O curioso caso da ignorância emocional
Em meados de 1995, Daniel Goleman popularizou um conceito criado por Peter Salovey na década de 1980. Chamava-se "inteligência emocional". Este conceito ganhou atenção da mídia e das empresas e, de repente, parecia que todo mundo levava as emoções a sério. Eu, ao menos, as levo. Prezo minha análise pessoal e reflexões profundas, esteja eu sozinho ou na companhia de amigos. Sou daqueles que tem dificuldade em manter conversas de passatempo. Não quero saber como está sua família ou se está muito frio hoje. Para mim, confesso, está sempre um pouco mais calor do que eu gostaria.
As pessoas dão pouca atenção ao outro lado da moeda. Decidi falar dele hoje porque, em uma de minhas conversas com uma pessoa de alto nível, surgiu essa percepção novamente: estamos em um pico de ignorância emocional.
Veja bem. Sempre que você vir um ataque de raiva, um súbito momento de ansiedade incontrolável ou de comportamentos confusos, agressivos e certamente inconsistentes, você pode ter a segurança de estar frente a frente com a ignorância emocional. É aquele momento em que fica claro para todos, menos para a própria pessoa, que o fundamento de sua ação reside em ciúmes do parceiro, inveja do colega de trabalho ou incompetência. (Quem grita com alguém no trabalho é sempre um pouco incompetente.)
Existe, é claro, o curioso caso da ignorância emocional coletiva. Ocorre em empresas, em famílias e outros grupos - como agrupamentos por idade, por classe socioeconômica, por tribos de estilo de vida, entre outros. Com a situação econômica deterioriada do Brasil, está evidente na polarização entre os dois grandes partidos majoritários em cargos executivos.
Minha orientadora de mestrado um dia me deu uma lição muito importante. O curioso caso da ignorância emocional é perigoso porque ele destroi pontes, impede o diálogo e causa uma unilateralidade na visão que divide o mundo entre os certos e os errados, os mocinhos e os vilões. Veja bem. Não estou afirmando que não exista o comportamento desejável e aquele condenável. Mas pessoas absolutamente condenáveis e outras irretocavelmente desejáveis, estas sim inexistem. Não são coisa nem de conto de fada, porque neles os Irmãos Grimm fizeram questão de criar uma Branca de Neve que mata a madrasta quando tem a oportunidade. (Leia os originais e supreenda-se.)
A ignorância emocional é terrível. Ela é invisível, projetiva e tende a fazer com que nos comportemos da pior maneira. Xingamos, diminuímos e humilhamos os outros porque não suportamos que ocupem espaços relevantes discordando de nós, não queremos que façam sucesso com premissas que condenamos ou que sejam felizes enquanto nós encaramos nossos problemas. Mas ela é insidiosa e cruel por outro motivo também: não existe quantidade de educação, cultura ou viagens que cure a ignorância emocional. Apenas a análise, a auto-análise, a observação cuidadosa de si mesmo e a empatia consigo e com os outros atua como antídoto à ignorância emocional.
Mas ela é traiçoeira: o ignorante emocional acha que todos estão errados menos ele, e aqueles que se consideram certos estão cegos, jamais ele, aquela pessoa iluminada que vive e enxerga a realidade, ao contrário dos outros. Claro, isso não significa que não existam parâmetros. A capacidade de crítica e auto-crítica é a irmã mais nova da inteligência emocional, fundamental para que não caiamos em um relativismo em que tudo vale.
Mas tome cuidado. Se você perde rapidamente a compostura, fica irritadiço com alguns comentários de uma pessoa, sente um ímpeto em ofendê-la e desconsidera suas opiniões tomando-a como uma completa imbecil, você pode estar sofrendo de ignorância emocional. Pode ser que justamente naquela pessoa haja aquele pedaço de você que é insuportável de olhar. Que você não quer ouvir. Mas apenas entendendo esse pedaço da história é que você poderá, afinal, encontrar alguma sabedoria.
Coordenador de RH - Rec. & Seleção | Business Partner | Expansão
9 aExcelente texto, Gustavo!
Vendedora | Gerente de Contas Varejo
9 aArtigo excelente!