O Beijo no asfalto x Democracia
O Beijo no asfalto x Democracia
Outro dia, saboreando um belo fim de tarde em casa, acompanhado de minha digníssima esposa e seu irmão, fomos levados a uma acirrada discussão, totalmente saudável, antes que possam ter outra interpretação.
Minha esposa compartilhou conosco sua interpretação sobre um livro que acabará de ler, chamado de “O beijo no asfalto” de autoria de Nelson Rodrigues.
Ela ficou aterrorizada com o fato de uma interpretação equivocada, o juízo baseado na aparência e as convicções erradas por parte da sociedade, destruírem a vida de um homem de coração puro. De uma hora para outra, transforma um marido devotado em um homossexual enrustido.
Para se conseguir a deterioração publica de um homem de bem, arma-se uma verdadeira conspiração onde todas as pessoas, desde as mais próximas até as mais distantes, mobilizam-se para destruir a vida inteira de um homem inocente.
O beijo no asfalto, de Nelson Rodrigues, é uma peça teatral que tem como discussão principal um beijo na boca dado por Arandir a um rapaz desconhecido que fora atropelado na sua frente.
Nesta trama temos um repórter corrupto, Amado Ribeiro, cruel, maligno, inescrupuloso e sensacionalista, que compensa seu vazio interior com o abuso de poder. Compra provas, inventa testemunhas, se aproveita de situações e ingenuidades, planta informações, enfim, é uma escola sobre como o Jornalismo não deve ser exercido.
Ao ver o atropelamento, o repórter registra o momento do beijo entre o moribundo e Arandir, junto com o delegado também corrupto, chamado de Cunha, transformam a história do último desejo de um agonizante em manchete principal do Jornal.
A história inicia na delegacia, quando Amado chega à sala do delegado Cunha e conta que viu dois homens se beijando em plena rua após um atropelamento.
Em outra cena, Aprígio (sogro de Arandir) aparece na casa de sua filha Selminha (esposa de Arandir) para dar o recado de seu marido que iria passar na delegacia para servir de testemunha. Muito desconfiado de seu genro e querendo alertar a Selminha, Aprígio conta que seu marido (Arandir) beijou outro homem, e insinua que ele pode ser homossexual.
Enquanto isso na delegacia, Arandir comparece para prestar depoimento ao delegado Cunha e ao repórter Amado. Arandir é questionado se já conhecia o homem anteriormente e mesmo afirmando não conhecer, o delegado não acredita.
Ao chegar em casa, Arandir descobre que Dália (sua cunhada que mora na mesma casa que Arandir e a esposa Selminha) quer ir embora e não deixa. Ele conta à cunhada e à esposa o que aconteceu.
No dia seguinte, sai na primeira capa do jornal que Arandir empurrou seu amante para ser atropelado e após isso o beijou.
No trabalho dele, todos comentam e dizem que o morto inclusive já estivera lá. Arandir diz que isso é mentira, que não conhecia o rapaz. Até mesmo seu colega Werneck fica contra ele.
Aprígio vai à casa de Selminha contar que Arandir e o morto já se conheciam. No velório do morto, Amado questiona à viúva se já teria visto Arandir. O delegado vai então até à casa de Selminha e a leva para a casa de um amigo de Amado. Ao chegar lá, Selminha encontra a viúva que lhe afirma que Arandir já esteve em sua casa para encontrar seu marido e os dois até tomaram banho juntos.
Para despistar os jornalistas e a polícia, Arandir se hospeda num hotel e pede para que Selminha vá visita-lo. Selminha não vai e manda Dália para dar o recado. Chegando lá, Dália dá o recado e declara seu amor por Arandir, que o recusa.
Aprígio aparece no hotel e flagra os dois (Dália e Arandir) numa conversa íntima, saca um revolver e mata Arandir, declarando seu amor secreto e seu ciúme por ele.
Ao fazermos uma analogia desta peça teatral de Nelson Rodrigues com o atual cenário politico nacional, seria possível substituir as personagens sendo:
Aradir: Nossa Democracia
Selminha (esposa de Aradir): O Povo Brasileiro da classe média
Dália (Cunhada de Aradir): O Povo Brasileiro necessitado Classe baixa
Amado Ribeiro (repórter): A Falsa impressa e suas “fake News”
Cunha (Delegado): A Justiça falha “imparcial”
Viúva (do atropelado): Demais políticos ameaçados com a quebra de sua hegemonia, a mudança de paradigmas onde a classe baixa vislumbra um novo espaço na pirâmide hierárquica.
O Atropelado: Luíz Inácio
Aprígio (O Sogro): Quem irá dar o tiro na nossa democracia...