O Controle do Peso e sua Relação com o Trabalho
Por Adriana Moraes e Walther H. Kerth
Um dos fatores mais comuns que levam uma pessoa ao desequilíbrio alimentar está associado aos significados que atribuímos às nossas condições de satisfação e prazer, ou ausência destes, no contexto de trabalho. Curiosamente, é também no ambiente profissional, onde passamos a maior parte de nosso tempo de vida, que os efeitos da má alimentação ou do peso fora das expectativas mais nos incomoda. Organizar-se interiormente possibilita o resgate do peso e da saúde sem regimes ou maiores sofrimentos. Trabalho há vários anos com clientes que me procuram para eliminar peso. Eles chegam até mim após terem tentado emagrecer fazendo todas as dietas disponíveis na internet e aplicativos e após terem desperdiçado muito dinheiro pago em academias, que começaram a fazer e desistiram. Muitos deles já tentaram de tudo. São tantas as histórias, tão diferentes e tão iguais... A partir delas comecei a compreender melhor as necessidades, as dificuldades, os desejos e anseios das pessoas que não conseguem controlar sua alimentação e seu peso. Ao iniciar um trabalho individualizado, seja como terapeuta ou como Coach, sempre escolho assumir que mente e corpo saudáveis trarão o desejado controle do peso. A explicação é simples, uma pessoa de bem com a vida, que respeita e ama a si própria, que pratica exercício por prazer, por saúde e para se sentir bem, que cuida de sua alimentação por respeito a si mesma, para se nutrir e obter a vitalidade e energia para viver feliz, frequentemente não enfrenta dificuldades com sua saúde ou descontrole de peso. Ela terá muito mais chance de ter o seu peso sob controle do que uma pessoa que se exercita para eliminar peso, que vive com a atenção voltada para a dieta, sob tensão e auto exigências constantes. Se ainda considerarmos as áreas da vida não resolvidas, como o trabalho, então as perspectivas não são animadoras. Assim, o que o trabalho tem a ver com o controle de peso? Saiba que é uma das grandes questões que frequentemente são trazidas ao processo de coaching para controle de peso. Vivemos em um mundo empenhado em nos afastar de nossa percepção de nós mesmos, de nossa consciência de nossas reais necessidades e de nosso amor próprio e autorrespeito: a sociedade de consumo somente sobrevive numa cultura impessoal na qual as pessoas são apenas consumidores permeáveis aos incontáveis apelos da propaganda que associam o bem estar e a felicidade ao consumo de alimentos, bebidas, cosméticos, bens materiais, etc. Estamos vivendo como carneiros assumindo desejos que raramente são nossos! Pense em quantas vezes você compra um produto que nunca usa ou a quantidade de ocasiões que come algo e se arrepende logo a seguir... Sim, fazemos o que os outros querem a maior parte de nosso tempo, e não somente em nossos trabalhos ou empregos. Nossa cultura não está destinada a promover corpos e mentes saudáveis, mas sim modelos insanos de beleza e riqueza, cujos adeptos vivem assombrados com as opiniões alheias. Permanecemos muitas horas seguidas sentados em escritórios fechados, sob iluminação artificial, sentados em frente a computadores (mesmo quando temos uma profissão possibilita o movimento). O estresse no trabalho e a tensão parecem estar cada vez mais presentes. No mundo corporativo a concorrência é acirrada, é o mundo que exige competências desenvolvidas, performance, as cobranças são diárias e tudo isso pode gerar muita tensão e estresse se você não estiver consciente de suas habilidades, não se sentir equilibrado neste ambiente, resultando muitas vezes na necessidade de compensação, de recompensa por ter aguentado tudo aquilo, durante todo o dia. Então, para compensar, algumas pessoas vão comprar coisas para si mesmas e outros vão comer. Nos convencemos ao escutar nossa voz interior repetindo, quase sempre, a mesma coisa nos dois casos: “Agora eu mereço”. Atendi uma cliente que estava bem pouco consciente do estresse que enfrentava em seu trabalho. Era gerente de área há dez anos em uma instituição financeira de grande porte e por diversas vezes perdeu a oportunidade de ser promovida a superintendente em sua área. Apesar de ter percebido outras questões alimentares que a impediam de obter o peso desejado, entendi que sua frustração no trabalho era prioridade para o início do processo, pois ao chegar em casa “descontava” toda sua frustração e tensão do dia na comida, presenteando-se, ou recompensando-se com um pouco de prazer, para compensar uma falta de satisfação que já não conseguia através do trabalho. Como disse, esta cliente estava pouco consciente quanto ao que trazia tanta insatisfação em relação ao trabalho. Após algumas sessões, em um aliança entre Coach e Coachee, ela reconheceu que a sua maior frustração, a grande insatisfação era mesmo em relação ao seu trabalho... Esta gerava muita tensão diária por não se sentir reconhecida, pois a promoção representava para ela a recompensa por tanto esforço, comprometimento e dedicação. Mas não o reconhecimento por seu empenho e sim o reconhecimento pessoal, que percebeu ser também uma necessidade insatisfeita constante fora do trabalho, em sua vida pessoal, no relacionamento com amigos, família e marido. Após este insight, na sessão seguinte, a cliente veio me contar que estava já com um enorme pedaço de bolo na mão, pronta para comer quando se lembrou da última sessão e colocou o bolo de volta na geladeira. Segundo ela, a vozinha interior ainda dizia que ela merecia, mas a nova consciência em relação à sua necessidade de compensação permitiu que ela desse o primeiro passo para alterar seu comportamento alimentar. Outro ganho foi abandonar comportamentos no trabalho gerados por sua necessidade de reconhecimento que estavam limitando e impedindo seu crescimento.