O discurso errado neste momento começa assim:
"Vamos fazer...
"Vem coisa boa por aí...
"Aguardem que vamos superar...
"Estamos trabalhando para...
"Em breve...
Ando muito incomodado com este tipo de narrativa, na boca de agentes públicos. Afinal, se antes da pandemia a ideia de futuro jamais chegou para a maioria da população. Em meio as suas consequências implacáveis no presente para os estratos sociais empobrecidos e para os segmentos produtivos mais afetados pelas medidas sanitárias, este tipo de construção discursiva soa, no mínimo, populista.
O consciente coletivo, materialmente, percebe que as necessárias restrições sanitárias são, na prática, restrições às sua possibilidades "do corre", "do desenrolo", "do jeito" para "conseguir ou produzir o leite das crianças". Ele também percebe e sente a baixa capacidade do Estado, em seus diferentes níveis e funções de governo, para mitigar os impactos e efeitos sociais e econômicos dramáticos deste momento, imposta seja por restrições fiscais, por incompetência política ou por amarras da burocracia da máquina da pública, que historicamente no Brasil, em momentos de crise, cisca pra dentro defendendo seus estamentos e o custeio da sua própria existência. Sempre com a promessa de que isso é necessário para "ajudar" (no futuro) aqueles que estão com a sua sobrevivência ameaçada no presente.
Posso fazer um esforço e entender a incapacidade material do Estado, repito, em diferentes níveis e funções de governo para fazer entregas. Mas reivindico o direito de dizer que acho feio prometer um futuro que dia a dia vai ficando pelo caminho. Qual é a melhor narrativa? Não me cabe responder. Afinal, num cenário em que a conta do Estado está paga, cabem aos seus agentes inventarem o melhor discurso. Este aí tá ruim!!!
JUNIOR PERIM - cofundador e diretor do Circo Crescer e Viver, ex-secretário de cultura da Cidade do Rio de Janeiro.