O luto mais negado do mercado
Ontem, dia 19 de junho, foi o dia nacional do luto. E quando mencionamos a palavra "luto", logo vem à nossa mente a perda de uma pessoa. Porém, este é apenas um dos muitos tipos de luto que vivemos, já que a realidade é que o luto está presente em toda perda que transforma nossa rotina e nossa vida.
Entre os lutos, temos os socialmente aceitos e os lutos não reconhecidos. Ou seja, alguns sofrimentos são mais compreensíveis que os outros, o que é muito triste, já que toda dor deveria ser considerada e respeitada. E de todos os lutos não reconhecidos, eu quero falar de um deles que é menosprezado e sequer as pessoas se percebem enlutadas quando acontece: o luto pela perda do emprego.
Já parou para pensar que perder um emprego não é só perder a renda, mas sim o "meio de vida"? Quando falamos em "meio de vida", estamos falando de uma maneira de organização do viver. Perdemos a rotina, os colegas, a ocupação, o "local", o sentido profissional. O trabalho é constituinte de vida, e perdê-lo nos desorganiza completamente. Ficam dúvidas, culpas, por vezes ficamos aliviados, mas também preocupados. A perda do emprego, como todo luto, gera transformação. O processo é de adaptação para uma nova realidade, onde aquele mundo presumido, ou seja, o mundo que conhecíamos e onde tinha segurança, deixa de existir.
Recomendados pelo LinkedIn
Muitas pessoas passam por este sofrimento sendo invalidadas em sua dor. Não damos tempo para nosso corpo e cérebro processar estas emoções. A rejeição, a dúvida, a insegurança que a incerteza traz, a decepção, a dor, a injustiça e por ai vai. Todos os processos emocionais que englobam a demissão precisam ser absorvidos e trabalhados dentro de nós para conseguirmos seguir adiante na nossa vida profissional. E a maneira como você lida com seus problemas no dia-a-dia vai também ser fundamental para que esta transformação profissional aconteça, seja mais rápido, ou com mais dificuldades.
Perder o emprego não se resume ao dinheiro, mas sim à vida. O trabalho significa muito para nossa sociedade e ser demitido é encarado como uma dificuldade neste percurso. É preciso sensibilidade para permitir que os sentimentos sejam processados neste caminho, e apoio para quem está vivendo este processo. Retomar a vida profissional não é tão simples, muitas vezes nem é rápido (e não por culpa o indivíduo, mas sim pela alta concorrência do mercado de trabalho entre outros fatores), portanto é preciso um certo nível de organização interna para recomeçar. Organizar o que o luto desorganizou; guardar o que foi bom, e descartar o que já não presta; valorizar os ensinamentos que este momento traz; pode ser desafiador perceber algo de bom, mas sempre tem algo que aprendemos nos momento de dor.
A vida não está sob nosso controle, o que podemos fazer é aprender a lidar com as adversidades e construir recursos internos para compreender nossas emoções e aceitá-las, transformando nossa realidade - esta que se descortina de maneira inexorável - e enfrentando os desafios com mais consciência de nossa capacidade e competências, e mais humildade perante as mudanças que são inevitáveis.