O maior investimento das empresas deve ser nas pessoas
Na semana passada os profissionais de comunicação — jornalistas, publicitários e relações públicas — compartilharam planilhas no Google Docs (e agora em grupo no Facebook) contendo relatos do ambiente de trabalho em agências e redações, cujo título era: “Como é trabalhar aí”. Inicialmente, o criador queria que colegas contassem a um amigo estudante de publicidade recém-chegado a São Paulo como é trabalhar nas agências da cidade. No entanto, por ser um formulário preenchido de forma anônima, a coisa tomou proporções enormes e fugiu um pouco da proposta original, se tornando uma fonte de denúncia contra as empresas, com comentários negativos dominando as postagens.
As descrições partem de relatos de baixos salários, esquema de contratação PJ e má-localização de endereços, até jornadas extenuantes, assédio moral e sexual. Há ainda diversos casos de incompatibilidade de salários entre homens e mulheres que realizam a mesma função. Já no lado positivo, as pessoas elogiam locais com plano de carreira, compartilhamento de experiência entre mais velhos e jovens e liberdade criativa. Em suma, são elogiadas empresas onde as pessoas têm valor e não são tratadas como linha de produção.
Não só na área da comunicação, a discussão sobre ambientes de trabalho tem se tornado tema de artigos e estudos, uma vez que a geração Y está presente no mercado de trabalho com mais força e tem ambições diferentes das gerações anteriores. A concepção de “sucesso” mudou e poucos são os que querem pagar um alto preço por ele. Hoje, para muitos, bem-estar e sanidade mental têm muito mais valor do que dinheiro na conta.
O jornalismo brasileiro é o exemplo perfeito de como condições ruins podem afetar diretamente os resultados. Com cada vez menos material humano nas redações para um volume muito grande de trabalho, as matérias jornalísticas estão cada vez menos apuradas, e "barrigadas" — jargão que significa erro grave divulgado pelos veículos de comunicação — acabam se tornando frequentes. É perfeitamente compreensível que isso aconteça sabendo que o profissional passa 13 horas de seu dia trabalhando em um ambiente por muitas vezes hostil.
Planilha escancara que investimento no material humano é o mais importante
Enquanto países evoluídos, como a Suécia, fazem experimentos para diminuir a jornada de trabalho com o fim de aumentar a produtividade, setores da indústria do Brasil discutem “flexibilizar” (o que na prática significa aumentar) a carga horária mínima por semana e priorizar “acordos” entre o empregado e o empregador, que todos sabemos, só beneficiam o lado mais forte. Na contramão do pensamento retrógrado da empresa enxergar o funcionário como uma peça que pode ser trocada a qualquer momento, as Startups continuam atraindo cada vez mais os jovens, por ter cultura liberal e um ambiente dinâmico que valoriza o aspecto humano.
O mundo mudou e está mudando. Por que não ir ainda mais longe e adotar o pensamento com foco na pessoa também na esfera pública? Um grande exemplo é a formação das Polícias Militares do país. Treinados na cartilha militar, os policiais veem no outro um inimigo, o que desgasta a relação entre a sociedade e quem deveria servir e proteger. Uma pesquisa feita com 21 mil policiais mostra que mais de 70% disseram concordar com desmilitarização da polícia, o que, além de unificar a PM com a Polícia Civil, significa adotar um processo de humanização na polícia.
Seja no âmbito público ou privado, a conclusão é que o trabalho deve ser uma troca, com benefícios tanto para as empresas quanto para os funcionários. Funcionário motivado e feliz trabalha melhor e é mais produtivo.