O Pensamento probabilístico: O Lula vai ganhar a eleição?
Após o julgamento de 24 de janeiro, ouvi uma pessoa dizer “o Lula vai ganhar a eleição para presidente em 2018”, enquanto que outra falou “o Lula não vai ganhar a eleição para presidente em 2018”. Quem está certo? Qual é a verdade?
A resposta certa hoje é: “não sabemos!” A respeito do futuro só há previsões.
Então as duas afirmações acima são opiniões, e, em se tratando de previsões, são crenças.
As duas frases acima são crenças e parecem bastante poderosas refletindo a existência de um poder maior que controla a vida.
Destino? Destino é uma sucessão inevitável de acontecimentos guiados por uma ordem pré-determinada. Conhecendo-se a ordem, o futuro é previsível e conhecido.
Isso é válido para a Física, por exemplo. Apesar de Marte estar se movimentando como a Terra também, é possível lançar um foguete que saia da Terra e chegue em Marte.
Mas nas Ciências Humanas essas leis não existem. Vivemos iludidos por crenças.
Para sair da crença, que para muitos é necessário, já que justificam os medos e as esperanças, existe o pensamento probabilístico e o teorema de Bayes.
Simplificando a questão, considerando o teorema de Bayes, cada afirmação possui uma probabilidade de ser verdadeira, por exemplo “o Lula vai ganhar a eleição”. Assim, cada fato novo que ocorre no período anterior à eleição vai alterando essa probabilidade, e por aproximação vai se aproximando ou se distanciando da verdade.
Como funciona na prática?
1. “O Lula vai ganhar a eleição”. É uma crença quase religiosa. Uma fé na própria crença que faz a pessoa fazer tal afirmação. “Eu tenho certeza que ele ganha a eleição”, pode gerar esperança ou medo, dependendo do desejo.
2. “O Lula vai ganhar a eleição, se ele puder ser candidato”. Já não há certeza e há condições.
3. “O Lula vai ganhar a eleição, se ele puder ser candidato e se conseguir passar para o segundo turno”.
4. “O Lula vai ganhar a eleição, se ele puder ser candidato e se conseguir passar para o segundo turno e se o outro candidato tiver alto grau de rejeição”.
5. “O Lula vai ganhar a eleição, se ele puder ser candidato e se conseguir passar para o segundo turno e se o outro candidato tiver alto grau de rejeição e se na campanha eleitoral não ocorrer um fato ou evento novo que prejudique a sua imagem”.
6. “O Lula vai ganhar a eleição, se ele puder ser candidato e se conseguir passar para o segundo turno e se o outro candidato tiver alto grau de rejeição e se na campanha eleitoral não ocorrer um fato ou evento novo que prejudique a sua imagem e se conseguir fazer boas alianças políticas com partidos representativos”.
A última frase está condicionada, no exemplo, por 5 fatores que vão alterar a probabilidade inicial. Porém, podemos colocar muito mais fatores que vão de alguma maneira influir na probabilidade da eleição tanto positivamente como negativamente.
Esse é o pensamento probabilístico que se baseia nos fatos do fluxo da vida e que, quanto mais reais, mais precisas serão as previsões.
Qual a probabilidade do Lula vir a ser presidente na data de hoje? (veja que não é a intenção de voto).
Se considerarmos um “chute atual” de 50%, os fatos que vão ocorrer até o dia da eleição vão fazer que os 50% iniciais mudem, conforme a fórmula de Bayes. (que aqui não será apresentada).
Os fatos positivos vão levar os 50% em direção ao 100%, e os negativos ao zero%.
Informações úteis são sinais, enquanto que informações inúteis são ruídos. Vivemos em uma época de excesso de informações onde a maioria é inútil. Há muito ruído e poucos sinais.
O que foi escrito a respeito da eleição em 2017 é pura especulação. Geralmente os especialistas e analistas da mídia fazem previsões erradas.
Analistas e especialistas vivem de dar sentido aos ruídos que são transmitidos pelas mídias e conhecidos pela população, pois fazem suposições conforme as próprias crenças, medos, desejos e até aversão ao risco.
O Lula vai ganhar a eleição?
