O incrível e desconhecido fenômeno da Descentralização Progressiva
“Mudou a Mídia, Mudou a Mente” - McLuhan.
Permitam um Parênteses dos Escritos.
O presente artigo é mais Ambientológico do que Fenomenológico.
Quando vamos organizar um Ambiente de Diálogo - é isso que faz um cientista - é preciso explicar os seguintes aspectos:
Fenomenológico - do Fenômeno em si;
Ambientológico Geral - dos impactos do estudo do Fenômeno em si, na Ciência de Referência e nas demais Ciências Correlatas;
Ambientológico Específico do Fenômeno - do passado das diferentes Escolas de Pensamento e daquela que foi adotada pelo cientista;
Ambientológico Específico do Ambiente - reflexões de onde e como a pesquisa é feita, pois isso tem algum impacto nas conclusões obtidas.
Fecha o parênteses.
Vamos agora Bimodalizar o livro “McLuhan por McLuhan - entrevistas e conferências inéditas do profeta da globalização” organizado por Stephanie McLuhan e David Staines.
Ries, que Bimodalizamos nos artigos anteriores, falou muito sobre futuro incerto e incertezas, mas podemos definir a seguinte regra no geral sobre prognósticos futuros:
Quanto mais uma análise de futuro é baseada em Padrões Históricos Fortes, maior terá a chance de ser mais consistente e vice-versa.
Quando pensamos em Ciência e análises de fenômenos, temos uma fantasia de que os cientistas procuram uma verdade final, única e definitiva.
Expressa nesse tipo de frase: “A ciência ou os cientistas já provaram isso.”
Isso é falso!
A Ciência não procura verdades, mas Melhores Verdades Provisórias, que nos ajudem a entender e lidar melhor com os fenômenos. Simples assim.
Assim, quando queremos tomar decisões melhores, OBRIGATORIAMENTE, teremos que escolher a Abordagem Científica que consideramos a mais consistente entre as tantas disponíveis.
Hoje, diante da tentativa de compreender as rápidas, incompreendidas e disruptivas mudanças do novo século, há um conjunto enorme de Abordagens Científicas procurando explicar tudo isso.
Assim, podemos dizer que:
Não existe uma única explicação para compreender as mudanças do novo século, mas várias e o mais terrível: é recomendável você escolher a melhor possível.
A Bimodais escolheu - entre tantas disponíveis - a Visão Mais Midiática do Cenário, que parte da ideia de que o principal Fator Detonante da atuais mudanças que estamos assistindo na sociedade se deve à chegada de uma nova mídia.
A Visão Mais Midiática do Cenário tem origem nas pesquisas lideradas pelo Cientista da Inovação Civilizacional, Marshall McLuhan (1911-80), que defendeu a ideia de que toda vez que se muda a mídia, a sociedade muda junto.
Permitam um Parênteses dos Escritos.
Vejamos as opções que temos dos diferentes cientistas da Inovação:
Cientista da Inovação - Conceituador que estuda a Inovação independente das camadas, sejam ela Civilizacional, Grupal/Organizacional e Pessoal;
Cientista da Inovação Civilizacional - Conceituador que estuda a Inovação no âmbito da civilização;
Cientista da Inovação Grupal - Conceituador que estuda a Inovação no âmbito dos grupos, onde se incluem as organizações;
Cientista da Inovação Pessoal - Conceituador que estuda a Inovação no âmbito das pessoas.
Fecha o parênteses.
O livro “McLuhan por McLuhan” é de difícil leitura, pois considero McLuhan - apesar de ter uma grande admiração por ele:
Prolixo demais;
Pouco claro nas explicações;
Pouco Ambientológico.
(Segundo Tio Chatinho: “"Prolixo" é um adjetivo que descreve alguém que tende a ser excessivamente longo ou verborrágico em sua fala ou escrita, utilizando mais palavras do que o necessário para expressar uma ideia. Uma pessoa prolixa tende a ser redundante e pode dificultar a compreensão do seu discurso devido ao excesso de detalhes ou repetições.”)
Diria que Pierre Lévy - por quem me apaixonei intelectualmente primeiro - foi muito mais claro, objetivo e fácil de passar a mensagem sobre a ideia de “mudou a mídia, mudou a sociedade”.
O que aproveitei mais do livro “McLuhan por McLuhan” foi justamente o prefácio feito por Tom Wolfe.
Wolfe, ao falar de McLuhan, nos diz:
“Em 1966, os fiéis da cibernética viram a obra e as profecias de McLuhan como a nova teoria da evolução.”
Deixa eu Bimodalizar isso.
McLuhan não fez profecias, mas apontou macrotendências, baseado em padrões históricos - o que é bem diferente.
Profecia, segundo o Tio Chatinho é:
“Uma profecia é uma declaração ou previsão sobre eventos futuros, geralmente atribuída a uma fonte divina, sobrenatural ou inspirada.”
Apontar tendências ou prognósticos é um dos estágios do trabalho de toda Ciência ao estudar determinado fenômeno, precedido por um diagnóstico e de um possível tratamento, quando é o caso.
