O isolamento vertical e horizontal e os impactos econômicos
É normal que após você se formar no ensino superior, as pessoas te consultem para saber a sua opinião sobre alguns assuntos. No meu caso, principalmente os econômicos que pertencem a minha área de formação.
Bom, nesse contexto, eu sempre penso sobre o quão privilegiado sou, não apenas por ser referência para alguém, isso na verdade me deixa muito feliz, mas sim pelo fato de que apenas 16,5 por cento da população brasileira tem ensino superior completo.
Esse pode ser assunto para um próximo texto, então vamos ao que interessa.
Mais de uma pessoa me perguntou o que penso a respeito do isolamento vertical versus o isolamento horizontal e os seus impactos econômicos.
Para quem não entende a diferença, vou explicar brevemente, o que significa cada tipo de isolamento social.
O isolamento horizontal consiste em deixar as pessoas, o máximo de tempo possível isoladas em casa, evitando contato social para que a propagação do coronavírus (ou de qualquer outro surto viral) seja significativamente reduzido.
Em contrapartida, o isolamento vertical consiste em isolar apenas aquele grupo de pessoas que são classificadas como grupo de risco para a doença.
No caso do coronavírus, nessa categoria de grupo de risco são incluídos os idosos acima de 60 anos, diabéticos, hipertensos, pessoas com problemas respiratórios ou problemas cardíacos, asmáticos, doentes renais e fumantes.
E qual o método de isolamento é mais eficiente?
Para essa pergunta, a resposta é depende. Isso porque na ciência precisamos de diversos dados para analisar o impacto e a disseminação de um vírus, sobretudo, quando esse vírus é uma “novidade”.
Com isso, o melhor a ser feito é tomar medidas mais restritivas e, portanto, conservadoras para evitar a maior propagação do coronavírus.
Também devemos sempre considerar as vidas humanas. Sempre que você estiver diante de uma situação em que a economia possa ruir, por mais que eu não acredite nesse argumento — explico mais no final — é preferível que as pessoas fiquem salvas.
Uma pergunta que vi por aí e que te faço: “Quantas pessoas da sua família devem morrer para salvar a economia?”
Claro que não posso falar pela ciência, mas os meus argumentos são baseados em estudos de cientistas, um desses estudos você pode consultar aqui.
Mas Diogo, se a economia quebrar essas pessoas vão morrer de fome lá na frente.
Bom, primeiro tire do seu argumento que a economia pode quebrar, pois antes disso existe um agente importante, que surge nesse momento e se chama Estado.
Sei que muitos preferem negar e até criticar a presença do Estado na economia, mas o fato é que nenhuma política liberal (ou até neoliberal) ficou de pé em momentos de crise, como essa que estamos vivendo.
Apenas para que você entenda, as políticas liberais e neoliberais pregam a menor intervenção do Estado na economia, claro que cada uma à sua maneira.
Um bom exemplo da importância do Estado, nestes momento de crise, é a Crise do Subprime, iniciada em agosto de 2007, quando os Estados Unidos, literalmente imprimiu dinheiro para salvar a economia.
E agora, neste ano de 2020, que estamos vivendo a epidemia do coronavírus, os governos de todo mundo já aprovaram medidas de ampliação do gasto público.
Os Estados Unidos, por exemplo, aprovou na última sexta-feira (27), um pacote de 2,2 trilhões de dólares, praticamente o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, em estímulo econômico para famílias, empresas e sistemas de saúde.
Não só os norte-americanos, mas na Europa, os países que fazem parte da União Europeia, também aprovaram o aumento de gastos do governo para conter o impacto econômico da epidemia do coronavírus. Sendo que lá, os critérios de aumento desses tipos de gastos são muito mais rígidos.
Se continuássemos listando, teríamos exemplos de outros países que adotaram medidas de estímulo econômico, como a China, a Alemanha e até o Brasil.
Outra coisa que não parece, mas quando o governo gasta, esse gasto na verdade é considerado como um investimento, pois há o que chamamos de “fluxo circular da renda”, que basicamente define como o dinheiro se movimenta na economia e qual será o impacto desse gasto do governo e como será o retorno desse investimento para o próprio governo.
Além disso, o PIB já citado anteriormente, é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país durante um ano. Nessa conta, leva-se em consideração o consumo das famílias, investimentos das empresas, consumo do governo e a diferença entre o que foi exportado e importado, essa última parte é conhecida como balança comercial.
Considerado como é formado o PIB, em uma análise não dá para sair dizendo que a economia vai simplesmente “quebrar”. Isso porque são precisos inúmeros fatores externos e internos para que isso aconteça.
Adicione as considerações a respeito do impacto econômico, o fato do Brasil ser um país extremamente desigual, onde atualmente 40,7 por cento da população está trabalhando de maneira informal, sendo que a metade dos trabalhadores vivem com menos de um salário mínimo, ou mais precisamente, 820 reais por mês, de acordo com o levantamento do IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2018.
Dessa forma, assim como na teoria Keynesiana, o Estado serve para garantir o emprego e a renda, intervindo de maneira pontual e anticíclica na economia. Essa intervenção serve para empresas e indivíduos.
Mas Diogo, o Estado deve intervir sempre na economia?
Não necessariamente, como disse anteriormente a atuação do Estado é pontual e serve para frear, ou diminuir a recessão. Recessão é quando diminuímos o ritmo de produção e isso pode levar a diminuição do PIB.
Além disso, estamos falando de períodos de crise e nesses momentos, considerando inclusive os fatos citados, o livre mercado não consegue garantir a manutenção do emprego e da renda.
Antes que você me pergunte, o livre mercado é a relação entre os ofertantes e demandantes. Essa corrente de pensamento, defende que os agentes econômicos devem negociar entre si, sem a interferência do Estado.
Um exemplo prático é a negociação direta entre empregador e empregado, inclusive aprovada na Medida Provisória 927, publicada no último domingo (22). Imagine que devido a pandemia do coronavírus, a sua carga horária será reduzida em duas horas e consequentemente o seu salário.
Neste caso, de acordo com o livre mercado, ambos os agentes têm condições plenas de negociar essa nova condição, não existindo maior poder de negociação do empregador para com o empregado.
Por último, devemos considerar que o momento é de ouvir os especialistas de saúde e seguir as recomendações do Ministério de Saúde, dentre elas:
— Manter-se em casa, na medida do possível, evitando aglomerações
— Lavar as mãos com frequência
— Usar a etiqueta respiratória.
Também recomendo a leitura (em inglês), ou pelo menos que veja os gráficos ilustrativos do avanço do contágio pelo coronavírus e o achatamento da curva em reportagem do The Washington Post.
Há também um artigo da Universidade de São Paulo (USP) sobre a importância de continuar com o isolamento social para conter a transmissão do coronavírus. Ambos os links estarão abaixo no tópico “leitura complementar”.
Sem esquecer de seguir o Atila Iamarino, biólogo e pós-doutor em microbiologia, o vídeo dele abaixo é bem explicativo sobre o momento que vivemos devido ao avanço do coronavírus.
Leitura complementar:
Publicado originalmente no Caderno de Assuntos