O lugar da mulher é onde ela quiser? #9
Narrativas, tramas, traumas, dramas e conquistas, é isso que move o mundo, intrigas?! O tal do #storytelling encanta, movimenta comunidades. Uma história pode conectar, reconhecer, ocultar e/ou destruir histórias individuais. Tudo depende de quem é o protagonista e o objetivo do seu discurso.
Na última prova do ENEM, o tema foi "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil". Essa é uma questão urgente a ser debatida, para que ações coerentes sejam criadas para o reconhecimento, social e financeiro, das mulheres que se desdobram trabalhando entre 2 a 4 jornadas para sustentarem suas famílias.
Importante também, é entender o cenário das mulheres que são mais prejudicadas e perceber que a pirâmide da opressão é algo complexo. Levantar a bandeira de respeito para com a mulher que faz o serviço doméstico é ter que parar de dizer e acreditar que a mulher que não trabalha fora também é uma profissional. Que a doméstica, faxineira e trabalhadora do lar também precisa ganhar seu valor justo.
Não se pode continuar acreditando que toda mulher que trabalha em casa é resultado do patriarcado, isso é injusto e é falso.
A diversidade de mulheres é gigantesca, sendo assim, empoderamento não é apenas para as mulheres que saem de casa para trabalhar fora em funções ditas importantes. Se chegamos até hoje foi pela força de mulheres que, há séculos, cumprem o papel de cuidadora em suas casas, isso não quer dizer que seja uma obrigação, nunca deveria ser. Porém, essa função é uma profissão. Existem mulheres que sentem prazer em servir.
Servir não quer dizer se sujeitar a tudo e a todos, é sobre a arte de saber oferecer serviços de qualidade e a melhor experiência.Não é apenas que planeja #experiênciadousuário que trabalha com experiência. Quem executa e presta serviço tem essa função. É por isso que máquinas não vão tomar o lugar de todas as pessoas, pois existem funções que o ser humano se identifica, através de suas vivências, gerando conexão. Essas interações são curativas e fortalecedoras em sociedade.
Eu sinto prazer em servir as pessoas. Foi isso que aprendi com a minha avó, Therezinha Marcellino (1929-2011). Ela depois que perdeu o marido, quando minha mãe nasceu, nunca mais se envolveu com outro homem. Pela realidade da sociedade em que vivemos ela não quis colocar a minha mãe em risco de ser abusada.
Minha avó me deixou muitas lições, um dos episódios mais marcantes e engraçados, foi a venda de um frango recheado. Um senhor adorava o frango recheado que a minha avó fazia, encomendou, concordou com o valor e mandou a esposa dele ir buscar. Quando a esposa foi pegar resolveu questionar o valor do frango com a minha vó, achou caro. Como poderia um frango que se compra no mercado por "X barato" com farofa dentro ser tão "caro".
Resumo, minha avó disse que não venderia mais barato, a mulher foi embora sem o frango. Minha avó irritada com a situação, já falando "ninguém coloca preço nas minhas coisas… faço o que eu quiser com o frango", resolveu assar a encomenda e chamou as crianças do condomínio pra comer.
Passado um tempinho a mulher voltou para pegar o frango, dizendo que o esposo queria naquele valor mesmo, porque tinha uma visita em casa e o frango era especial para noite. Minha vó mostrou a assadeira com o resto do frango. A mulher voltou brava e nunca mais fez gracinha com a minha vó.
Essa história é um exemplo de que culpar homens pelas injustiças sociais não é o caminho mais correto. É uma história isolada? Sim. As mulheres sofrem mais que os homens? Sim. Infelizmente, mas mais triste é saber que existem mulheres que não valorizam outras mulheres. E no caso de ser uma mulher de pele preta isso parece mais comum do que tudo e não deveria ser.
Sou defensora das tecnologias ancestrais, sendo assim, defendo todo cenário em que a mulher foi pioneira. O cuidado da casa, dos familiares e prestando esse serviço para outros é uma das profissões mais antigas. Estou dizendo que a escravidão foi certa? Não! Quero que fique claro que existem mulheres trabalhando e não estão recebendo o valor que merecem.
Minha avó aprendeu a lidar com a vida e conseguiu evoluir, foi exemplar pra mim. Qualquer pessoa que conviveu com a minha avó tem elogios, especialmente, quando se fala em comida... rs... esse valor vai continuar sendo honrado,pelo menos, por mim. Não consigo afirmar que minha avó é fruto do patriarcado. Teve a paixão dela envolvida em tudo que fez. A história dela é honrosa, foi penosa, mas ela merece ser reconhecida pelas alegrias e não por uma narrativa distorcida que anula toda a sua história.
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As mulheres que optam por cuidar dos filhos e cuidar de casa precisam ter esse reconhecimento. Mudanças sociais precisam acontecer. Talvez, o homem que decide casar com uma mulher que vai ser do lar tenha que pagar um salário para a esposa, proporcional ao padrão social que vivem.
O patriarcado foi uma narrativa falsa de que a mulher era inferior em suas atividades, descobrimos que a experiência hoje é o que move o mundo. Que a a #economiadocuidado é valiosa. Como ignorar as mulheres pioneiras nessas funções?
Se uma narrativa não gera conexão e reconhecimento aos atores em cena não temos inclusão, provavelmente, é apenas mais um tipo de ditadura para privilegiar algumas pessoas. E isso não é sobre justiça e, sim, manutenção de privilégio de alguns.
A minha #arte de hoje é sobre criar elos, florescer: FlorElo. É sobre conectar narrativas e as pessoas. Movimento de paz e união, é sobre #ubuntu: eu sou porque nós somos. Nós somos a bons quando incluímos, quando geramos diálogo. Quando aceitamos quem é diferente, que quer uma vida diferente da nossa.
Não precisamos de mais ditaduras, precisamos de aceitação da #diversidade. Isso começa por aceitar que mulheres que optam por trabalhar em casa, são profissionais também.
Quem quiser conhecer minhas ilustrações digitais, estão disponíveis no site da Galeria9 ou Colab55. Minha loja de artesanato no elo7 está on, acabei de compartilhar as últimas mandalas que fiz.
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Beijos de luz,
Michelle Cruz
(Se a luz não iluminar o seu caminho que, pelo menos, fulmine as ideias ruins)
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1 aTenho excelente! E o diálogo sobre a questão é extensa, me apeguei a duas coisas: primeiro, a mulher é sempre mais julgada por outra mulher e, quando se torna mãe, esse julgamento é multiplicado por 1000. Segundo, muito necessário que a mulher que escolhe ficar em casa, receba ou inclua um valor do que o marido faz para bancar a casa. Ninguém casa para se separar, mas havendo a separação, a mulher sempre é prejudicada por inúmeros fatores, inclusive por ter ficado cuidando da casa. Tem muita coisa para se discutir e melhorar, precisamos começar dobrando a língua quando formos nos opor à outras mulheres.