O que McLuhan fez sobre o futuro não foram profecias, mas prognósticos, por se tratar de um cientista e não de um cartomante!
Quando Wolfe escreve que McLuhan defendeu uma “nova teoria da evolução” é interessante, mas pouco preciso.
Na Bimodalização do termo “teoria da evolução”, optamos por usar o novo Motor da História.
O Motor da História é um conceito que procura explicar como ocorrem as Grandes Guinadas Civilizacionais - é o epicentro da Ciência da Inovação Civilizacional.
Na procura de definir o Motor da História, como no estudo de qualquer fenômeno, um cientista procura apontar os Fatores Causantes, Detonantes e Consequentes.
Na nossa análise, que aprofundou os estudos de McLuhan, temos:
Fator Causante - Complexidade Demográfica Progressiva;
Fator Detonante - Revolução de Mídia;
Fator Consequente - Nova Civilização, tendo no seu epicentro um novo Macro Modelo de Cooperação Mais Descentralizado.
Diz ainda Wolfe sobre McLuhan:
“Não consigo pensar em outra figura que tenha dominado todo um campo de estudos na segunda metade do século XX.”
E o compara com outros grandes cientistas:
“Darwin na biologia (...) Einstein na Física e Freud na Psicologia e Marshall McLuhan nos estudos da comunicação.”
Permitam retificações.
McLuhan se denominava Cientista da Comunicação, mas ele foi pouco Ambientológico na sua análise.
O que isso significa?
McLuhan estudou o fenômeno das mídias, no escopo da Ciência da Comunicação, mas não refletiu sobre os impactos que suas conclusões teriam na Ciência Social como um todo.
A ideia de que “mudou a mídia, mudou a sociedade” - uma constatação que se torna cada vez mais evidente - ainda mais agora depois do Digital, criou uma Anomalia na Ciência Social.
Segundo o Tio Chatinho:
“Uma anomalia científica refere-se a uma observação, resultado experimental ou fenômeno que contradiz as expectativas ou os modelos teóricos aceitos dentro de uma determinada área da ciência. Essas anomalias desafiam as explicações convencionais e podem indicar lacunas no entendimento atual ou a necessidade de revisão das teorias existentes.”
Vivemos hoje, assim, uma Forte Anomalia da Ciência Social, pois com o ferramental que temos não conseguimos entender o atual cenário e projetá-lo para frente.
Tal Macro Anomalia da Ciência Social impacta diretamente todas as Ciências Sociais, que são filhas desta.
É por causa da Macro Anomalia da Ciência Social que temos hoje Administradores, Educadores, Economistas, Psicólogos, entre outros, tão perdidos diante deste novo cenário.
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McLuhan - mesmo sem muita consciência de tal fato - criou um novo Motor da História para a Ciência Social, o que implica:
No questionamento, dos outros Motores da História 1.0, que ficaram obsoletos;
A inauguração da Ciência Social 2.0, que passamos a chamar também de Ciência da Inovação, a partir da ideia de que não se pode falar do Sapiens que não seja em eterno e progressivo movimento;
E na criação da Ciência da Inovação Civilizacional, no qual o estudo dos Motores da História Civilizacionais passam a ser o epicentro.
McLuhan, como explica Wolfe, se inspirou no outro Cientista da Inovação Civilizacional, Harold Innis (1895-1952).
“Innis insistia que a imprensa inventada no Século XV por Johann Gutenberg havia provocado a expansão do nacionalismo em oposição ao tribalismo.”
Podemos dizer que Innis foi o pai de McLuhan e o avô de Pierre Lévy e nós da Bimodais somos seus bisnetos.
McLuhan não só teve uma colaboração importante na nova Ciência da Inovação Civilizacional, mas também colaborou com a ideia de que “Mudou a Mídia, Mudou a Mente”.
McLuhan foi pioneiro nos estudos da relação das mídias, da mente e da Inovação Pessoal.
O interessante é que o livro “McLuhan por McLuhan” na sua versão em português chama a atenção no título para o “profeta da globalização”.
Não só é uma disparidade diante do título em inglês: “Understanding me: lectures and interviews.”, que briga completamente com a ideia de “McLuhan por McLuhan - entrevistas e conferências inéditas do profeta da globalização.”
Que seria:
“Me entendendo, a partir dos meus textos e entrevistas”.
Chama McLuhan de profeta e não cientista - o que, do ponto de vista científico, é mais um xingamento do que um elogio.
E, por fim, apesar de McLuhan ter usado o termo “aldeia global” a sua grande contribuição não está ali, mas na sua capacidade de entender a relação da mídia com a história.
Vamos a uma frase direta de McLuhan sobre isso:
“Vocês que usam os meios de comunicação, que são donos dos meios de comunicação, que investem milhões nos meios de comunicação e dependem deles - vocês nem sequer começaram a entender os meios de comunicação e o modo como eles realmente afetam os seres humanos.”
Ou seja, usar a mídia é uma coisa, entender a sua dinâmica como modificadora da civilização é outra bem diferente.
