O mundo em deflação e o Brasil
Não tenho dúvidas de que o mundo desenvolvido está caminhando para uma preocupante espiral deflacionária.
As crises capitalistas são, em geral, causadas por processos de insuficiência de demanda ou excesso de oferta. Ao que parece, estamos caminhando rapidamente para este tipo de crise.
Analisando o passado recente fica claro que o modelo sino-americano que sustentou o crescimento mundial, na última década, esgotou-se.
Basicamente, este modelo foi baseado em taxas de juros muito baixas nos EUA seguida de uma expansão monetária sem precedentes, como reflexo da política QE (quantitative easing) do FED americano para fazer frente à crise de 2008.
A China com sua moeda desvalorizada e mantendo alto ritmo de investimento (em parte, garantido pelo alto grau de poupança da economia), absorveu fluxos de capitais mundiais pra inversões em sua indústria e infraestrutura. Além disso, estabeleceu um novo padrão de competitividade em manufaturados (em parte pela abundancia de mão de obra disponível e moeda desvalorizada) , o que contribuiu para que políticas expansionistas dos países centrais não causassem uma explosão inflacionária.
Com efeito, a China contribuiu para que tanto as hard commodities, como as soft commodities tivessem uma forte elevação de preços e contrariassem os pressupostos Cepalinos de deterioração de relações de trocas entre o mundo periférico produtor de commodities ( Emergentes) e países centrais, produtores de bens industrializados.
O mundo emergente agradeceu e teve um forte aumento de renda pela exportação destas commodities. O mercado financeiro internacional irrigou estes países com capitais e alavancou financeiramente empresas e o setor público.
Esta situação inverteu-se dramaticamente , a partir da indicação da normalização da política monetária do FED , desde 2014. (vide gráfico, preços médios das commodities que ilustra este texto)
Com o fortalecimento do dólar e a impossibilidade da China de continuar crescendo a taxas de duplo dígito e investindo a taxas de 50% do PIB, os preços das commodities despencaram e indicam uma insuficiência de demanda para absorver o aumento da capacidade de produção mundial e da rentabilização dos investimentos chineses, baseados no modelo exportador.
Deste modo, o Governo Chinês está procurando modificar o padrão de crescimento orientando-o para o consumo interno. Até a China sair de um modelo exportador e se voltar para o mercado interno, haverá um doloroso processo de transição na economia mundial.
O dólar mais forte, devido a indicação de aumento de juros por lá, derrubou a recuperação americana. Os produtos made in USA ficaram muito caros na arena global.
Com efeito, o PIB americano que vinha se expandindo a taxa de 2.4% no 3º tri de 2015, sucumbiu a apreciação do dólar no 4º Trimestre com modesto crescimento de 0.7%.
Estamos entrando num cenário deflacionário.
Este cenário que ,num primeiro momento, fica mais claro nas commodities logo se propagará para produtos com maior diferenciação e para extensas cadeias de produtos e serviços.
Este fenômeno deve reduzir ainda mais a demanda agregada e o crescimento, pois se amanhã os preços vão cair, as compras são adiadas. Para quem acompanhou o processo de deflação japonês sabe o que isto representa.
A preferência pela liquidez, a queda das taxas de retorno pelo menor nível de preços de venda e as dificuldades de se tomar novas dívidas (pois elas crescem em termos reais toda vez que a deflação aumenta)paralisa todo o sistema econômico
Neste sentido, entramos em 2016, num cenário preocupante.
O Banco central Japonês lançou mais um pacote de estímulos, a Europa não se anima com o QE , a Ásia sofre com a China, os EUA colhem o baixo crescimento resultado da sua própria apreciação cambial. Os países emergentes sofrem com a queda das commodities e convivem com uma forte correção de preços de seus ativos.
Assim, é de se esperar que os EUA, o continente europeu e o Japão procurem estimular a economia via instrumentos monetários e fiscais adicionais. Mas a armadilha da liquidez continua. Os bancos, por medidas prudenciais, emprestam pouco e há a formação de uma poça de liquidez no sistema financeiro internacional.
O mundo ainda irá conviver com um período maior de juros baixos e sob a ameaça da deflação.
O Brasil, neste contexto, pode colher alguns benefícios, neste ano. Dentre os emergentes, o país foi o que mais desvalorizou sua moeda, podendo se posicionar melhor do ponto de vista do comércio internacional e de substituição de suas importações. As pressões deflacionárias no mundo devem contribuir para reduzir as pressões inflacionárias por aqui. E, finalmente, os juros reais fortemente positivos ( mais de 5% a.a.), combinados a um colchão de reservas internacionais, pode significar uma melhoria na entrada de fluxos de capitais.
Com a economia mundial sob estas condições, a recuperação brasileira tem que necessariamente passar por um processo de nova industrialização, voltada sobre tudo à substituição de importações.
Com o câmbio mais desvalorizado, diversos setores já podem conviver em pé de igualdade com os produtos importados e quem sabe, num segundo momento, quando a tempestade econômica mundial passar, buscar ampliar as exportações.
Não haverá caminho fácil para o desenvolvimento brasileiro. O bônus das commodities se foi. Precisamos começar a pensar neste futuro hoje. E o futuro chama-se industrialização.
RFA Capital
8 aTriste é saber que não deslanchamos não por falta de vontade de investidores que, ironicamente estão capitalizados e sentados em cima de dinheiro, segurando o capital e destruindo sua TIR, esperando o panorama político ficar mais nítido. Dada a letargia do Planalto e dos mandatados, é rezar para que Ministério Público e Justiça consigam uma façanha. Do contrário, chance de deslanchar só em 2018/9. Até lá...
Prefeito na Campanha eleitoral 2016
8 aFantástico texto, penso inclusive que deveríamos usar parte de nossas reservas internacionais para diminuir a dívida interna.
Sócio e Assessor
8 aBoa análise Vitor Bellizia