O executivo e as batatas

Dizem que esse "causo", ou quase verdade, aconteceu no Sul de Minas, mas poderia ter acontecido em qualquer lugar.

Um notório executivo passou por uma experiência de burnout que acabou por afasta-lo de suas atividades cotidianas. Foi recomendado então que ele passasse um tempo longe da agitação da cidade grande, aposentasse suas telas e, principalmente, trocasse a opressão dos sapatos pela leveza dos chinelos.

Decidiu então partir para a roça, lugar rústico, com acesso restrito a internet. Era uma casa distante das oscilações dos mercados futuros, mas próxima de uma pequena horta, do ar puro e até mesmo de um curral, onde todas as manhãs lhe era dada a opção de trocar o call de abertura dos mercados por leite fresco, que acabara de ser ordenhado.

Bastaram poucos dias para que ele ficasse completamente entediado com tamanha oferta de nada a fazer!

Neste momento, ao observar que o empregado da fazenda, que mais se assemelhava a um sítio, adubava uma pequena área para futuro plantio, ofereceu ajuda. Relutante, o capataz acabou por ceder, ensinando, de forma apaixonada, o ofício que aprendera com o pai, que também aprendera com o pai e assim por diante.

Enquanto o executivo se esforçava para cumprir esta nova meta, o capataz decidiu aproveitar o tempo livre e partiu para reparar uma cerca nos limites da propriedade. Ao retornar, qual foi a sua surpresa ao notar que aquele dedicado homem havia adubado toda uma tarefa de roça!

No dia seguinte, sentindo-se revigorado, o executivo procurou novamente o capataz, em busca de novas metas. O maroto, notando que aquela poderia ser uma oportunidade para fazer melhor proveito de um belo dia, passou-lhe nova missão: selecionar batatas!

Dispostas ao fundo de uma construção simplória, ele deveria separar as batatas de acordo com o seu tamanho, visto que todas eram da mesma variedade. Havia uma pilha para as batatas pequenas, outra para as médias e, por um, uma terceira para as graúdas.

Dada a missão, o capataz partiu para o vilarejo, onde esperava passar o dia liquidando os fiados, prozeando com amigos e, se sorte tivesse, paquerando a filha do dono da mercearia. Ao fim da tarde, esperava encontrar o serviço feito, com a mesma eficiência, visto que a tarefa nada tinha de desafiadora.

Ledo engano!

Encontrou o pobre executivo, sentado ao chão, com duas batatas nas mãos, porém sem qualquer pilha de batatas formada. Ao perguntar sobre o ocorrido, recebeu a resposta em tom de desabafo:

"Eis a história da minha vida! Para espalhar excrementos (em substituição a uma expressão mais chula) eu sou ótimo. Agora, para tomar decisões..."

Marcelo Gama, 17 de janeiro de 2023.