O Monge e o Clínico Veterinário... Será que sabemos o que é liderança?
Há muito tempo um livro do autor James Hunter vendeu mais de 2 milhões de exemplares em todo o Brasil e fez muitos segmentos profissionais questionarem suas posições e posturas nas relações entre chefes e equipes de trabalho.
O livro resumidamente conta a estória de um empresário famoso que abandona sua carreira de sucesso e se torna um monge beneditino, e de um bem sucedido homem de negócios que passa por uma triste conclusão: se vê fracassado como pai, marido e empresário.
Decidido a mudar a sua vida, ele decide fazer um retiro espiritual no mosteiro onde o famoso empresário vive como monge, e, lá ele aprende os ensinamentos fundamentais do que o monge chama de princípios da verdadeira liderança.
O grande mote do livro é mostrar que a verdadeira liderança não é o velho e bom poder, mas sim a autoridade conquistada através da dedicação, do respeito, do amor verdadeiro e da responsabilidade e respeito com a sua equipe de colaboradores.
É o que chamo de a real empatia necessária nos dias atuais, para aqueles que realmente desejem imprimir um pouco de humanidade em suas relações e assim, obter diferencial competitivo.
Em um primeiro momento, confesso que me vi perdido sem saber como começar a falar sobre este tema para os universo da Medicina Veterinária pois precisamos “cair na real” que essa conversa sobre liderança, sobre como estar á frente de nossas equipes de trabalho é algo ainda muito distante de nossa formação acadêmica, e somos apresentados à esta realidade sem ao menos notarmos que é ela que se apresenta em nossas rotinas de forma mais presente do que possamos imaginar.
Quantos dos colegas que estão lendo essa frase agora não começam o dia dizendo bom dia para suas secretarias, atendentes, vendedores e auxiliares de serviços veterinários (estes últimos ainda sem regulamentação não custa nada lembrar!) além dos profissionais de higiene e estética animal que prestam serviços nos seus estabelecimentos?
Gostaria de lembrar a todos os profissionais da Medicina Veterinária que estamos inseridos em um segmento chamado Prestação de Serviços e um dos pilares para o sucesso neste segmento é a superação das expectativas dos consumidores de nossos serviços.
Ao mesmo tempo convém lembrar que os consumidores de nossos serviços avaliam os “nossos serviços” através de um somatório de dados coletados durante a execução e avaliação imediata do serviço (seja ele uma consulta, uma tosa higiênica ou uma simples venda no balcão do petshop).
E esta avaliação não depende somente de você doutor(a)!
Na grande maioria das situações o seu conhecimento técnico, a sua resolução clínica para o caso que você está atendendo em sua rotina é o seu maior desafio profissional, mas lembre-se, até chegar em você seu cliente passou por uma série de experiências sensoriais e muito pessoais, como por exemplo ter sido atendida por sua secretária.
É o que eu costumo chamar de linha de frente do serviço Médico Veterinário!
Começamos a entender a importância das pessoas que estão em nosso dia a dia profissional não é mesmo?
Mas será que o ponto mais importante deste artigo seria apenas o reconhecimento do papel que nossas equipes de trabalho têm em nossos negócios?
Muitos podem perguntar:? “Sérgio por que você não usa o termo – colaboradores -, tão comum em revistas que falam sobre este assunto?”
Por uma simples razão, por que na Medicina Veterinária ainda não conseguimos sequer visualizar a importância das equipes de trabalho, que dirá entende-los como colaboradores.
Pois a realidade é que em nosso próprio processo de formação como profissionais, sequer somos alertados sobre as funções gerenciais que farão parte de nosso dia a dia enquanto empreendedores do Mercado Veterinário.
Sequer são citados que desenvolver as habilidades de relacionamento interpessoal e as habilidades gerenciais deverão ser um grande exercício diário de autoconhecimento.
Quero ainda tocar em um ponto que pode parecer nevrálgico e causar um certo incômodo ( e realmente quero que seja essa a sensação!) em alguns profissionais; a eterna postura de estar sempre em um pedestal branco, um olimpo profissional construído sob o véu do pseudo-título de doutor.
Tal postura esconde muitas fraquezas institucionais e mesmo muitas mazelas pessoais, mas cada caso é um caso, e não vamos aqui inaugurar nem um divã, muito menos uma caça às bruxas.
Mas é notório que este distanciamento nos faz pensar...em segregação!
Se pudéssemos fazer uma grande pesquisa nacional e pudéssemos rastrear a origem familiar de grande parte dos profissionais médicos veterinários deste país veríamos que a grande maioria vem da classe média, de estruturas familiares que os permitiram ter acesso a um nível universitário.
Agora... e nossas equipes de trabalho? Qual seria a origem da grande maioria deles em uma análise sócio-econômica? Preciso responder? Classes menos favorecidas!
Anteriormente falamos em desenvolver habilidades de relacionamento interpessoal, e o grande desafio é aprender a comunicar-se, desenvolver uma linguagem adequada e evitar ao máximo os ruídos nas mensagens entre você e sua equipe de trabalho.
Mas como fazer isso?
Entendendo todas as nuances destas diferenças sócio-culturais, entendendo que seu papel é muito mais importante do que ser apenas um...chefe! Alguém que paga os salários no final do mês.
Mas creio que o mais importante nesse estágio é você se ver, se reconhecer, estar se dispondo a conhecer a sua equipe de forma verdadeira, o que é a base do ensinamento explicado no livro citado acima, é ver como o eu negócio, a sua vida, a sua postura, os clientes, enfim, como seu universo é trabalhado do ponto de vista da sua equipe de trabalho, como eles interagem, decidem e pensam.
Isso não é fácil... não existe uma receita mágica, e isso eu faço questão de citar, pois o processo é único, às vezes muito particular, você precisa primeiro se reconhecer, se conhecer e se classificar quanto ao seu estilo de relacionamento com sua equipe de trabalho, para somente então, pensar em se classificar como um tipo de líder.
Desenvolver a liderança é algo muito importante para que todos nós possamos profissionalizar nossos negócios veterinários, mas é principalmente a chance de melhorarmos como pessoas, o que muitas vezes esquecemos em horas a fio de plantão, e, principalmente debaixo de um uniforme branco tão intimidador em certas ocasiões.
Mas como mudar?
Como começar a me relacionar com minha equipe de trabalho? O que posso fazer para ser um líder em meu trabalho?
Vamos conversar sobre isso em outras edições e você verá que é mais fácil do que você imagina, basta querer, basta deixar de lado seus pré-conceitos e suas verdades absolutas, e estar disposto a sentir muitos incômodos nessa caminhada.
Vamos juntos?