O fortalecimento dos serviços de streaming
Fica claro nos dias de hoje o fortalecimento dos serviços de streaming, sejam aqueles dedicados ao consumidor doméstico, como Globoplay, Netflix ou Amazon Prime, ou de distribuição vinculada a eventos, como festivais de cinema com exibição online, por exemplo. Esses serviços que a gente tanto conhece têm origem na fusão da internet com a televisão, o que gerou uma série de conteúdos audiovisuais novos e de caráter “online”.
O momento particular em que nós estamos vivendo trouxe mais para perto o streaming do consumidor, direcionando o espectador para um modo bastante singular de consumir conteúdo. A migração de interesse em direção às narrativas seriadas é um comportamento que vem se observando bastante, e contribui para um buzz cultural dos programas de televisão no imaginário popular. Apesar das séries de TV já terem tido o seu auge no passado, é possível afirmar que esse segmento está atualmente passando por uma “era de ouro”.
O streaming traz à tona o enfoque nas produções voltadas para públicos de nicho, pois propaga-se um conteúdo que se afasta da esfera pública e generalista, de caráter universal, para todos, e vai para a escala individual, que se fixa no mercado residencial e na ideia de VOD.
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Nesse sentido, a pirataria é uma prática importante de ser falada. Ela surge como uma alternativa ao streaming, mesmo que ilegal, e uma possibilidade para muitos usuários que buscam um conteúdo ainda mais acessível. Além disso, numa entrevista do CEO da Netflix com o jornal Folha de São Paulo em 2013, a empresa revelou usar a pirataria de filmes como base para formar o catálogo da plataforma. O CEO da época, não sei se é o mesmo, afirmou que o serviço da Netflix se atenta bastante para o interesse do público que as emissoras não conseguem suprir. Segundo ele, a partir daquilo que é mais baixado em Torrent etc., a empresa se empenha em comprar os direitos de transmissão e faz a ponte entre o público e seus interesses.
Uma fala que é bastante reproduzida, uma ideia na verdade, já disseminada em vários textos, é a de que a Netflix e outros serviços de VOD irão “matar a televisão”. Não é de agora que encontramos análises sobre um fim próximo da TV, que seria eventualmente substituída pela internet. De fato, no atual contexto de transição entre a TV analógica e digital há uma atualização de tecnologias que impactam a forma de produzir, distribuir e consumir conteúdo, mas pensar no fim de uma mídia, é ignorar todo um cenário complexo que se reinventa a cada nova tecnologia que surge. A própria Netflix não rompe por completo com a lógica da televisão, a partir do momento que adota até hoje em seu catálogo séries de TV oriundas dos canais abertos e fechados norte-americanos.
E por fim, a cultura das séries, sobretudo ligada ao estrangeiro (mais especificamente norte-americano), traz uma padronização de estética e narrativa. Há uma “doutrinação” e “colonização" de certa forma a partir do momento que o que é “bom” e “de qualidade” está ligado ao hábito de serialização e conteúdo estrangeiro. É fundamental voltar a atenção a esse processo, visto que está presente nas práticas culturais de inúmeras pessoas, influenciando novos roteiristas e diretores e tornando-se referência para os nossos próprios programas aqui no Brasil.