O Anel de Giges
O anel de Giges – reflexão sobre a ética atual.
(Poder, traição, politica, justiça, direito, filosofia)
A ética é um tema muito importante para todas as áreas do conhecimento e desenvolvimento humano. O estudo da ética na sociedade foca no capital humano, seus comportamentos, suas necessidades e contribuições estratégicas para todos os ambientes coletivos, que incluem as empresas.
O Filosofo Platão (428 a.C - 348 a.C.) relata no capítulo II da obra A Republica, que Gláucon (personagem da obra) em uma discussão com o Filosofo Sócrates, conta a história de Giges (grego=γίγες) que era um pastor de ovelhas a serviço do rei Candaules da Lídia. O dilema ético vivido por Giges é atemporal, muitos viveram antes deles, e depois dele continuamos enfrentando situações que colocam a prova nossa capacidade de resposta moral, sejam no âmbito coletivo, que inclui o ambiente corporativo ou particular no nosso dia a dia com indivíduo.
Importante ressaltar que a ética se preocupa com o binômio “liberdade de escolha - moral”, que que englobam questões da vida humana e se resolve com o uso da consciência para a tomada de decisões finais. A ética procura responder a questões como: Por que deve cumprir as leis? Por que devo ter empatia? Por que devo ajudar o próximo? Por que ser honesto? Por que não se deve dirigir bêbado? Em que consiste minha responsabilidade profissional? Entre outras coisas.
A história do Anel de Giges nos faz refletir sobre questões relacionadas a ética e a moralidade. Por que devo ser bom? Temos uma natureza boa, pelo simples fato de sermos bons? Ou somos bons por razões egoístas? Pela própria conveniência? Nossa bondade então é feita por interesses, condicionada as recompensas? Estas são questões básicas colocadas em pauta para reflexão, e que estão incluídas no nosso dia a dia.
Resumindo a história: Giges, um homem simples e honesto estava cuidando de suas ovelhas quando um súbito terremoto expôs uma tumba subterrânea. Ao descer, ele encontrou um cavalo oco de bronze contendo um cadáver gigante, o corpo todo nu exceto por um anel de ouro no dedo, que ele tirou e guardou. Um pouco mais tarde, durante uma reunião dos pastores ele descobriu (esfregando e virando o anel) que o anel tinha o poder de torna-lo invisível. Nesta reunião ele convence os demais pastores e é escolhido como mensageiro para informar o rei sobre o estado de seus rebanhos. Giges entrou no palácio, onde usou o poder do anel para seduzir a rainha e junto com ela, assassinar o rei, assumindo assim o trono da Lídia.
Apesar de ter sido escrita a muitos séculos atrás, a história de Giges é uma história atual. Você, pode questionar em qual sentido? Sentido ético e moral, no sentido de quanto o homem permanece o mesmo (em essência) apesar da evolução das civilizações.
Então neste caso é preciso concordar com Nicolau Maquiavel (1469 d.C– 1527 d.C)? Que afirmou: “o homem é mal por natureza, a menos que precise ser bom” [...]. “Quer conhecer uma pessoa? Dê poder a ela”.
Será mesmo que é o Poder que corrompe as pessoas? Então devemos concordar que todos que tem Poder são corrompidos de alguma forma? Creio que não!
Mas o que é Poder? É a capacidade potencial para exercer a influência sobre outros. Com probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências. Diferente de Autoridade, que é a habilidade de levar as pessoas a fazerem de boa vontade o que quer, por causa de sua influência pessoal.
Em princípio a intensão de Gláucon no diálogo com Sócrates, era demostrar o homem é um agente moral devido somente as convenções sociais, por conveniência, ou por medo de uma punição. Para ele, é como se todos tivessem concordados de maneira tácita cumprir as leis, as normas, os códigos, pois desta forma a sociedade se mantem íntegra, e o indivíduo evita as punições. Se for retirada a consequência da punição nenhum homem teria motivo de se comportar moralmente, indicando primariamente que somos agentes morais por egoísmo, visto que temos que sobreviver as consequentes punições e julgamentos que nos podem ser impostos.
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Gláucon traz à tona a questão da moral condicionada. No exemplo de Giges, é entendido que ele era um homem comum, trabalhava, convivia bem socialmente, e tinha certo prestigio com seus pares, visto ter sido escolhido como representante da classe perante o rei. Sua história muda drasticamente quando ele descobre o poder do anel, pois quando ele se torna invisível não precisa mais se preocupar com os outros, sem medo de punição, ele então se sente livre para agir como bem entender.
