O COADOR...
MARKETING50ANOS 35/2021
Amigos, nesta série de artigos em comemoração aos 50 anos da COLUNA MARKETING – a mais longeva coluna sobre MARKETING em todo o mundo – e publicada todas as semanas no PROPMARK, procuro fazer o R&T –RESGATE & TRACKING – de alguns dos mais de 2000 artigos que escrevi nessas 5 décadas.
Hoje resgato o artigo que escrevi e enviei para a publicação no PROPMARK no dia 16 de novembro de 2004, às 17:57, e que tinha como título “O COADOR”. E no final faço o “tracking” confrontando com a atual realidade. Vamos ao artigo de novembro de 2004.
PROPMARK NOV 2004
“Muitas vezes, um grito é melhor do que uma tese” EMERSON
O COADOR
Será que alguém ainda sente saudades do velho e bom café do coador de pano? Provavelmente, não, até porque a referência foi se desfazendo, dissolvendo, no correr dos anos.
A chegada do expresso no Brasil tem, seguramente, mais de 5 décadas. Eram pontos específicos, dois ou três nas maiores cidades do país, para onde os mais exigentes se dirigiam em momentos muito especiais. No centro de São Paulo, na avenida São João, por exemplo, no final dos anos 50 e pouco após o Quarto Centenário existia uma concorridíssima máquina de café expresso. O mesmo acontecia na praia do Gonzaga, no Atlântico, em Santos. Nas décadas seguintes, importavam-se algumas máquinas, que depois eram descontinuadas ou convertiam-se em preciosidades, mas o fato é que o expresso não decolava. Até os anos 80 quando as máquinas passaram a ser fabricadas no Brasil, e máquinas antigas foram recondicionadas constituindo-se na grande atração de alguns dos principais restaurantes do país.
Já nos anos 90 a movimentação ganha força e consistência, e as máquinas de café expresso vão tomando conta da paisagem das grandes cidades, muito especialmente em seus principais restaurantes e shopping centers. E da virada do milênio para cá assumem o comando. E com o prevalecimento das máquinas, a institucionalização de uma das mais comentadas profissões da atualidade, de certa forma inventada pelos italianos há mais de cem anos, consagrada na iniciativa revolucionária e emblemática de HOWARD SCHULTZ, STARBUCKS, e que são OS BARISTAS – profissionais treinados e especializados na arte de tirar e servir o melhor café expresso, e todos os seus derivativos.
Muitos dos professores dos BARISTAS brasileiros diplomaram-se na Europa e nos EUA. E agora vivem de dar cursos nas principais metrópoles brasileiros, e que sempre estão lotados. Organizações como um FRAN’S CAFÉ orgulham-se e ostentam o diferencial de só terem BARISTAS em suas lojas, e as novas redes que vem nascendo já não contratam mais simples atendentes. De certa forma “recrutam” os melhores BARISTAS das redes já existentes, duplicando ou triplicando o salário.
Em matéria no jornal o DIÁRIO DE SÃO PAULO, no caderno de empregos, e onde o tema é ESPECIALIZAÇÃO, assim a jornalista MÔNICA MOREIRA traduz a importância da nova profissão: “O BARISTA é responsável pela valorização da qualidade e nobreza do produto. Precisa ter técnica, sensibilidade e arte para operar máquinas sofisticadas, manter o gourmet fino e aromático com sabor e corpo acentuados, cobertos por uma espuma cremosa...”
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Vai ficando cada vez mais difícil sentir saudades do velho e bom café dos coadores de pano, devidamente escaldados, e a beira de um fogão a lenha, no tradicional bule ...
TRACKING NOV 2021
No ano seguinte ao que escrevi esse artigo, 2005, fui com o FABIO MADIA para NEW YORK CITY. Num final de manhã entramos na Bloomingdale´s e no andar dos produtos para casa uma degustação. A distância, pequenas peças de metal reluziam numa caixa de madeira. Parecia bombom. Não era, eram as cápsulas do NESPRESSO chegando ao mercado.
Um ano depois, 12 de dezembro de 2006, o querido amigo IVAN ZURITA, presidente da NESTLÉ, convida para um lançamento de sua empresa, um café da manhã no Fasano. Era o NESPRESSO chegando ao Brasil. Nesse mesmo dia, na Padre João Manuel, 1164, NESPRESSO inaugurava sua primeira boutique no Brasil.
E nunca mais a história do café foi a mesma.
Do coador, passando pela revolução dos filtros de papel MELITTA, seguida pela criação espetacular de HOWARD SCHUTZ, STARBUCKS, “O terceiro lugar”, uma espécie de Oasis nas cidades de pessoas em permanente correria, e, finalmente, o mundo das cápsulas. Onde, do dia para a noite, nos convencemos a pagar R$200 por 1 quilo de café em cápsulas de poucas gramas, mesmo tendo a disposição o café em pó por menos de R$20 o quilo.
GERTRUD STEIN, que não me canso de repetir, mas que absolutamente certa, quando um dia, da ROUND TABLE do OAK ROOM do ALGONGUIN de NEW YORK CITY, e a pleno pulmões, urrou para o mundo:
“Não existe lá mais ali...”
E tudo segue acelerando, escalando, disruptando. Ou saímos da frente, ou, entramos no cordão...
Se em 1969, quando CAETANO, preso, e esperando por sua libertação recebia notícias de milhões de brasileiros cantando no carnaval de Salvador e do Brasil sua canção, “Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”, o que dizer-se hoje, diante do TTC – Tsunami Tecnológico Crescente?