O cinema em 2023, fatos e expectativas
Em 2023, a bilheteria global prevê chegar em torno dos US$ 30 bilhões, um aumento de 12% em relação a 2022, algo decepcionante para a indústria, pois nos três anos antes da pandemia (2017-2019), o total global foi em média de US$42 bilhões, e a estimativa para 2023 é 30% abaixo desse número.
Ainda se considerarmos que 2022 se beneficiou de Top Gun e Avatar e, mesmo assim apresentou apenas três resultados US$ bilionários (incluindo Jurassic World). Em 2019, oito filmes alcançaram a casa do US$ bilhão em bilheteria global.
Neste ano ainda teremos três títulos da Marvel, Indiana Jones, Missão Impossível, Duna, Jogos Vorazes, Wonka, Super Mario Bros, Barbie entre outros. Um ponto preocupante é sobre as janelas de exibição dos cinemas, os distribuidores médios e pequenos terão um árduo trabalho pela frente para atrair a audiência para a tela grande.
No streaming, bilhões ainda estão sendo investidos em conteúdo, com o principal propósito de expandir seu número de clientes em todo o planeta. O antigo novo CEO da Disney, Bob Iger, manterá o foco no Disney+ para se tornar lucrativo até 2024. Hollywood está observando de perto, mas os governos europeus estão endurecendo o jogo e os streamers dos EUA estão cada vez mais sujeitos a taxas, obrigações de investimento e a exigência de que os serviços de VoD tenham pelo menos 30% de obras europeias em seus catálogos.
De acordo com a PwC, os números no setor de mídia e telecomunicações diminuíram 26% em 2022 em comparação com 2021. A demanda por conteúdo, principalmente de streamers, continuará a tornar as produtoras atraentes para os programadores comerciais. No próprio setor de streaming, há previsões de baixas empresariais.
As preferências do público está cada vez mais diversificado. A Netflix diz que mais de 60% de seus assinantes globais assistiram a títulos coreanos em 2022 e esse conteúdo alcançou seu top 10 semanal em mais de 90 países, inclusive no Brasil.
No Brasil, a expectativa é grande para o setor audiovisual, com a restauração do Ministério da Cultura. O governo anterior modificou as regras para o financiamento público de filmes e agora os produtores estão ávidos para a volta do modelo anterior a 2018. Novas ações foram prometidas, mas, tudo indica que o processo levará algum tempo, além de se saber se o Ministério terá um orçamento a altura.
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A regulamentação dos serviços de streaming no Brasil, que já estava na pauta da ANCINE, agora ganha destaque, conforme o discurso da nova ministra. Esses serviços que não pagam impostos sobre suas produções locais, estão na lista de prioridades.
Parece que estamos à beira de um despertar cultural que verá grandes vencedores e perdedores. É necessária uma infraestrutura de alto padrão, para estimular a produção de conteúdo suficientemente bom para tirar a audiência do sofá ou, na pior hipótese fazer com que tenha desejo pelo filme brasileiro, no sofá ou na telona.
Os cinemas evoluíram de um lugar para apenas ver os filmes, para um espaço qualificado em receber diferentes tipos de conteúdo, atrações e experiências. Isso só se tornou possível com as dificuldades impostas pela pandemia e os respectivos caminhos que os exibidores encontraram para fazer a sua onerosa infraestrutura se manter e prosperar.
A tecnologia percorreu um longo caminho nos últimos anos, merecendo destaque no cenário passado recente da indústria cinematográfica. Mas é necessário reconhecer que um dos fatores mais confiáveis no sucesso dos cinemas recentemente tem sido a Marvel. Star Wars foi ressuscitado e desfilou uma trilogia na telona e depois rapidamente capitalizou o conteúdo de sucesso para as telas de TV, a Marvel tem sido um dos conteúdos mais confiáveis da Disney para geração de receitas.
A Netflix tem equipes de filmagem no Brasil, em toda a Europa e na Ásia, e o seu catálogo estrangeiro muitas vezes supera o que é produzido nos Estados Unidos. A Netflix tem estúdios instalados em todo o mundo que permitem que eles produzam um fluxo constante de conteúdo toda semana, com filmes vindos de todos os cantos do globo.
Em comparação, os filmes da Marvel lançados de dois a três por ano impactou as perspectivas do estúdio, causando fadiga de super-herói, sem mencionar o que a DC esteja fazendo agora. O resultado que se seguiu fez com que muitos questionassem as apostas com as quais a Marvel está jogando, sem mencionar a questionável ética, inclusiva e moralidade do “politicamente correto” que muitos dos heróis adotam.
Viola Davis, que protagonizou The Woman King, disse o seguinte em resposta à abertura do filme: “O público que não vê The Woman King está apoiando a narrativa de que as mulheres negras não podem liderar as bilheterias globalmente.” O resultado da bilheteria, nos faz pensar que se você intimar os seus fãs e tentar convencê-los a ir ao cinema, vai dar errado.
O recado parece simples, muitas vezes o público quer apenas acessar uma boa história, relaxar numa poltrona tecnológica e assistir a um filme de ação cheio de efeitos especiais.
Você acha que 2023 é um ano de retomada? Eu apresentei vários fatos, mas com uma visão e expectativa bem particular.