O bom desempenho em Português auxilia apenas estudantes dos Cursos Superiores de Tecnologia ou tem impactos também nos Bacharelados?
Alexandre Nicolini (www.cienciaEacao.net) e Reinaldo Viana (www.unirio.br)
No EnadeDrops anterior, analisamos o desempenho dos cursos Tecnólogos em Redes de Computadores em relação a conhecimentos na Língua Portuguesa. Para isso, dividimos os concluintes em dois grupos em função do desempenho na idioma: grupo 1 com notas entre de 0 e 50, e; grupo 2, com notas entre 50 e 100.
Em outra edição do EnadeDrops mostramos que os conhecimentos na Língua Portuguesa representam 2% da nota geral do curso. No entanto, a conta não é tão exata, no sentido de que os 98% sejam independentes de conhecimentos linguísticos. Ser claro e eficiente na comunicação oral, gráfica e escrita, por exemplo, é característica esperada em relação aos profissionais que estão entrando no mercado de trabalho.
Nesse EnadeDrops, permanecemos investigando aspectos relacionados a essa temática, mas já alertando para o próximo exame, a ser realizado em novembro de 2019. Assim, escolhemos o curso de Engenharia Civil, participante em 2017 e reenquadrado para ser avaliado já em 2019, por pertencer ao grupo de engenharias.
Nossa escolha também se deu em função do quantitativo de concluintes. Estamos falando do curso com o segundo maior volume, representando cerca de 10% dos participantes de 2017.
As diretrizes do Enade 2019, no tocante à Formação Geral, listam nove competências em relação ao perfil dos concluintes:
I - promover diálogo e práticas de convivência, compartilhando saberes e conhecimentos;
II - buscar e propor soluções viáveis e inovadoras na resolução de situações problema;
III - sistematizar e analisar informações para tomada de decisões;
IV - planejar e elaborar projetos de ação e intervenção a partir da análise de necessidades em contextos diversos;
V - compreender as linguagens e respectivas variações;
VI - ler, interpretar e produzir textos com clareza e coerência;
VII - analisar e interpretar representações verbais, não verbais, gráficas e numéricas de fenômenos diversos;
VIII - identificar diferentes representações de um mesmo significado;
IX - formular e articular argumentos e contra-argumentos consistentes em situações sociocomunicativas.
Perceba a aderência entre as competências e conhecimentos relacionados ao nosso idioma. São aspectos indissociáveis.
Conforme roteiro usado no EnadeDrops anterior, analisaremos o desempenho dos concluintes de Engenharia Civil cujo tipo de situação de cada questão discursiva da prova de FG está especificado conforme a seguir:
Grupo I - Resultados considerados para o cálculo da nota do concluinte:
- 333 = Questão em branco (estudante presente).
- 335 = Questão zerada por motivo de resposta nula.
- 336 = Questão zerada por motivo de resposta divergente com a temática.
- 555 = Questão com resultado válido.
A Figura 1 seguir mostra a distribuição concluintes do Grupo I sob o contexto das questões discursivas 1 e 2 de FG, respectivamente:
Figura 1 Tipo de situação (Grupo I) das Questões 1 e 2 de FG – Engenharia Civil - Enade 2017
Uma breve análise da figura 1 nos permite afirmar que a questão 2 de FG foi deixada de lado por cerca de 14% dos concluintes. Estamos falando de 6.660 alunos que, apesar presentes, nada escreveram nessa questão. Tais alunos tiraram zero na questão. Em relação à questão 1 de FG, o 0,8% de alunos que tiraram zero por motivo de resposta divergente com a temática representam 398 estudantes.
As figuras 2 e 3 a seguir apresentam os resultados dos concluintes do curso de Engenharia Civil, divididos em grupos de acordo com o desempenho na Língua Portuguesa: grupo 1 com notas entre de 0 e 50, e; grupo 2, com notas entre 50 e 100.
Figura 2 Desempenho – Engenharia Civil – Concluintes com Desempenho Língua Portuguesa entre 0 e 50 - Enade 2017
Vamos comparar o desempenho do grupo de concluintes da figura 2 com os da figura 3 a seguir.
Figura 3 Desempenho – Engenharia Civil – Concluintes com Desempenho Língua Portuguesa entre 50 e 100 - Enade 2017
Podemos notar então que:
- Nas questões objetivas de FG o desempenho do segundo grupo foi maior que o do primeiro em cerca de 6 pontos, demonstrando que a melhor formação em língua portuguesa realmente tem um impacto positivo nesta parte da prova.
- Na prova de FG o impacto foi muito maior, cerca de 19 pontos a favor do segundo grupo.
- Nas questões objetivas de FE o desempenho do segundo grupo foi maior que o do primeiro em cerca de 4 pontos.
- Na prova de FE o desempenho do segundo grupo foi ligeiramente maior que o do primeiro, com diferem cerca de 4 pontos. Entendemos que no curso de Engenharia Civil o desempenho em FE foi afetado pelo desempenho na Língua Portuguesa.
Além das revelações dos microdados acima, convém ressaltar que o desempenho médio na Língua Portuguesa dos concluintes reportados na figura 1 foi em torno de 24. Na figura 2, em torno de 66.
Concluímos então que os estudantes do curso de Engenharia Civil, à imagem dos estudantes do Tecnólogo em Redes de Computadores, tem resultados bem correlacionados ao domínio da Língua Portuguesa. Notamos que a importância de se expressar e escrever bem é um aspecto imprescindível para o sucesso profissional, não se comportando como um componente isolado da prova do Enade. Consequentemente, na corrida por um bom desempenho, deixar questão discursiva em branco torna-se uma imensa desvantagem para estudantes e IES que almejam obter bons resultados no exame.
Nas próximas semanas estaremos de férias, mas não deixem de enviar seus comentários! Até agosto!