O Câncer não Espera! A “Saga da Saúde Pública” …
Certo dia a Dona Josefina da Silva (fictício), ao passar a mão sobre um de seus seios percebe um “volume diferente” do que está acostumada a sentir… passam-se alguns dias e sua consulta no “postinho do bairro” chega… Durante a consulta, o médico jovem recém-formado, diz a Dona Josefina que “seria interessante” realizar alguns exames para entender o que acontece (Raio X, Ultrassom, Mamografia…). Entre idas e vindas da Dona Josefina ao “postinho”, finalmente após algumas semanas (na maioria dos casos várias) consegue reunir os exames de imagem mínimos necessários para “reforçar a hipótese diagnóstica”. Conclusão médica na atenção primária:
- É ... pode ser um Câncer!!
Próxima etapa da Navegação: “ser operada por um mastologista (especialidade adequada) para “remover o possível tumor” e fazer análises laboratoriais (Biópsia, popularmente conhecida) … após mais algumas semanas (novamente, podem ser várias), recebendo o resultado (no caso infelizmente confirmada Neoplasia) é que a Dona Josefina “pode requerer e deve ser encaminhada” a um centro especializado de Câncer (o que chamaremos aqui de CACON/UNACON). Neste serviço, a Dona Josefina “tem o direito constitucional garantido por lei” ao Tratamento Integral à Condição Clínica de Saúde” … Finalmente deve iniciar “um tratamento”, muitas vezes bem inferior aos tratamentos ofertados em um sistema de saúde privado (em termos de inovação e desfechos clínicos desejados, como possível cura, sobrevida com qualidade e eventos adversos, por exemplo) …
Todos os dias, milhares de “Donas Josefinas” encaram esta Saga… Sofrem para serem atendidas na Atenção Primária (nosso “postinho”, a cima), passam por longas esperas pelos exames de imagem dentro da Atenção Secundária (Unidades de Saúde com maior complexidade), para somente após conseguir travar esta Jornada, “ter o direito a receber o tratamento adequado” (em muitos casos tecnologicamente defasados, conforme citado a cima) …
Importante ressaltar, que de acordo com a Política Nacional de Câncer, Conforme a Lei Federal 13.896, de 2019, determina que TODOS os pacientes com suspeita de câncer devem receber diagnóstico em até 30 dias e a Lei 12.732 de 2012, complementa que estes mesmos pacientes recebam seus tratamentos em até 60 dias do diagnóstico. Infelizmente, esta é uma realidade onde a grande maioria da população não possui este direito assegurado, na prática. O que se observa é um sistema “Não Integrado de Linhas de Cuidado”, onde a Atenção Primária não está devidamente conectada com a Atenção Secundária, que por sua vez tem responsáveis distintos das Instituições Especializadas, que são os Principais Atores dos cuidados e Tratamentos da Média e Alta Complexidade da Oncologia (CACONs/UNACONs).
O Câncer é hoje a 6ª causa de morte no Mundo (traqueia, brônquios e pulmões - OMS) e 2ª causa no Brasil (DATA SUS 2022), consumindo milhões de unidades monetárias em todo mundo (Real, Dólar, Euro…) e ainda vemos situações de linhas de cuidados “não integrados”, onde o principal desfecho desejado (Diagnóstico Precoce, Cura, Sobrevida, Qualidade de Vida…) não são minimamente atingíveis…
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Enquanto nossa Política Nacional atuar de forma “desconexa nas linhas de cuidado” (atenção primária, média e alta complexidade), descentralizando a navegação e a jornada destes pacientes, teremos inúmeras perdas de “Donas Josefinas”, que tudo o que desejariam mais em suas vidas seria ter uma condição clínica de saúde que as permitissem tão somente cuidar de suas famílias e viver com a dignidade humana necessária para, no mínimo, verem seus filhos e netos crescerem, usando seu tempo de forma mais valiosa e produtiva à sociedade.
Autor: Francisco José Maia Fontenele
Conflitos de Interesse:
Exerço função remunerada pela indústria farmacêutica há mais de vinte anos. Atualmente ocupando cargo de Gerente de Acesso ao Mercado Público da Saúde.
IMPORTANTE:
“O texto reflete exclusivamente a opinião do Autor, sem correlação alguma com posicionamento de seu empregador.”
Médica oncologista / Diretora de Experiência do Paciente na Liga Norte Riograndense Contra o Câncer/ Diretora médica da Oncocentro Dasa/ Mestranda em Saúde Coletiva
7 mExcelente retrato do que testemunhamos na prática Franzé Fontenele