O "designer tradicional" de interfaces morreu?

O "designer tradicional" de interfaces morreu?

Ao longo da minha formação acadêmica (Publicidade e propaganda - ESPM e posteriormente pseudo-Arquitetura e Urbanismo - PUCRS) nunca pensei em ser um designer, muito menos trabalhar sério com a tal internet. Até porque, na época, a internet estava engatinhando a passos rápidos e era um bom passatempo montar sites em Times News Roman, com gifs com pouquíssimas cores e recheados de tabelas.

Apesar de ter cadeiras voltadas para a tal internet, que em sua maioria foram bem rasas, a parte profissional da internet como temos hoje era apenas um detalhe. Tudo era muito em caráter de introdução ao assunto . O contato mesmo veio em dois pontos: com os estágios e posteriormente emprego para sustentar a faculdade (afinal, já desenhava interfaces por curiosidade realizando alguns projetos solo e comerciais) e o trabalho de conclusão.

Dentro da agência ganhei meu cargo: designer. Em suma, era responsável pela parte gráfica dos sites. Inicialmente eu desenhava a interface e logo depois codificava ela, mas com o passar do tempo e com a super-especialização de cargos, ficava somente na interface.

Um designer "tradicional" de interfaces

Mas não me entenda mal pelo tradicional. Não estávamos errados na época. Estávamos na ponta no estudo da interface e como ela poderia interferir na experiência de navegação, hoje conhecida como User Experience (a.k.a UX). Era a primeira grande evolução do design de interfaces: projetar interfaces para o uso das pessoas e não para a marca ou para quem coordenava o projeto. Aliás, isto foi o ponto central do meu trabalho de conclusão na ESPM: a viabilidade financeira da usabilidade em um projeto de e-commerce (nas Lojas Americanas, para ser exato). Também conhecido como o R.O.I (Return Of Investment).

No processo de trabalho os papéis continuavam separados: Alguém teria de fazer a arquitetura da interface (onde ficariam os conteúdos, navegação, etc), outro daria a cor e visual da coisa, um codificaria tudo e por fim outro integraria tudo com o banco de dados.

E novamente: era o mais ágil possível na época. Afinal, tínhamos grandes e super capacitados profissionais em cada área.

Porém, tudo muda

Nós estamos em constante mudança, não é mesmo? Não é de se estranhar que nosso meio também se adapte ou que ele se modifique com a nossa evolução. Ou ainda: nós nos adaptar ao novo ambiente.

Não imaginaríamos que em menos de 20 anos teríamos uma coisa nas mãos que pudéssemos tirar fotos sem revelar filme, filmar sem uma camcoder, nos localizarmos sem um mapa de papel, ter basicamente qualquer informação quase que instantâneamente e no fim, esta coisa ser nosso ajudante pessoal, falando conosco. Oi Siri (ou Cortana, ou Google).

Os tempos mudaram e estão mudando cada vez mais. E a interface humano-máquina precisa acompanhar falando este novo idioma digital.

Este movimento evolutivo na comunicação interfere diretamente em toda a cadeia de produção de um produto para a internet. Uma nova linguagem, mais ágil, métodos de trabalho ainda mais ágeis e atores com diversos papéis.

Um ator com diversos papéis

Talvez este último ítem seja o que mais mude a realidade do "designer tradicional", afinal os processos de desenvolvimento precisam estar todos integrados.

Com o fim do processo de produção waterfall (uma coisa de cada vez e em sequência) e a adoção de métodos ágeis ligados ao design estratégico como o SCRUM (entra tudo aqui dentro: Design Thinking, Kanban, PMI Book, etc..), as equipes precisam se tornar ágeis.

Testar rápido para errar rápido. Algo como: Com a produção através de um processo engessado poderia lançar uma solução defasada no mercado... afinal ele está em constante movimento (e cada vez mais rápido).

Morreu mesmo?

Estou para te dizer que não. Ele evoluiu, assim como todos integrantes da equipe. Áreas foram extintas, migradas ou englobadas. Estamos migrando para equipe mais enxutas e afinadas, mas com mais responsabilidade em cada indivíduo (e este com diversos papéis - agora você não aperta só o parafuso da roda.. você desenha, solda, pinta, encaixa peças no carro. Ao mesmo tempo).

A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro.

Antes o designer precisava cuidar dos itens relativos ao seu universo e entregar materiais para as demais áreas. Hoje ele faz parte das demais áreas, pensando no rascunho, desenvolvendo ele em protótipo e auxiliando diretamente no resultado final.

Extingue o tradicional focado somente em interface. Nasce um conceito de interface que não é só gráfica, mas que precisa conversar com todos: Humanos, gadgets e códigos.

Percebi que o designer volta a suas origens de projetar soluções de forma ampla, em diversas áreas, testando e aprimorando sua solução juntamente com toda a equipe através de um processo colaborativo e menos individualista. Adobe mostra isto com o seu Adobe XD, temos ainda o Sketch, o Zeplin e outros diversos programas que unem equipes e tornam o processo de criação vinculado ao de desenvolvimento, senão, ao mesmo tempo.

Assim como na faculdade, é bom conhecer um pouco de tudo.

Não necessariamente um Diretor de Produto irá só planejar e tomar decisões. Hoje ele precisa atuar em diversas frentes, inclusive na arte. Como no meu caso :)

Leonardo Pires

Liderando Produto @ Distribusion | Product Management | Liderança de times de Produto

6 a

Excelente texto! Realmente hoje em dia todas as funções tradicionais estão "mutando" para funções multidisciplinares. Um developer que quiser receber um caso de uso e só se preocupar em entregar o que pede o documento já está contra as ideias (e tendências) ágeis de auto gestão e entendimento do porque do seu trabalho. No meu caso eu também "desenho" o meu produto, o que surpreende algumas pessoas eventualmente, mas acho muito importante e pretendo melhorar essa skill casa vez mais... e sempre que tiver algum designer ou UX na equipe afim de dar alguns toques eu fico feliz porque acontece um teamwork bacana e eu já agrego mais conhecimento. Evolução contínua.

Luiz Weber

Design Gráfico | Web Design | Design | Publicidade e Propaganda | Marketing | Social Média | Comunicação Visual | Criação | Direção de Arte | Sites | HTML | Adobe Suite | Illustrator | Photoshop | Dreamweaver | Premiere

6 a

Ótimo texto... Hoje me dia é necessário ter Múltiplos Conhecimentos, e pensar na funcionalidade, e praticidade das plataformas para o uso dos usuários, para prende-los e não espantar-los. Parabéns pelo texto.

Tatiana Antoniazzi Brugalli

Projetos estratégicos de comunicação e marketing

6 a

Boa! É importante refletir sobre essas fronteiras de forma e função, humano e máquina, estética e experiência do usuário. Design como sinônimo de projeto (e não de direção de arte) faz muito mais sentido!

Alan Leão

UX/UI Design | Figma | e-commerce design

6 a

Muito bom

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