As duas afirmações opostas, o Lula vai ganhar a eleição para presidente em 2018” e “o Lula não vai ganhar a eleição para presidente em 2018”, são afirmações de militância política ou de pessoas que não conseguem articular um pensamento mais elaborado. No momento, são crenças e ilusão.
Uma boa previsão deve levar em consideração muitos mais fatores do que o do exemplo acima. Quanto mais fatores, melhor, considerando que há fatores fortes e outros mais fracos.
O pensamento Bayesiano é muito bom para a tomada de decisão sob grande incerteza, pois estimula a considerar, ao mesmo tempo, um grande número de hipóteses, pensar por meio de probabilidades e atualizá-las sempre que novas informações aparecerem.
Quais fatores que podem influir na eleição?
1. Lula vai poder ser candidato?
2. Ele vai conseguir fazer boas alianças políticas com partidos representativos?
3. Ele vai ter apoio expressivo das organizações sociais?
4. Ele vai ter apoio das emissoras de TV?
5. Ele vai ter apoio dos partidos de esquerda?
6. Haverá entusiasmo e união na militância petista?
7. Haverá mais desdobramentos da Lava Jato?
8. As decisões e ações tomadas na eleição de 2010 e 2014 serão eficazes em 2018?
9. Há um importante sentimento de renovação nos eleitores a ponto de gerar fatos inéditos em relação a 2010 e 2014?
10. As eleições anteriores servirão de parâmetros ou levarão a decisões equivocadas?
11. Durante a campanha eleitoral vai ocorrer um fato ou evento novo que prejudique a sua imagem?
12. Vai haver segundo turno?
13. Ele vai conseguir passar para o segundo turno?
14. O outro candidato terá alto grau de rejeição?
15. Os governadores, deputados e senadores eleitos vão trazer fatos novos e desconhecidos para o segundo turno?
16. Muito mais perguntas poderemos fazer, as quais podem influir na eleição.
Poucas coisas se enquadram nas categorias binárias “previsível-imprevisível”.
Há uma propensão de confundir o desconhecido com o improvável, e é muito provável que fenômenos desconhecidos apareçam nesta eleição.
De onde virá aquilo que desconhecemos?
Há 3 possibilidades para o conhecimento:
1. O conhecido-conhecido. Que são coisas que sabemos que sabemos.
2. O desconhecido-conhecido. Que são coisas que sabemos e temos consciência da nossa ignorância sobre elas.
3. O desconhecido-desconhecido. Esse é que está crescendo e é a grande fonte de falhas nas previsões e nos planejamentos. Não é por ser desconhecido que seja improvável.
Quando uma possibilidade nos é desconhecida, sequer pensamos nela e não podemos relacioná-la na lista de fatores que podem influir na eleição.
Atualmente estamos diante de uma situação de “ignorância estrutural”, que é o aumento do desconhecido-desconhecido.
Em certa medida, a ignorância é uma benção, pois ignora os riscos. A vida tem seus riscos, muitos dos quais ignoramos. Vivemos como se não houvesse riscos.
Somente quando aceitamos a nossa ignorância é que podemos pensar que muitos dos nossos medos e inseguranças são originados no desconhecido-conhecido.
O pensamento probabilístico ajuda a entender a aleatoriedade e a incerteza e geram insights para de como transformar informação em conhecimento.
O Lula vai ganhar a eleição?
Não sabemos, mas na data de hoje a probabilidade é baixa. Se hoje você tem medo que o Lula vença é por causa da sua ignorância sobre política e probabilidades.
E amanhã? Dependendo dos fatos e informações essa probabilidade pode mudar um pouco, e vai mudando a cada dia até aparecer um fato que o elimine da disputa, ou chega o primeiro turno e ele vença ou chega o segundo turno e ele ganhe ou perca.
Então haverá muito tempo para a probabilidade ir mudando, às vezes para cima e às vezes para baixo.
Mas eu acho que o Lula vai ( ) ganhar ( ) perder. É uma opinião. Se acredita nela faça uma aposta.
Um apostador faz previsões. Pensa a respeito de probabilidades. E quando se dispõe a arriscar o seu dinheiro, revela todas as suas crenças a respeito do mundo.
Perceba que quando você toma uma decisão, no fundo, está fazendo uma aposta sobre o futuro, dentro da sua visão de mundo.