O Incentivo à Experimentação nas Empresas
Em continuidade à sequência de artigos relacionados aos quatro aspectos que fazem parte de uma cultura corporativa inovadora, sendo elas a tolerância ao erro; o incentivo à experimentação; o ambiente seguro psicologicamente; e o trabalho colaborativo, e já tendo escrito na edição passada sobre a tolerância ao erro, trazemos agora o aspecto do incentivo à experimentação.
O método científico é definido como um processo divido nas etapas de: observação, problematização, formulação da hipótese, experimentação e teoria. Este processo, embora efeito às universidades e centros de pesquisa, não fazia parte do léxico corporativo, a não ser que se trata-se de seus, muitas vezes bens guardados, departamentos de P&D.
Tudo mudou quando startups começaram a se tornar ameaças a grandes empresas tradicionais. Neste momento muitos se perguntavam como elas poderiam, quase sem estrutura alguma e com poucos recursos, ameaçar grandes empresas bem estruturadas e capitalizadas?
Demorou ainda algum tempo até que o mundo corporativo entendesse que essas empresas eram como botes infláveis, ao passo que as grandes empresas seriam como grandes transatlânticos. Enquanto aquelas, leves e ágeis se movimentavam de um lado para o outro com rapidez e liberdade, estas com muito custo faziam algum movimento e mesmo assim dentro de uma rota esperada e nada que pudesse chegar a ser disruptivo.
Nesse metáfora naval, perceberam que a agilidade das startups permitia a elas percorrer esse método científico de forma tão rápida que enquanto uma grande empresa demorava anos para gerar uma inovação, a startup era capaz de mudar seu modelo de negócio várias vezes (ação denominada como “pivotar”) até encontrar o modelo de negócio ideal.
A experimentação então se tornou mais comumente discutida no mundo dos negócios de forma mais aberta, e em 2011 tomou o mundo corporativo, a partir do lançamento do livro “The Lean Startup”, em que seu autor, Eric Ries, utiliza do conceito do pensamento enxuto, aplicado em algumas áreas de negócio, como produção e logística, bem como em conceitos de métodos ágeis de desenvolvimento de softwares como o “scrum” e “extreme programming”, para criar um novo conceito na criação de produtos e modelos de negócio inovadores.
Eric Ries trouxe a aplicação do método científico para a ideação de produtos e modelo de negócios inovadores, em que a experimentação se torna uma das atividades fundamentais para o sucesso de uma startup.
A partir daí, muitas empresas em busca de conquistarem a mesma vantagem competitiva que viam nas startups, passaram também a buscar meios de tornar a experimentação uma fonte de inovação.
Apenas se esqueceram de que um transatlântico foi feito para atravessar um oceano, e por isso trabalha com previsibilidade climática, local certo e seguro para atracar e com rotas de navegação seguras até o seu destino, condições bastante diferentes de um bote, que embora não atravesse um oceano, pode explorar de forma ágil e livre tudo o que está a sua volta.
Assim, mais uma vez um conceito importante para a inovação não se tornou prática. Cito sempre o exemplo de quanto como executivo tive de apresentar o orçamento para um novo modelo de negócio inovador no mercado em que atuava. Embora afirmasse que se tratava de uma disrupção dos modelos de negócios tradicionais, o conselho de administração à época me pedia uma previsão de retorno do capital com a previsibilidade de um transatlântico, quando a proposta era de lançar um bote ao mar. O resultado foi o fim daquele projeto naquela empresa.
Outro fator bastante preponderante para que a inovação por meio da experimentação não conquiste resultados práticos em empresas tradicionais ocorre quanto se tornar uma forma de justificar a falta de disciplina e de comprometimento das equipes com o resultado de uma iniciativa inovadora.
A experimentação como parte do método científico representa o teste de uma hipótese, a qual pode ser positiva, confirmando essa hipótese, ou negativa, tornando a hipótese falsa. Quanto este teste se revela falso, o método científico dever ser repetido, sendo elaborada novas hipóteses, sempre com o compromisso de se chegar à uma conclusão.
A repetição desse processo sem o compromisso e a disciplina adequados pode levar ao teste de hipóteses de forma aleatória e improdutiva, consumindo recursos até que estes se esgotem, e é desta forma que a inovação deixa de acontecer, quando não pior, passa a ser considerado algo a ser evitado nas empresas tradicionais, pois apenas consome recursos e não gera resultados.
Por isso a contrapartida da experimentação é o alto grau de disciplina e comprometimento com o seu resultado. Equipes com pouca disciplina e compromisso, em que há muita iniciativa e pouca “acabativa”, não são ambientes propícios para que a experimentação gere inovação.
E não podemos neste caso confundir disciplina com processo. Empresas muito baseadas em processos podem vir a ser confundidas com empresas de alta disciplina e comprometimento, uma vez que tais processo quando bastante bem controlados por seus sistemas impossibilita qualquer falha de disciplina e comprometimento.
No entanto esta não é a disciplina e compromisso requeridas para um ambiente propício à experimentação, pois é imposta, controlada, que impede que um colaborador tome uma decisão diferente do que já está programado, o que é incoerente com o método científico, uma vez que ações programadas indicam que não se está testando uma nova hipótese inovadora, apenas colocando-se em prática algo já testado e comprovado.
A disciplina e compromisso às quais me refiro busca inovação por meio de formulação de hipóteses, que mesmo que não estejam corretas, sua produtividade está em extrair o maior número de aprendizados possíveis para que se encontre a hipótese certa na experimentação seguinte.
Portanto, como fazer com que a experimentação seja efetiva em empresas tradicionais? Como o transatlântico poderia vir se movimentar como um bote? Como flexibilizar processos em busca da inovação sem causar desastres?
Lembremos que em todo transatlântico também há botes, mas normalmente estão lá apenas para o caso de um desastre. A ideia é justamente utilizá-lo com mais frequência, de forma autônoma e livre, para explorar ao redor da embarcação principal, e não apenas serem utilizados no caso de um naufrágio.
Nesse sentido é que empresas tradicionais criam seus Corporate Venture Capital, que as permite investir em startups sem maiores riscos ao negócio, ou criam departamentos e equipes de inovação interna, separados da estrutura de departamentos, já que estes têm dificuldades em inovar por estarem absorvidos por suas atividades táticas e operacionais.
Equipes que tenham como principal responsabilidade gerar resultados com a inovação desenvolvem atitudes de disciplina e comprometimento mais autônomo, criando um ambiente de experimentação que pode chegar a influenciar todas as demais áreas da empresa.
E assim, temos a lição número dois da inovação na prática: A experimentação só leva à inovação por meio de equipes altamente disciplinadas e comprometidas!
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5 aExcelente artigo!!! 👏👏👏 Quero conhecer a ABREME...