Diz Wolfe:
“McLuhan defendeu que os novos meios de comunicação como a televisão tinham o poder de alterar a mente humana e, portanto, a própria história.”
A Bimodais como escola e o Nepô como Conceituador da Ciência da Inovação abraçaram a Escola de Pensamento Mcluhaniana como seu Núcleo Duro inicial.
O conceito de que “Mudou a Mídia, mudou a sociedade” foi o nosso ponto de partida, o nosso Núcleo Duro.
Tio Chatinho nos diz que Núcleo Duro:
“Na ciência, o termo "núcleo duro" é frequentemente usado para descrever o conjunto de princípios fundamentais, teorias ou conceitos centrais que formam a base de uma disciplina específica. Esses princípios são amplamente aceitos e têm um papel fundamental na estruturação do conhecimento dentro de um campo científico.”
Vou discordar dele.
Segundo o Cientista da Ciência, Imre Lakatos (1922-74), a Ciência se divide em Escolas de Pensamento, que criam diferentes abordagens sobre um determinado fenômeno.
Tais Escolas (que não são de tijolo, mas conceituais) criam um Núcleo Duro, uma pedra fundamental, para que os diferentes pesquisadores - que considerem aquele o melhor caminho - possam desenvolver sua pesquisa.
Escolas de Pensamento disputam um lugar ao sol em todas as ciências, principalmente nas sociais, como na Economia, na Educação, na Psicologia.
O problema que temos hoje é que o estudo do Digital ficou sem pai nem mãe.
Qual é a Ciência Referência para estudarmos o Digital?
E se temos uma quais são as Escolas de Pensamento para podermos escolher a mais adequada?
A Bimodais escolheu o Núcleo Duro proposto por Harold Innis, que foi bem marqueteado e aprimorado por McLuhan.
A Bimodais faz parte de uma Escola de Pensamento Innisiana ou McLuhaniana na sua abordagem sobre o Digital.
Porém, uma Escola de Pensamento se baseia naquele Núcleo Duro, que pode ir se aperfeiçoando.
Quando concordamos com a ideia de “mudou a mídia, mudou a sociedade” altera o Motor da História, não estávamos mais estudando a comunicação, mas a Ciência Social.
Sem questionar esse ponto central, “mudou a mídia, mudou a sociedade” nós percebemos que a mídia era apenas o Fator Detonante do processo.
E podíamos aplicar os conceitos científicos para procurar os Fatores Causantes e Detonantes sob este novo ponto de vista.
Nos perguntamos:
Se as Revoluções de Mídia eram Fenômenos Civilizacionais Recorrentes - que se repetem no tempo - por que se repetem?
Veja a regra:
Podemos afirmar que:
Quando um fenômeno tem repetições ao longo do tempo, há sempre um motivo para a recorrência. E o papel do cientista é descobri-lo!
A Bimodais, a partir das premissas canadenses, foi mais fundo no Motor da História.
A Bimodais abraçou a abordagem canadense, a aprimorou e procura ter uma atitude mais Ambientológica, procurando criar a Ciência da Inovação Bimodal, que passou a ser a nossa Ciência de Referência.
Em resumo:
Muita gente procura entender o Digital na base das sensações e não dos padrões.
Pior.
Acredita que temos diante do Digital uma só abordagem e não várias disputando - de forma velada, mas intensa - corações e mentes.
Diante de tudo isso, chegamos a conclusão que precisamos encarar o Sapiens de uma maneira completamente diferente do que tínhamos antes.
A Ciência da Inovação Bimodal defende que:
Somos uma Tecnoespécie que consegue aumentar a população, pois sempre resolve os novos problemas de complexidade, inovando e criando novas formas de pensar e agir, sempre com o apoio de novas tecnologias;
Uma Tecnoespécie, por aumentar a população, passa a ter problemas mais complexos e, por causa disso, precisa reinventar seus modelos de comunicação e cooperação;
Porém, a história nos mostra que a reinvenção dos modelos nos leva à Descentralização Progressiva.
Por quê?
A única forma sustentável do Sapiens lidar com mais complexidade, é aumentando a participação das pessoas nas decisões e nas operações.
O restaurante a quilo é o exemplo típico da lógica da Descentralização Progressiva - citado no meu último livro “Civilização 2.0”.
Explico.
Com muito mais gente para comer, em menos tempo, a saída criada pelos restaurantes a quilo foi “se sirvam!”.
Se analisarmos as tendências da sociedade ao longo dos últimos anos, veremos projetos de todos os tipos, sugerindo ao Sapiens: “se sirvam”, “façam sozinhos”, “é contigo mesmo”.
Acessem o banco diretamente, comprem ingressos em casa, tenham moedas descentralizadas e globais.
O recado do mundo Digital é: precisamos de ajuda para poder lidar melhor com esta nova Complexidade Demográfica de oito bilhões de Sapiens.
Assim, a regra é essa:
Quanto mais Sapiens tivermos no planeta, mais e mais a sociedade terá que descentralizar as operações e as decisões. Isto não é um desejo, mas um prognóstico.
É isso, que dizes?