O público e o privado; o legítimo e o legal

As declarações do ministro Jaques Wagner, afirmando que o PT “se lambuzou” ao “reproduzir metodologias” antigas da política brasileira não é o que parece. Wagner não fez uma autocrítica, embora a declaração possa passar essa impressão se levarmos em conta a costumeira soberba e total indisposição para opiniões contrárias, demonstrada por petistas dos mais diversos escalões.

A fala do ministro procura reduzir o papel do PT nas ações de corrupção a uma “molecagem” a um exagero de quem nunca esteve no poder e se deslumbrou com o cenário encontrado.

Mas, se analisarmos a trajetória do partido, que sempre baseou sua atuação no aparelhamento dos mecanismos do estado, fica fácil perceber que a “molecagem” já está na prática do partido há um bom tempo.

Os indícios de que alguma coisa estava errada já eram visíveis quando petistas de todas as tonalidades defendiam um eventual “mal feito” alegando que ele podia ser legalmente errado, mas era “legítimo”.

Lembram-se dessa fase? Já havia, naquele tempo, a ideia de que o que era "legítimo" -- segundo a visão petista, claro -- poderia se sobrepor à lei. Essa ideia persiste até hoje a se julgar pelas declarações de líderes como Lula e Dilma. Para eles, as pedaladas serviram para pagar o Bolsa-Família e, por isso, teriam essa duvidosa “legitimidade”. Também seria “legítimo”, segundo essa visão, desviar dinheiro dos nossos impostos para financiar o partido, porque ele, alegadamente, estaria “do lado do povo”.
.
Os reflexos dessa visão que o PT tem do poder, de que eles podem passar por cima de tudo em nome de uma duvidosa “legitimidade”, está na origem de todo o mal. Nos braços dessa crença foi chocado o ovo da serpente que hoje ameaça o partido e o país.