O medo da senioridade

O medo da senioridade

O Brasil é um país híbrido em muitas coisas. Existem características muito peculiares ao comportamento brasileiro, mas tão arraigadas em nós, que estranhamos quando alguém nos estranha. Com o mercado profissional as coisas não são distintas. Por exemplo, nos países mais desenvolvidos do mundo, as graduações de bacharelado não tão comuns (talvez, em sua maioria, por serem caras); as relações trabalhistas são menos garantistas; o funcionalismo público não é uma condição de status social e por assim segue.

Não obstante, os profissionais seniores são muito mais desejados do que o frescor da juventude. Quando saí da faculdade, apostava totalmente na minha visão arrojada e transformacionista de tudo. Eu sentia a varinha nas mãos para poder "renovar" todo e qualquer pensamento tradicional. Atualmente, caminho para a maturidade profissional e caminho tranquilamente. Contudo, é cada vez mais comum e cotidiano os pedidos desesperados de profissionais que entram na faixa dos 40 e 50 anos sem perspetiva de recolocação.

Uma das minhas maiores alegrias é ter um perfil generalista e versátil. Acredito que a característica mais importante da minha geração é o poder de adaptação. Mas, de mesmo modo, isso vive nos mostrando tantas oportunidades acima da viseira em nossa cabeça que tende a não nos sedimentar tanto. Em contrapartida, a geração anterior possui uma característica mais complexa, de maior arraigamento.

É medo do mercado de contratar este profissional mais sênior, por acreditar na dificuldade da adaptação? É medo deste mercado de contratar este profissional por acreditar que os mais jovens trabalham mais por menos? O profissional tem tentado acompanhar as tendências de comportamento do mercado? São questões que me pergunto a cada apelo neste universo IN.

Recentemente tive a oportunidade de passar rapidamente por uma empresa que sua frase mais recorrente nos processos seletivos - sim, eles pediam que repetíssemos isto - era que aqui promovemos as pessoas muito rápido. Mas eu não conseguia ver isso como algo bom. Onde muito se promove, se não há expansão, muito se demite. Ou seja, a experiência era de pouca valia. E não errei. Os gestores muito juniores tinham pouquíssima experiência e processos muito falhos. Tínhamos maravilhosos dashboards lotados de informação mas pouco era substrato de análise e de construção estratégica.

Matei a xarada: FALTAVA SENIORIDADE.

E não falo de profissionais mais velhos, mas de profissionais mais experientes. Normalmente, a experiência, sim tem a ver com a idade, porém não é regra. Uma coisa é certa: somente a experiência aliada à maturidade concerne a um profissional a senioridade: de postura, de gestão, de análise, de comportamento, de capacidade de errar e aprender.

Aos colegas que sentem-se desvalorizados pela sua senioridade, sejam da minha geração ou posteriores, se me permitem, segue um conselho: se seus alicerces são fortes, não permita que pequenos tremores os ponha em dúvida das suas capacidades. Somente o marujo que navega por grandes tempestades sabe aproveitar a hora da bonança.

"A experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido".
Confúcio


Tiago Almeida

Gerente de Relacionamento BA/SE | Volkswagen Financial Services Brasil

7 a

Excelente texto ! Parabéns !! Há muito tempo não lia algo tão interessante por aqui !! Linguagem simples e abordagem bem realista e madura !!

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