O PESADELO DE ORWELL ESTÁ A CAMINHO?
Por que George Orwell, escritor inglês que morreu há 71 anos, continua sendo um dos mais citados autores de todos os tempos? Para o jornalista e escritor anglo-americano Christopher Hitchens, autor de um livro específico sobre essa questão (“Porque Orwell tem importância”), Orwell é indispensável porque em suas obras ele combateu três males fundamentais do século passado: o imperialismo, o fascismo e o totalitarismo de qualquer espectro político. “Essas eram prioridades indiscutíveis”, diz Hitchens. E como, ele sugere, essas ameaças continuam presentes neste novo século, Orwell nunca perde atualidade.
Em “1984”, sua obra mais famosa, Orwell descreve o total controle das pessoas e das ideias pelo Estado (é em “1984”, por exemplo, que nasceu a figura do “Big Brother”, aquele que tudo vê). É uma “distopia”, uma situação de pesadelo. Lido hoje, neste mundo desconcertado pelas fake news, “1984” nos causa um desconforto duro e real.
Observando o estado de confusão mental e revisionismo que vivemos, não podemos negar a atualidade desse discurso.
No livro, o Estado totalitário trabalha para controlar a mente dos cidadãos por meio de uma narrativa de mentiras e da constante revisão do passado. Para isso, também é usada uma linguagem (Novafala) e uma forma de pensar (o Duplipensamento) especificamente desenhados para embotar a capacidade de discernimento dos cidadãos. Observando o estado de confusão mental e revisionismo que vivemos, não podemos negar a atualidade desse discurso.
“1984” nunca deixou os catálogos das editoras. Inclusive, ganhou no ano passado, no Brasil, uma edição especial da Cia das Letras, com linda encadernação e incluindo capítulo com uma coleção de capas históricas e um conjunto de ensaios sobre a obra, escritos desde seu lançamento, em 1949. Um desses ensaios, de George Packer, repórter da revista New Yorker, ele próprio um estudioso de Orwell, é revelador.
Hoje, somos nós que oferecemos nossa privacidade ao mundo, de forma espontânea, por meio das redes sociais.
Packer avalia que “1984” não é uma previsão do que aconteceria no mundo, mas um alerta do que poderia vir a acontecer. E afirma que as monstruosidades sugeridas por Orwell estão acontecendo. Por exemplo, se em “1984” havia um aparelho (a Teletela) que vigiava as pessoas a contragosto delas, hoje somos nós que oferecemos nossa privacidade ao mundo (e aos controladores dos algoritmos), de forma espontânea, por meio das redes sociais.
Quando a assessoria de imprensa da Casa Branca justificou os cálculos evidentemente mentirosos da multidão que havia comparecido à cerimônia de posse do então recém-eleito presidente Trump, em janeiro de 2017, usando a expressão “fatos alternativos”, deu início à uma narrativa de distorção da realidade que passou a ser uma das armas de comunicação da administração Trump. E de tantos outros governantes.
Enquanto em “1984” as pessoas eram condicionadas a amar o Grande Irmão, mesmo sendo oprimidas por ele, hoje buscamos a aceitação de grupos – e medimos e trabalhamos por essa aceitação pelos likes dos posts que publicamos. A polarização, como resultado, tornou-se “totalitária”, com sua própria “novafala” e seu jeito de “duplipensar”. Diz Packer: “Hoje, o problema é o exagero de informações a partir de um exagero de fontes, com a resultante praga da fragmentação e divisão – não o excesso, mas o desaparecimento da autoridade, restando às pessoas comuns entender os fatos por si mesmas, à mercê de seus enganos e preconceitos”.
Obrigada pelo texto.
Professor na PUC Minas
4 aPelo menos a "novilingua" está cada dia mais no nosso dia-a-dia.
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4 aThanks Marco for sharing! This book is excellent! 😀
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4 aPiquini, posso afirmar que graças a Orwell e sua obra “A revolução dos bichos” eu mudei uma série de conceitos importantes que eu tinha sobre política e o papel do estado. Obrigada pelo excelente post