O impacto do narcisismo materno
“O transtorno de personalidade narcisista é um padrão de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia” (DSM-5). Uma pessoa que tem um transtorno de personalidade tem um padrão diferente – do que diz a norma social/cultural - de visão de si mesma, do mundo e do outro. Tendo uma inflexibilidade de pensamentos, um atraso no desenvolvimento psicológico, a inabilidade para reconhecer emoções e uma enorme dificuldade, ou incapacidade, de se importar com o outro.
Diante dessa explicação é possível saber, de antemão, que quando o transtorno narcisista se aplica no contexto da maternidade ele afeta todo o desenvolvimento da sociedade. Uma mãe narcisista é capaz de produzir muitos abusos sobre o(s) filho(s) e gerar um intenso sofrimento e adoecimentos psíquicos – tanto na(o) filha(o) escolhida(o) para ser a vítima (bode expiatório), quanto na(o) filho escolhido como o protegido (dourado).
A mãe narcisista só consegue enxergar a si mesma, suas vontades são as únicas que importam, e para conseguir o que quer ela tripudia em cima de todos que estiverem no seu caminho. É mais comum que a escolhida para bode expiatório seja a filha mulher, por uma questão da nossa cultura patriarcal e machista que gera competitividade e inveja entre mulheres a todo momento (com foco em questões físicas), mas, também acontece com filhos homens (com foco em questões sociais). Quando há a presença de um marido, esse se torna omisso diante de todo o contexto de abusos e violências. Ou seja, o narcisismo materno afeta todas as pessoas da família.
O transtorno narcisista é estruturado por ações que servem para tampar vazios emocionais, e muitas vezes, outros transtornos psicológicos. Por não saber lidar com a tristeza e a falta de afeto, por exemplo, a mãe narcisista pratica violências físicas (agressões) e psicológicas (chantagens emocionais e manipulações) contra a(o) filha(o). E por ter uma baixa autoestima, ela se esforça para rebaixar a(o) filha(o), humilhando e diminuindo seu valor, já que é a única forma de se sentir superior a alguém.
Por valorizar muito a aparência, a mãe narcisista cria um teatro para manter o status social de boa mãe (o que é esperado e aceitado pela sociedade que enxerga a maternidade de forma romântica e idealizada). Então, com a invisibilidade do sofrimento e a vivência dentro desse relacionamento tóxico é muito desgastante para as(os) filhas(os), pois além de sofrer as violências e abusos, são desacreditadas(os).
Ser vítima de mãe abusiva pode acarretar em diversas formas de sofrimento psíquico, como: depressão, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós traumático, transtornos alimentares, transtornos de personalidade (inclusive o narcisista, pois tem a característica de ser transgeracional), transtornos por uso de substâncias etc.
Para lidar com o adoecimento psíquico, é preciso investir na própria saúde mental. A(o) filha(o) de mãe narcisista deve estar em processo psicoterapêutico buscando o autoconhecimento e desenvolvendo estratégias para conseguir se desligar da mãe narcisista, acabando com a co-dependência. Visto que, o narcisismo patológico não tem cura (a mãe narcisista se vê como perfeita e correta, não terá nunca questões a resolver), então, é o distanciamento/o contato zero a única possibilidade de acabar com o sofrimento, deixar o papel da vítima e assumir a posição de sobrevivente.
REFERÊNCIAS:
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.
ENGELKE, Michele. Prisioneiras do espelho: um guia de liberdade pessoal para filhas de mães narcisistas. (Ebook). Edição Digital, 2016.