O cliente pode esperar: minha família em primeiro lugar
Foto: Nícollas Rudiner

O cliente pode esperar: minha família em primeiro lugar

Cometi o pecado de dar mais atenção para minha família e para minha avó (que se encontra em estado paliativo no quarto ao lado nesse momento) do que estar 100% disponível para caprichos e birras de clientes que querem tudo na hora e tudo para ontem (muitas vezes em demandas que eles mesmos estão sentados)..

Me vi diante de uma situação que muitos temem, mas que revela verdades profundas sobre o ambiente de trabalho moderno, especialmente no setor de publicidade. Fui desligado da agência em que trabalhava, com a justificativa de que eu "não fazia o perfil que o cliente queria". Curiosamente, essa percepção levou quase seis meses para ser notada, justamente quando a minha prioridade deixou de ser atender a caprichos e birras de última hora para focar no que realmente importa: a minha família.

Entre atender um pedido “urgente” de um cliente que não tem noção de limites e segurar a mão da minha avó, escolhi o que considero ser a verdadeira prioridade. E, sim, eu faria tudo de novo, mesmo sabendo que isso custaria o meu emprego.

Essa experiência me trouxe uma reflexão importante sobre o modelo de trabalho que muitas agências ainda insistem em perpetuar. No papel, somos contratados como PJ, o que deveria nos dar uma certa liberdade e flexibilidade. Mas, na prática, isso se traduz em uma exigência velada de estar disponível 24/7, sempre à disposição do cliente, sem considerar que somos, antes de tudo, seres humanos com vidas fora do trabalho.

O home office, uma das poucas coisas boas (ou a única) que a pandemia nos trouxe, deveria ser uma oportunidade para equilibrar trabalho e vida pessoal. Infelizmente, para muitos, isso significou estar mais disponível do que nunca, a qualquer hora do dia ou da noite e ser obrigado a ir para o escritório duas ou três vezes na semana para atender caprichos dos donos, que moram na zona sul e nunca pegaram um metrô ou ônibus. É como se a linha entre o profissional e o pessoal tivesse desaparecido completamente, nos deixando à mercê de demandas insaciáveis que não respeitam horários, muito menos momentos de fragilidade e dor.

Depois de passar por um burnout, aprendi que, sim, o cliente pode esperar. Aprendi que a vida é curta demais para ser vivida apenas no modo automático, atendendo a prazos impossíveis e lidando com expectativas irreais. Aprendi que, no final das contas, as relações humanas – com a família, com amigos e até consigo mesmo – são o que realmente importam.

Ser demitido por priorizar minha família não é uma derrota. É, na verdade, uma vitória da minha humanidade sobre a desumanidade que muitas vezes permeia o ambiente de trabalho. É um lembrete de que não devemos nos curvar diante de pressões que nos desumanizam e que, no final, estamos aqui para viver, e não apenas para trabalhar.

Rita Albuquerque

Marketing Digital | Social Media | Estratégia de Mídias Sociais | Redação e Edição

4 m

Querido, neste placar, venceu a humanidade, o respeito e o compromisso com a sua verdade. Não tenha medo, tudo se encaixa. Você está exatamente onde deveria estar. Um beijo grande.

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