O médico e o processo de Acreditação
A acreditação de serviços de saúde tem sido uma realidade cada vez mais presente nas instituições, especialmente nos serviços privados que buscam se adequar aos altos padrões de qualidade para oferecerem um bom atendimento aos pacientes, além de aprimorarem o relacionamento com o mercado.
Nas visitas e auditorias que faço aos serviços de saúde, observo que o envolvimento da equipe assistencial é bastante heterogêneo. Via de regra, há grande engajamento pela equipe da Qualidade ("as meninas da qualidade"), um envolvimento considerável da equipe de enfermagem e um envolvimento menor dos demais membros da equipe multiprofissional.
Quanto ao engajamento nos processos, uma figura merece uma análise especial: o médico. Esse profissional, em grande parte dos serviços, é visto como o vilão da Acreditação. Os relatos são frequentes de que os médicos não seguem as rotinas estabelecidas, não adotam os fluxos desenhados, não seguem o padrão e prejudicam o desenvolvimento adequado das ações na unidade. Mas, por que isso acontece?
Primeiramente há um déficit de formação. Grande parte das Faculdades de Medicina do país não abordam em sua grade as questões referentes à segurança do paciente e, tampouco, ensinam como o médico deve se relacionar com os processos da instituição. O foco é o entendimento e tratamento de patologias, ou seja, o cuidado é centrado na doença e não no paciente!
Em segundo lugar, observo uma verdadeira falta de comunicação entre os profissionais. O médico não é envolvido na construção das estratégias, não é comunicado sobre a intenção do hospital em participar de processo de acreditação e não é sequer consultado sobre como suas atividades intereferem na Qualidade da assistência e quais são as oportunidades de melhoria na sua área.
Assim, o que vejo, são colegas sempre insatisfeitos, que acham que as ferramentas adotadas só servem para burocratizar o trabalho e não convertem em resultado para uma assistência mais segura. Colegas que não entendem como as atividades são desenvolvidas no serviço e não modificam sua postura para se adequar a nova realidade estabelecida. Médicos que, muitas vezes por desconhecimento, boicotam as ações e prejudicam o processo.
É importante destacar que observo, também, algumas mudanças nesse cenário! A realidade era mais dura há alguns anos. Hoje é possível encontrar médicos conscientes sobre seu papel nos processos de melhoria da assistência e, por consequência, nos processos de acreditação. Esses devem ser valorizados pelos gestores para que se tornem multiplicadores de informações e comportamentos para que nossas instituições caminhem com mais celeridade rumo a uma assistência segura, de qualidade e centrada no paciente.