O passado que o Brasil tem pela frente
Alguns correm apenas 100 metros, outros no mínimo 800 com barreiras; muitos, uma verdadeira maratona para vencer na vida

O passado que o Brasil tem pela frente

Millôr Fernandes foi um sujeito brilhante, vocês devem saber. Certa vez, numa charge em que se auto retratou revirando um monte de cinzas, cravou: “O Brasil tem um enorme passado pela frente”.

Tome esta inspirada criação do Millôr como régua quando precisar – ou quiser – opinar sobre questões sociais nacionais ou, no âmbito da nossa conversa semanal aqui, corporativas. A começar por aquelas que convencionou-se chamar DEI e ganha impulso a partir do advento da outra sigla queridinha de 10 entre 10 gestores, ESG.

DEI é a “tinyURL” para Diversidade, Equidade e Inclusão. Busquei algumas definições para facilitar o entendimento e as diferenças entre os termos. Essas abaixo são realmente boas e estão ainda mais detalhadas no site do ImpulsoBeta , uma consultoria que entende disso e que dá vontade de conhecer melhor.

Diversidade - nada mais é do que variedade. A diversidade está presente em todos os âmbitos da nossa vida, mas quando falamos de empresas, diversidade se refere a pessoas com características e formas de pensar diferentes. Vale lembrar aqui que a diversidade nunca é um ponto fixo, ou seja, não é algo que se atinge e fica estática. Diversidade no ambiente corporativo é sempre algo que precisa ser olhada e evoluído - avanços sempre são possíveis.

Inclusão - é a sensação de pertencimento. Apenas a existência de pessoas diversas em uma empresa não significa, necessariamente, que elas se sentem incluídas naquele ambiente. A inclusão é algo que passa por cultura organizacional, comportamento dos colaboradores e segurança para todos compartilharem (e serem apreciados por) suas ideias.

Equidade - é busca por igualdade através de processos e práticas que entendam que cada jornada é individual. A equidade entende que as pessoas não partem do mesmo lugar e que enquanto alguns começam com vantagens, outros começam com barreiras. Por isso, a equidade é a busca por equilibrar as dinâmicas de poder tentando alcançar justiça.

A Amanda Brito Orleans sintetizou tudo isso de forma genial: “Diversidade é quando você pode sentar na mesa, Inclusão quando você pode falar e Equidade quando você é ouvido!”

Millôr, sempre genial

O passado que irá perseguir o Brasil por ainda longo tempo tem a ver com oportunidades e barreiras. Aprendi agora mesmo no novo vídeo institucional da Aliança Empreendedora , dirigida pela Lina Maria Useche Jaramillo : dê um Google nas imagens de “grandes empreendedores brasileiros” ou “principais executivos do Brasil” e veja o que aparece. Não é surpresa alguma que na prova de sucesso empresarial tem gente que faz uma corrida de 100 metros apenas, enquanto muitos e muitos outros largam para 800 metros com barreiras. Ou mais!

Diante desse desafio, qual o papel das empresas para encurtar o passado e finalmente chegarmos ao presente em termos de Diversidade, Equidade e Inclusão? Aposto em ousadia e coragem como respostas certas.

Algumas empresas já fazem programas de estágio inclusivos e até afirmativos para dar oportunidades ao pessoal dos 800 com barreiras. Numa boa, contratar estagiário morador da periferia, educação básica e fundamental em escola pública, nome de pai em branco na certidão de nascimento e primeiro da família a chegar num curso superior, não é ousar, é apenas cumprir tabela.

Mas são ainda muito poucas as companhias que, na hora de selecionar os futuros líderes em programas de trainees, que é o que conta mesmo para chegar ao topo, fogem da regra "pai e mãe conhecidos e presentes, educação básica privada, faculdades de “primeiro nível”, inglês fluente de quem fez intercâmbio" e por aí vai.

Ousadia é ter coragem de mudar esse tipo privilegiável de passado e se jogar na novidade que a DEI pode trazer à sua marca no futuro. Por experiência, sei que todo CEO ama acompanhar de perto o programa de trainees da empresa. É a chance de sentir um sopro de juventude ao vivo a energizar a estrutura. Sugiro aos CEOs, portanto, aplicar as letrinhas da DEI ao próximo processo seletivo e sentir uma brisa muito mais refrescante de modernidade e novas ideias.

Quando falo em 800m com barreiras, estou me referindo apenas a questão da renda. Agora, adicione a dificuldade de uma deficiência. Aí é uma maratona. Heróis nessa situação que conseguem uma formação superior, por exemplo, dificilmente são considerados para uma posição na sua área. Acreditem, alguns gestores ainda colocam mais objeções a ter um PCD em sua área do que a própria deficiência impõe ao candidato. Eis aqui outra ousadia necessária.

Vá ainda além e pense como seus produtos e serviços podem ser melhores para todos. Isso vale para o tamanho da letra da embalagem até a facilidade para abri-las caso seu cliente não tenha os dedos da mão, por exemplo. Vê como é preciso apenas ter coragem para entregar à sociedade um benefício que aquece o coração do mundinho às vezes tão frio dos negócios?

E já que chegamos aos negócios, que tal pensá-los cada vez mais inclusivos?

Lina Maria Useche Jaramillo me ajuda de novo, agora para conceituar Negócio Inclusivo: é um modelo em que o negócio central necessariamente gera lucro e, por meio desta atividade fim, também gera impacto social positivo. São atividades econômicas que permitem a participação de pessoas de baixa renda na cadeia de valor, de maneira que possam capturar valor para si mesmos e melhorar suas condições de vida. Não são filantropia ou responsabilidade social empresarial. É a construção de modelos de negócios sustentáveis que permitem prosperar gerando impacto.

Reforço este tema porque, justamente agora, Marcelo Alonso Inteligência em Comunicação ajuda uma grande e ousada empresa a pensar um novo negócio nesses moldes. Isso é DEI na veia, atropela o passado em direção a um futuro sustentável. O impacto que essa corajosa iniciativa trará para o todo ainda é desconhecido. Mas é certo que será inspirador e positivo.

Cyntia Dias Stelmach

Gerente de Eventos e Marketing na Be Eventos | Branding I Marketing I Eventos I Live Marketing I Comunicação

1 a

Excelente reflexão Marcelo. Por mais empresas sem medo de ousar e contribuir por um mundo com menos 800 m com barreiras! Sua visão se faz cada vez mais necessária para as empresas do futuro.

Ana Lucia Venerando

Redatora e consultora em comunicação com foco nas áreas de ESG, cultura e educação.

1 a

Muito bom, Marcelo. Muito blá blá blá de algumas empresas e pouca ação efetiva. Chovem "vagas afirmativas" nas plataformas de emprego. Porém, tenho a impressão que é só para a empresa falar que está com a vaga aberta. Agora, efetivamente contratar, incentivar a carreira, investir em capacitação, garantir um ambiente de trabalho diverso justo e saudável... aí é outra história. Importantíssimo textos como o seu para reflexão e ação.

Luis Alcubierre

Diretor Sr. de Comunicação Corporativa e RIG | C-Level | Conselheiro | Empreendedor | Gestor de Crises | Analista de Comportamento Social | Formador de Equipes de Alto Desempenho | Palestrante | Mentor | Mediador

1 a

Bem colocado porque o mercado está carregado de chuveiro, mas pouca água.

Marcio Brandão

Corporate Sustainability/ESG Consultant, Professor Associado na FDC - Fundação Dom Cabral, Advisor Professor at FDC

1 a

Sociabilizado! Sucesso sempre, caro Marcelo!

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