O livre arbítrio: máxima liberdade, máxima responsabilidade
O título deste artigo pode parecer, à primeira linha, um fait divers. Existem na nossa existência questões tão óbvias, que, aparentemente, o evidente se torna invisível à interpretação do olho nu e do senso comum.
O comportamento será, na minha opinião, uma destas questões. A velocidade com que nos relacionamos hoje com o mundo e com as pessoas, pode, a dado momento, influenciar o processo de analisar - ou não – a forma como o comportamento traduz as nossas inferências, estereótipos, juízos de valor e preconceitos.
Independentemente da velocidade ou da tecnologia que possamos (des)carregar para facilitar os modos de trabalho e sociabilidade, há um pressuposto intrinsecamente humano do qual não podemos abdicar – o livre arbítrio. Somos livres para escolher as nossas acções e intenções. Mesmo em contextos em que o “corredor de liberdade” é exíguo, o processo de analisar e agir é a expressão da liberdade que a pessoa interpretou e/ou protagonizou.
E essa liberdade é de facto estimulante: ter a liberdade para escolher o meu comportamento, sem que tenha que obedecer a uma única norma formatada.
Mas este estímulo só poderá ser plenamente livre se lhe for associado, naturalmente, a componente da responsabilidade: ter a liberdade para escolher o meu comportamento e assumir a responsabilidade desta escolha.
Se escolho usar todas as categorias de “rotulagem” no contexto e nas pessoas que me rodeiam, estou em pleno exercício da minha liberdade. Mas estou, simultaneamente, a transmitir uma mensagem – silenciosa ou “ruidosa” – da qual sou responsável. Não posso, pois, demitir-me da minha responsabilidade quando me é devolvido idêntico processo de “rotulagem”. Não ignoremos que comportamento gera comportamento.
O comportamento não é algo determinado com que se nasça e que se cristalize. O comportamento é algo que se escolhe.
Se na liberdade do comportamento se integrarem elementos poderosos como a empatia, a escuta activa, a responsabilidade do comportamento não estará à mercê do acaso, mas de um processo consciente e promotor de ganhos para todas as partes.
O grande desafio da relação humana é gerir em harmonia a liberdade e a responsabilidade. Perceber que existem pares, que estamos inevitavelmente ligados, que temos forças atractivas e repulsivas nas relações. Mas acima de tudo perceber que cabe a cada um de nós gerir as suas emoções e analisar os seus comportamentos. É obviamente mais simples externalizar a responsabilidade, mas tal acção estará a escamotear a realidade.
A procura das soluções em detrimento dos culpados abre-nos o entendimento para um maravilhoso Universo onde as diferenças são uma oportunidade ao invés de uma ameaça.
Todos os dias escolhemos comportamentos. Sejamos, coerentemente, responsáveis por eles.
Lisboa, 27 de Novembro de 2017
Sandra Dias