Será que nos fosse dada a oportunidade de Poder como teve Giges, agiríamos de modo diferente? Não iriamos espiar à vontade por aí? Ou não mentiríamos? Nem levaríamos vantagem em tantas outras coisas? Afinal não precisaríamos ter receio de consequências, pois ninguém saberia, e estaríamos impunes. Gláucon explora a possibilidade, fazendo uma comparação entre dois homens, “Se existissem dois anéis desta natureza e o justo recebesse um, o injusto outro, é provável que nenhum fosse de caráter tão firme para perseverar na justiça e para ter a coragem de não se apoderar dos bens de outrem...” então, somos todos iguais, sem firmeza de caráter?
Não muito tempo atrás, um agora ex-deputado estadual, trocando mensagens por aplicativo de conversa, em um momento privado, com seu grupo de “amigos”, afirmou entre outras coisas que: “as ucranianas são fáceis, porque são pobres”. Falou besteira né!! Seria um ruído de comunicação, ou sua essência moral, seu caráter se sobressaindo as suas bonitas mensagens na Tribuna da Câmera e nas mídias sociais? Ele como muitos outros parlamentares quando sobem nas tribunas, buscam transmitir uma mensagem ética, muito trabalho, preocupação com os mais pobres, sempre acima da média. Pregar uma moral coletiva, é fácil né!? O problema é manter um comportamento moral quando está sozinho, ou em grupos restritos de intimidade. Será que nossos áudios passaríamos no teste da moralidade, ou falamos besteira o tempo todo? Responda você mesmo!
Na trilogia O Senhor dos Anéis, o escritor John.R.R Tolkien, conhecedor da filosofia antiga, aborda com maestria nas suas sagas sobre o fascinante Poder do Anel, que envolve a capacidade de tornar invisível seu possuidor. O anel desperta no seu detentor uma vontade incontrolável de poder, domínio e loucura, assim como aconteceu com Giges. Como atualmente, o fascínio pelo Poder transforma e transtorna o ser humano, fazendo com que o comportamento ético e moral seja deixado de lado. O caráter é transformado, e seres arrogantes se sobressaem em um espectro assustador. E em muitos casos, bons homens se corrompem em amor ao Poder do Anel.
Então como acreditar no ser humano? Nossa expectativa de dias melhores está equivocada? Nosso país realmente não tem jeito? Muitas questões vêm a nossa mente, principalmente envoltos em um contexto de aparente caos social. Como acreditar que vale a pena ser ético em um país onde os bandidos têm todos os direitos, e o cidadão de bem regularmente é privado dos seus direitos, e pior por quem deveria fazer justiça. O mundo do crime vive em êxtase com a convicção da impunidade!!!
E a justiça? Como acreditar na nossa justiça? Como acreditar em imparcialidade, quando a Constituição Federal é ignorada nos tribunais, o Direito legal é ignorado, e as instâncias superiores desse poder é responsável e/ou conivente por barbaridades nunca antes vistas no país? Será que O Poder do anel/toga está fazendo novas vítimas, como foi na Lídia (Giges) e na Terra Média (O Hobbit)? Homens vestidos com suas capas de arrogância, sentindo-se semideuses, amam servisse de medalhões de lagosta e tomar vinho importado! Os bandidos estão agora no Poder!? Não temos a quem recorrer!?
Mas e a Justiça? Ela não teria como finalidade a transformação social? A construção de uma sociedade mais justa? Mantendo a ordem social através da preservação dos direitos em sua forma legal. Na Republica de Platão a justiça está relacionada a virtude do homem. Ele reconhece três virtudes fundamentais para que a alma do homem experimente a harmonia, que são: a temperança, a coragem e a sabedoria. O homem justo é aquele que tem equilíbrio moral na sociedade, age conforme as leis, e não tira proveito do seu semelhante. Ele sabe viver em harmonia social.
Concluindo, temos o desafio de aprender com aquilo que temos visto e ouvido sobre o comportamento dos indivíduos nas histórias e sagas mitológicas. Porem devemos viver o concreto. No ambiente corporativo, por exemplo, o conhecimento e o entendimento do comportamento ético e moral traz luz e contribui para um convívio harmônico e sociológico, auxiliando cada indivíduo a refletir sobre como ações e práticas éticas ou antiéticas podem influenciar os profissionais nas organizações. É importante ressaltar que neste ambiente existe multipluralidade de idéias, estilos e pensamentos relativos à eticidade e moralidade individual e coletiva. O fundamental é manter a ética viva!
Platão – A República – 380 a.C.
50 Idéias de Ética – Ben Dupré.
Forte abraço!
Soli Deo Glória!