O futuro do bem-estar no local de trabalho

O futuro do bem-estar no local de trabalho

A nossa saúde e bem-estar é o resultado de uma interação complexa entre os nossos genes e diversos determinantes externos. Atualmente considera-se que os nossos genes apenas contribuem em cerca de 10% para o nosso estado de saúde. Os restantes 90% estão relacionados com os nossos cuidados de saúde, com o ambiente onde vivemos, com características socioeconómicas e com os nossos comportamentos de saúde. Ou seja, as condições em que vivemos, aprendemos, trabalhamos e convivemos desempenham um papel muito importante na nossa saúde e longevidade.

Para combater a escalada das doenças crónicas, que têm custos financeiros e humanos, é fundamental melhorar este ecossistema do qual resulta a saúde e bem-estar da população.


O mercado da saúde e bem-estar

Entre 2016 e 2017, o mercado do bem-estar e promoção da saúde cresceu 6,4%, enquanto que a economia global cresceu 3,6% (Fonte: Global Wellness Institute). Uma fatia deste mercado diz respeito ao que é feito a este nível no local de trabalho.

As ações de promoção da saúde e bem-estar no local de trabalho são ainda poucas face ao crescente peso económico de uma sociedade cada vez menos saudável. Em 2017, os quatro países onde as empresas mais investiram nesta área foram:

  1. Estados Unidos da América
  2. Japão
  3. Alemanha
  4. Reino Unido

Daqui se nota que há uma concentração de esforços nos países mais desenvolvidos, onde os empregadores procuram reduzir os custos de saúde, aumentar a motivação, a retenção e captação de talento, assim como aumentar a produtividade e competitividade.


Uma medida não serve a todos

As necessidades relacionadas com a saúde e bem-estar no local de trabalho variam muito de país para país, de setor para setor, de empresa para empresa. Por exemplo, no Japão, para fazer face às excessivas horas de trabalho, o governo decidiu colocar um limite para horas extraordinárias permitidas por lei e reconhece publicamente as empresas que desenvolvem esforços para melhorar a saúde e bem-estar dos seus colaboradores.

Nos Estados Unidos da América os programas de promoção da saúde e bem-estar têm visado a diminuição das despesas com a doença. No entanto, nos últimos anos as empresas têm procurado também implementar ambientes de trabalho com um design mais saudável, estruturas hierárquicas mais simples, trabalho flexível e a partir de casa, mais dias de férias, entre outros, de forma a aumentar o envolvimento dos colaboradores, o equilíbrio vida-trabalho, a satisfação e felicidade no trabalho.

Alguns governos europeus oferecem benefícios fiscais às empresas que têm programas de promoção da saúde e bem-estar, como é o caso da Alemanha, Áustria, Irlanda, Suécia e Finlândia.


Saúde, bem-estar e produtividade são dimensões interdependentes

No seu livro Dying for a Paycheck, Jeffrey Pfeffer refere que o stress no local de trabalho, por ele visto como uma combinação de longas horas de trabalho, elevada exigência, pouca autonomia e falta ausência de seguro de saúde, é responsável por 120 000 mortes por ano e 5-8% das despesas de saúde para os Estados Unidos da América.

Por cá, a Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho (EU-OSHA) constatou que o stress laboral é o segundo problema de saúde mais reportado na Europa, sendo responsável por 50 a 60% do total de dias de trabalho perdidos. Pessoas stressadas, cansadas e desmotivadas não são capazes de alimentar a inovação, o crescimento e a prosperidade de que as empresas precisam.

De referir que o stress é apenas uma temática. Muito se pode fazer ao nível da atividade física, alimentação, cessação tabágica, sono, saúde mental, etc. Estamos a assistir a uma troca da vitalidade pela doença, da alegria pela desmotivação, da eficácia pelo burnout.

“Os números indicam que as doenças não transmissíveis têm o potencial de não apenas arruinar os sistemas de saúde, mas também de abrandar a economia global. Enfrentar esta questão exige uma ação conjunta de todos os atores dos setores público e privado.”
- Olivier Raynaud, Senior Director of Health, World Economic Forum


O futuro da saúde e bem-estar no local de trabalho

Dizer que o bem-estar é uma tendência torna-se insuficiente. O bem-estar é cada vez mais um valor e a cultura de saúde e bem-estar algo a construir nos diversos setores da sociedade. No futuro assistiremos a um crescente dos seguintes fatores:

  • Os colaboradores estarão cada vez mais informados e sensibilizados para o impacto do trabalho na sua saúde e bem-estar;
  • Os consumidores estarão atentos e irão privilegiar as empresas que procuram ter um impacto positivo na saúde dos colaboradores e da comunidade;
  •  Ações de promoção da saúde e bem-estar não serão intervenções pontuais associadas a “diversão”, serão uma parte da cultura e centrais para a gestão e missão das empresas;
  • As empresas que queiram atrair e reter talento terão de desenvolver uma cultura de saúde e bem-estar;
  • Será crescente o reconhecimento por parte das empresas e dos seus líderes de que promover saúde e bem-estar é benéfico e positivo para o negócio;
  • Cada vez mais as pessoas verão o trabalho como um local de inspiração e de crescimento pessoal, do qual resulta uma vivência positiva e enriquecedora;
  • Como já vem acontecendo, as entidades reguladoras e os governos irão gradualmente encorajar e legislar a promoção da saúde e bem-estar no local de trabalho através, por exemplo, de incentivos fiscais.

É para este futuro que trabalho todos os dias. Aquele onde as pessoas são cada vez mais saudáveis, realizadas e felizes. 


© Patrícia Rodrigues - Fundadora Work-Life Balance


Artigo inicialmente publicado em www.wlbalance.pt


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