros para matar a fome (fisiológica) e não por qualquer outro motivo. Noves fora, quando forçamos a barra, em nome de "aspectos culturais", pra variar, colocando indefesos em situações que contrariam sua própria natureza.

Quem já viu uma briga de galos? Se já presenciou, mesmo em filme, sabe do que estou falando. Os bichos são adestrados no terror, desde a fase em que são frangos, Confinados, tem as penas da cabeça arrancadas, passam fome. Tudo para extrair do animal seus piores instintos, no momento em que se vê diante de um opositor.

Veja o riso, de orelha a orelha de Lewis Hamilton, heptacampeão, em entrevista antes do Grande Prêmio de F1 da Hungria de 2023, após um longo inverno sem uma pole position. O não verbal faz jus às suas palavras. Absolutamente feliz, por ter superado a si mesmo, feliz por ter tido o apoio necessário da equipe e mencionando respeitosamente seus adversários.

São ADVERSÁRIOS, não são inimigos. E se respeitam.

Nosso maior desafio é dominarmos nossos monstros buscando insistentemente o autoconhecimento, por meio do aprendizado coletivo. Mesmo nos esportes mais competitivos, o individualismo e a soberba soam até meio infantis.

Ainda em dúvida sobre isso?

Na casa dos setenta anos, depois de muito baterem cabeça ao longo da vida, Arnold Schwarzenegger e Silvester Stallone trabalham juntos. Afirmam publicamente que terem concorrido um contra o outro por anos, fez com que buscassem tirar o melhor de si mesmos todos os dias.   

Qual o grande inimigo da alta performance?

Não é uma resposta fácil e o risco de ser raso é enorme. Porque dá para listar uma série de comportamentos que nos desviam do rumo da alta performance. Mas a correlação entre arrogância e prepotência, pode ser um bom começo.

E, embora essas duas palavrinhas sejam comumente confundidas como sendo a mesma coisa, não são. Do latin ADROGARE, arrogância é algo como um ser exigir do mundo o reconhecimento que acredita que mereça, embora o mundo diga o contrário. A prepotência também vem do latim PREAPOTENS e diz respeito à pessoa espaçosa e que se julga superior às demais e, portanto, com direito a sala VIP e tapete vermelho. E entende claramente que as regras impostas aos meros mortais não contam. 

ADROGARE e PREAPOTENS juntas, conferem fina camada de açúcar cristal sobre a tênue seda que separa a alta performance, que antecede o desastre. É a dança sob o gelo fino, a casca de banana na escada lisa.

Porque pessoas de alta performance andam no limite. E o que define jogo, neste terreno, é a atitude e o propósito de cada um.

Como assim?

Empatia, humildade, serenidade e gratidão, apesar de serem o quarteto fantástico da alta performance de longo prazo, são comportamentos bastante antagônicos aos eufóricos por status e reconhecimento. Para manter um posto por muito tempo, é preciso nutrir as sinapses de sua rede de segurança. Do contrário, a natureza, conectada e coletiva, não aceita desaforo.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

O escritor Aldous Huxley sabiamente defendeu que os fins não podem justificar os meios, porque os meios usados determinam a natureza do fim que é alcançado – de novo, a agenda e o propósito.

Para finalizar, uma reflexão sobre a soberba e com números.

Um caso interessante sobre autoconhecimento e de como percebemos nossas próprias atitudes:

No final dos anos 80, o psicólogo e pesquisador inglês James Reason estudou uma amostra com 520 motoristas britânicos multados por cometerem diversas infrações. Desejava entender o que os teriam levado a cometer tantas falhas no trânsito.

A pesquisa considerou, além da avaliação das diversas violações cometidas, o pré requisito de que cada motorista auto avaliasse suas habilidades, quando comparados aos demais.

Reason mirou no que viu e acertou no que não viu.

Apenas 1% dos participantes da pesquisa se consideram, na média, confessos piores motoristas do que os demais. Mesmo os que notadamente foram avaliados como motoristas muito ruins, estavam longe de perceber e assumir suas falhas.

Ou seja, Reason provou que a soberba e o excesso de confiança podem levar a riscos enormes. Para os que se acham os “Lewis Hamiltons” das ruas e para quem passa próximo a eles.

Recentemente, a meta análise de Ethan Zell, professor de psicologia da Universidade da Carolina do Norte [Greensboro/EUA], engrossou o côro sobre o tema de Reason:

"As evidências são muito fortes. Basicamente, pessoas pesquisadas ao longo do tempo acham que nunca falham. Se você der às pessoas um questionário em que elas devem se avaliar em relação à média, quase todas pensam que estão acima da média em quase tudo."

Reason e Zell mostram nossa triste realidade sobre ADROGARE e PREAPOTENS. A soberba é uma normose de dar pena.  E não existe alta performance que resista a corpos deixados pelo caminho.

Repito: a natureza não aceita desaforo dos soberbos.

Quer ser alta performance de longo prazo? Tenha uma agenda inclusiva, de bons propósitos e trabalhe um legado que possa ser aplaudido e não temido. E não esqueça:

Seja justo, resiliente e nutriente em relação à sua rede de segurança. Jamais morda a mão que te alimentou um dia.

Do contrário, uma hora, a conta vem.

Luiz Tibiriçá

Inovação & Growth Hacking | CEO Kronedesign | Diretor de Educação Nacional AnaMid | Mentor BOLD Bristol Myers Squibb / Embaixador Lendários Baixada Santista ♾️+9 / Membro AI Brasil.AI

1 a

Artigo completíssimo Parabéns Daniel Souza obrigado por compartilhar

Excelente artigo! Parabéns!

Fernando Barros

Consultoria em Acesso Público / Privado, Treinamento e Assessoria Comercial

1 a

Excelente Daniel

Antonio Soares

Executive Sales Director- Market Access & Government Affairs - Institutional , Oncology & Specialties

1 a

Excelente reflexão Daniel Souza!

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