O enterro do Bentley, da ética e da prefeitura de Curitiba
O que uma coisa tem a ver com a outra? Eu explico.
Em 2013 o Conde Chiquinho Scarpa anunciou repentinamente uma inusitada e absurda ação em seu perfil no Facebook. O enterro de um Bentley Continental, se não me engano na época o argumento foi a compra de um novo modelo e devido à isso ele daria as honras fúnebres ao seu "antigo" grande amigo.
Como toda boa loucura e megalomania a história ganhou proporções na mídia, matérias na Caras e toda essa baboseira sem limite, após a seguinte publicação e todo o barulho da mídia a página do Conde passou a ganhar cerca de 22% do seu volume total de curtidores diariamente, ou seja o dobro em menos de uma semana.
Depois de muito buzz, paródias, piadas, desconfiança e até uma coletiva de imprensa, marcada para a manhã de uma sexta-feira, que atraiu inclusive a transmissão ao vivo de alguns portais, o mistério foi desfeito: tratava-se de mais uma campanha publicitária explorando a ilimitada curiosidade do público diante de atos inusitados – especialmente quando há “celebridades” envolvidas. No caso, em questão, uma nobre causa. A campanha, idealizada pela Leo Burnett Tailor Made para a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos).
E o que acontece quando o marketing reverso funciona de verdade? Mesmo que não organicamente como em seu principio
SOME FUCKING PRIZES
O enterro do Bentley foi uma ação de marketing reverso minunciosamente executada, com Blackhat SEO para tudo parecer orgânico, com assessoria de imprensa manjada, com publieditorial em veículo pago, tudo que uma ação feita por gente grande tem que ter. Mas e aí isso serviu de exemplo para novos cases, novas ações de marketing reverso? A resposta é não.
Semana passada uma nova e inusitada ação ganhou notoriedade nacional e dessa vez pelo seu extremo mau gosto.
Uma sequencia de outdoors apareceram na cidade de Curitiba solicitando o fim dos privilégios para deficientes. Quando falamos em privilégios para deficientes estamos citando leis que garantem o direito de várias situações do cotidiano, como acesso através de rampas, fila preferencial, vaga preferencial, cotas em empresas dentre outras coisas. Mas o negócio não parou por aí. Uma página no Facebook continuou a história do outdoor e recebeu as mais variadas "condolências".
Against the law, a "ação" foi massacrada pela população, seja lá em ato de hipocrisia ou de natureza coerente os comentários negativos reforçaram o mau gosto da mesma.
Quando vi as imagens pela primeira vez me veio logo que a tão famosa "Prefs" estava ali cavando uma cova maior do que a do jardim do Conde Chiquinho e que dessa vez o plot twist não existiria, e de fato não existiu.
O ponto é, tomar partido de algo tamanho onde não só se defende direitos mas sim leis, se fazia necessário uma análise urbana para saber se de fato a própria prefeitura obteria essa opinião da população, se a cidade de fato era vista como consciente da retórica que viria, mas o passo foi dado para um triste desfecho que deixa um amargo sabor para quem desenvolveu e segurou a onda quando a página ganhou notoriedade. A mesma página estruturada pelo Marcel Bely e mais um monte de profissionais sérios e ousados ganhou agora um velório pra fazer, e não haverá prêmios como a Leo Burnett mas sim um Bentley em sete palmos do chão.