O otimismo pode ser aprendido!
Determinismo versus Protagonismo! É uma dicotomia bem conhecida dos seres humanos: somos limitados pela nossa ancestralidade, pelos nossos instintos, pelo nosso cérebro reptiliano? Ou somos capazes de criar nosso próprio caminho evolutivo transformando os trilhos da nossa história em pista para alçar vôo.
Exemplo: a história de duas vítimas de uma infância violenta
Paulo e Camila eram filhos de um pai alcoólatra e uma mãe violenta.
Paulo estava em um centro de recuperação destinado a dependentes químicos e foi questionado: por que você bateu no seu colega?
"Meu pai era alcoólatra e não conseguia ficar em um emprego e minha mãe espancava a gente por qualquer motivo. A gente não tinha comida e nem roupas confortáveis. Eu aprendi a beber, usar drogas e a brigar seguindo o exemplo dos meus pais".
Na mesma noite Camila contou sua história de sucesso em um evento nacionalmente conhecido sobre empreendedorismo.
"Meu pai era alcoólatra e não conseguia ficar em um emprego e minha mãe espancava a gente por qualquer motivo. Ao ver o exemplo dos meus pais, eu decidi ir à luta e criar um futuro diferente para mim e minha família. Eu aprendi a manter a minha mente livre de vícios e a valorizar relações saudáveis e construtivas pois não queria repetir a história que vivi quando era criança", explicou Camila.
Um disse: "A favela me aprisionou à uma vida sem perspectiva de futuro". A outra disse: "A favela me ensinou que eu sou a única representante viva dos meus sonhos e que só eu posso lutar para realizá-los".
Essa história mostra que o otimismo não nega a dura realidade, mas ajusta as lentes para te manter no protagonismo da sua vida!
Bem... há diversas falsas dicotomias que simplificam demais a complexidade da vida humana. Da mesma forma que o Determinismo versus Protagonismo, o "Ser realista" Vs. "Ser Otimista" é uma delas.
Sempre que eu escuto alguém dizer, com orgulho, "vamos ser realistas aqui...", ou "eu sou uma pessoa muito realista e..." vem uma pedrada de pessimismo, travestido de uma pretensiosa sensatez.
Pessimismo não é sensatez. E feio, desagradável e deprimente. Ah! Tóxico também.
Talvez você saiba que houve um tempo em que a ciência preconizava que algumas qualidades como felicidade e talento eram, predominantemente, atributos genéticos. Embora a genética nos forneça uma carga inicial de "software" para iniciar nossas vidas, o que fazemos com isso depende de nós.
O otimismo passa pelo mesmo tipo de viés. Muitas pessoas ainda entendem o otimismo como uma falha de formação (genética, às vezes), problemas de origem mental ou cognitiva, pois o correto mesmo é ser realista. Ainda mais forte é o senso comum que nasce de uma cultura paranóica onde otimismo e realismo são opostos.
Não! Não existe dicotomia entre otimismo e realismo. O otimismo é uma forma de olhar o mundo. Otimismo é o oposto de negacionismo. Na mesma mão, ser pessimista não torna, ninguém, um realista nato.
E aí temos um problema: culturalmente, fomos ensinados que uma abordagem mais preocupada, mais tensa e mais limitante é a essência do realismo. Na verdade, esse é o caminho do burnout, da depressão e do empobrecimento.
Temos várias construções desse tipo na sociedade contemporânea. Uma delas, por exemplo, é o conceito de que estar sempre ocupado é sinônimo de sucesso. É bonito estar com a agenda ocupada e não ter tempo pra nada. (mentira, não é não)
Como um músculo que pode ser construído para ter força e resiliência, o otimismo também pode ser desenvolvido gradualmente.
Essa qualidade é muito importante para ser deixada ao acaso de dicotomias como Determinismo versus Protagonismo. No embate entre nossas limitações das genéticas ancestrais contra nossa força de vontade, o otimista treinado vai entender que os desafios e as limitações, são, na verdade, pistas para atingir o próximo nível.
Devemos assumir o otimismo e desenvolvê-lo, lutando constantemente para desenvolvermos uma versão melhor de quem somos agora.
O otimismo é um estado de espírito. Não é um efeito de causas externas sobre nós. Pelo contrário, é o que causa em nós a capacidade de criar efeitos positivos no ambiente externo.
Pelo fato de o otimismo ser uma escolha, otimistas treinamos nunca são vítimas! Nós fazemos escolhas e aprendemos com os problemas inerentes aos riscos que assumimos.
Otimismo é uma habilidade de vida que pode ser desenvolvida e fortalecida. Como um músculo, essa força mental precisa ser exercitada e construída com o tempo.
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Independentemente de nossa disposição genética e ambiental, o otimismo é uma habilidade que deve ser aprendida e praticada – um pequeno passo de cada vez. Assim como escrever uma página por vez ao trabalhar em um livro, resolver uma variável por vez ao trabalhar em uma equação matemática complexa ou pedalar apenas duas vezes, antes de cair, ao aprender a andar de bicicleta.
Fazendo com que cada pequena melhoria conte. Essa pequena vitória fortalece nossos músculos de otimismo, levando-nos a esperar a próxima vitória “maior”.
Uma criança dá duas pedaladas em sua bicicleta sem rodinha e cai no chão. Dói! Mas ela constata: "poxa, agora eu consegui dar duas pedaladas" e o ato de saber que, talvez na próxima, ela dê três pedalar e logo logo ela vai pedalar sem cair, faz com que os tombos seja, apenas, a parte ruim do processo.
Como o otimismo pode ser aprendido?
O otimismo não é uma teoria. É uma forma de decidir sobre pequenas e grandes coisas, seguida de uma ação destinada a crescer a partir de uma situação desafiadora. E o crescimento que experimentamos realimenta a mentalidade otimista, permitindo que a pessoa assuma desafios maiores.
Uma coisa muito positiva é que o aprendizado vem da prática.
Começos são difíceis. Tentar ser otimista pode ser ruim, parecer falso e antinatural. Mas esse é o ponto por trás de aprender essa habilidade.
Andar de bicicleta pode ser ruim no começo. Joelho ralado, medo de cair, um pouco de dor.
Pegue como exemplo o conceito que preconiza que é bonito estar sempre ocupado.
Não ter tempo é sinal de sucesso (mal posso esperar para ver essa ideia morrer) e criar uma agenda com tempo livre é extremamente difícil: (1) muitas pessoas vão te julgar e você vai ter medo desse julgamento, (2) você se sentirá culpado no começo e (3) você não saberá o que fazer com esse tempo livre, pois é muito mais fácil viver um dia a dia onde você não precisa pensar em como usar seu tempo da melhor forma, pois sua agenda lotada já decidiu por você.
Da mesma forma, abordar a vida e o mundo de forma otimista vai atrair julgamentos e dificuldades de lidar com a energia pessoal que você libertar.
Eu tento ser otimista sobre as pequenas coisas primeiro. Então, treino meu cérebro para ver os pequenos sorrisos dentro das pessoas tristes, encontro um lugar limpo em uma área bagunçada e sinto momentos edificantes em uma situação deprimente. Com a prática, fico melhor.
Um ótimo tema para praticar o otimismo é com as condições climáticas. O frio incomoda, o calor perturba, a chuva limita. Bem, essa é a forma realista ou pessimista de olhar para algo que você não pode mudar? Como seria a forma otimista de olhar para essa realidade?
Como eu divulgo muito essa ideia, eu aprendo o otimismo através da prática. Nessa jornada descobri um detalhe: você não, necessariamente, precisa falar palavras otimistas. O bom mesmo é pensar e agir; viver uma postura otimista.
Aprender otimismo prepara nossa neurobiologia para procurar oportunidades em situações desafiadoras. Essa habilidade aumenta com o tempo e nos tornamos melhores em encontrar oportunidades maiores em problemas maiores.
Vou lembrar de uma fala de Hemingway (ah! eu amo ler e aprender sobre a vida das pessoas que escrevem os livros que eu adoro). Essa citação ensina, de forma muito minimalista, muito sobre o otimismo:
O primeiro rascunho de qualquer coisa é uma M***.
O otimismo aprendido é o próprio ato de nos esforçarmos para sermos mais, melhores e mais resilientes, através do aprendizado fornecido pelas situações do dia a dia. A gente só consegue aprender a criar quando nossa mente está ligada ao otimismo. Se ligados ao pessimismo, o aprendizado se torna instinto traumático e ato reflexo de recuar ao invés de propulsão de avançar.
Enquanto o pessimismo nos ensina a temer, a "afastar a mão pois pode queimar", o otimismo nos ensina que "pode até estar pelando, mas eu não preciso me queimar; vou usar uma luva e assim vou meter a mão nisso, sim!".
O trecho completo da citação de Hemingway é do autor Arnold Samuelson, que escreveu “With Hemingway: A Year in Key West and Cuba”. O trecho completo eu traduzo aqui:
Não desanime porque há muito trabalho mecânico no ato de escrever. Sim, é assim mesmo, e você não pode fugir disso se quiser escrever. Ou se quiser qualquer outra coisa que valha, nessa vida, entenda que o primeiro rascunho de qualquer coisa é uma merda. Reescrevi a primeira parte de A Farewell to Arms pelo menos cinquenta vezes. Você tem que trabalhar nisso. Quando você começa a escrever, você tem toda a empolgação da história, pois a está vivendo em sua mente e o leitor não percebe nada disso, mas depois que você aprende a trabalhar seus sentimentos, seu objetivo é transmitir tudo ao leitor para que ele se lembre não como uma história que simplesmente leu, mas como algo que aconteceu com ele mesmo.
É isso! Muito obrigado por ter chegado até aqui e se esse conteúdo significou algo para você, por favor: