O peso do perfeccionismo e o caminho para se livrar dessa armadilha
Você já sentiu que, para ser bom o suficiente, precisava estar no controle absoluto de tudo?
No universo jurídico, onde a precisão é valorizada e a excelência é a moeda de troca, o perfeccionismo parece um requisito indispensável.
Desde os primeiros passos na carreira, somos condicionados a acreditar que cada cláusula, cada prazo e cada palavra precisam ser impecáveis. Afinal, o mínimo deslize pode ser percebido como falta de competência, comprometendo nossa reputação e valor em um mercado altamente competitivo.
Eu também entrei nesse jogo. Revisava trabalhos e textos exaustivamente, preparava apresentações querendo controlar cada detalhe e redigia documentos como se cada vírgula fosse crucial para o resultado.
A princípio, parecia que isso me tornaria uma profissional excepcional. Mas, com o tempo, percebi que havia um preço oculto por trás dessa busca incessante pela perfeição.
Perfeccionismo não é sobre ser o melhor. É sobre medo. É sobre o controle que ele exerce sobre nós, nos fazendo acreditar que, sem um desempenho impecável, não seremos suficientemente bons.
Esse controle cria uma ansiedade constante — uma preocupação interminável com cada detalhe, uma pressão para evitar erros a qualquer custo e uma sensação de que nunca estamos realmente à altura.
E essa armadilha silenciosa não apenas mina nossa criatividade e ousadia, mas também corrói a confiança em nossas capacidades.
Hoje, olhando para trás, consigo enxergar com clareza como o perfeccionismo pode transformar nossa jornada profissional em um campo minado, onde cada passo é dado com hesitação, e nunca com leveza.
A sutil diferença entre excelência e perfeccionismo
Excelência é dar o seu melhor, crescer, melhorar continuamente. Perfeccionismo é o medo constante de errar, a busca por um padrão inalcançável que nos paralisa. Parece inofensivo ou até admirável, mas se transforma em um ciclo vicioso de autocrítica e exaustão.
No Direito, isso se revela em detalhes: gastar horas ajustando uma cláusula que ninguém notará ou evitar enviar um e-mail por receio de que algo não esteja perfeito. Esses pequenos atos acumulam uma pressão mental que, silenciosamente, corrói nossa energia e confiança.
No meu caso, esse padrão não surgiu com a carreira. Ele estava ali muito antes, construído em trilhas inadiáveis: passar no vestibular na primeira tentativa, conquistar o Exame da Ordem de imediato, ingressar no mestrado logo após a graduação. Pausas? Impensáveis. Cada etapa era uma corrida contra o tempo, movida por um medo silencioso de parecer insuficiente.
Esse ciclo não era apenas sobre progresso. Era sobre atender às expectativas — expectativas que eu mesma criei, alimentadas por um medo profundo de decepcionar. Por anos, carreguei a crença de que falhar não era uma opção. E essa crença me custou caro.
O preço oculto do perfeccionismo na advocacia
Errar é humano. Não estou falando de erros de má-fé, mas das falhas inevitáveis que acontecem em qualquer profissão. Mas, para o perfeccionista, até esses erros se tornam inaceitáveis, alimentando um ciclo de culpa e autocrítica desmedida.
O preço é alto. O esforço constante para evitar falhas leva à exaustão emocional. A cada decisão, a ansiedade cresce: “E se eu errar?”
Esse medo nos paralisa, nos impede de agir com agilidade. Além disso, limita a inovação. Presos ao que é seguro, evitamos novas abordagens, o que freia nossa evolução como profissionais.
Por fim, o perfeccionismo desgasta relações. Quando esperamos de outros o mesmo padrão irreal que cobramos de nós mesmos, criamos um ambiente de trabalho tenso e pouco colaborativo.
O perfeccionismo não é comprometimento com a excelência. É medo mascarado de virtude. É insegurança. E enquanto nos recusarmos a aceitar nossas limitações, continuaremos presos a ele.
Como eu me libertei dessa armadilha
Minha libertação do perfeccionismo foi um processo gradual, guiado por uma lição simples que meu pai sempre repetia: “Faça o seu melhor e fique em paz com isso.”
Recomendados pelo LinkedIn
Essa frase, aparentemente tão simples, mudou minha perspectiva. Entendi que o esforço genuíno é suficiente. Comecei a aceitar que errar faz parte do processo.
Cada erro deixou de ser uma marca de incompetência e se tornou uma oportunidade de aprendizado e crescimento. Ao desafiar a crença de que eu precisava ser impecável, percebi que autenticidade e dedicação valem mais do que qualquer resultado perfeito.
Também aprendi a diferenciar o essencial do dispensável. Não tudo precisa de 120% do meu esforço. Algumas demandas podem ser entregues com 70% de energia, e o resultado ainda assim será eficaz. Essa clareza tornou meu trabalho mais eficiente e me deu espaço para focar no que realmente importa.
Outra mudança foi cercar-me de pessoas que enxergam os erros como aprendizado. Como líder, criei um ambiente onde falhas eram vistas como oportunidades de evoluir, não como motivo de punição. Isso fortaleceu as relações e incentivou a inovação.
Por fim, passei a comemorar minhas conquistas. Em vez de me fixar no que faltava, comecei a reconhecer meus avanços. Essa prática trouxe mais leveza e confiança à minha jornada.
Como isso pode transformar sua carreira?
Superar o perfeccionismo transformou minha saúde e minha carreira. O primeiro passo foi praticar autocompaixão.
Sempre que me via criticando um erro, me perguntava: "Eu falaria assim com um amigo?" Esse simples exercício me ensinou a tratar minhas falhas com mais gentileza, reconhecendo que errar é parte do aprendizado.
Também aprendi a ajustar minhas expectativas. Nem tudo precisa de 120% do meu esforço. Saber onde focar minha máxima energia e onde simplificar tornou meu trabalho mais eficiente e produtivo, permitindo que eu priorizasse o que realmente importava.
Outra lição valiosa foi me cercar de pessoas que enxergam os erros como aprendizado. Liderando equipes, adotei essa abordagem e vi como um ambiente seguro para falhas estimula a inovação e fortalece relações.
Por fim, passei a comemorar minhas conquistas, reconhecendo os avanços, por menores que fossem. Essa prática simples trouxe mais confiança e leveza ao meu dia a dia.
Essas mudanças me mostraram que a liberdade de ser imperfeito é o que realmente nos torna melhores – não a ausência de erros, mas a coragem de aprender com eles.
Por que vale a pena se libertar?
Abandonar o perfeccionismo me trouxe algo que nunca pensei ser possível: leveza.
Hoje, trabalho com a consciência de que não preciso ser perfeita para ser excelente. Essa mudança me permitiu inovar, explorar novas possibilidades e, acima de tudo, aproveitar a jornada. O que antes era um peso constante, agora é um convite ao aprendizado e à evolução.
Se há algo que aprendi, é que a verdadeira excelência não está na ausência de erros, mas na capacidade de crescer com eles. É sobre reconhecer quando insistir vale a pena e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria para entender quando é hora de mudar de direção ou deixar algo para trás.
E você? Talvez seja o momento de refletir: "Estou buscando excelência ou me escondendo atrás do perfeccionismo?"
A liberdade que vem dessa escolha é transformadora. Porque aceitar nossas imperfeições não nos limita – nos liberta. É essa humanidade, com todos os seus altos e baixos, que nos torna realmente extraordinários.
_______________________________________________________________________________
Quer receber os próximos conteúdos?
CopyWriter | Advogado
2 dMuito importante essa reflexão! Principalmente para os dias de hoje.
Sócio / Partner no Motta Fernandes Advogados
1 mExcelente texto Olivia!
Advogado Empresarial, Industrial, Marítimo e Portuário, Conselho Deliberativo e Administrativo, Consultor (ESG), Relações Públicas, Inteligência Artificial, Comunicação Assertiva.
1 mO texto explora a relação entre perfeccionismo e excelência no campo jurídico, destacando que, embora o perfeccionismo inicialmente pareça vantajoso, ele pode se tornar uma armadilha emocional, gerando ansiedade, autocrítica e medo de errar. O autor compartilha sua experiência pessoal ao perceber que esse comportamento comprometia sua criatividade e bem-estar. A libertação veio por meio de autocompaixão, ajustando expectativas e aceitando falhas como oportunidades de aprendizado. O texto conclui que a verdadeira excelência está na capacidade de crescer com os erros, não na busca por um padrão inatingível de perfeição, encorajando uma reflexão sobre as próprias motivações e o impacto disso na carreira e na vida pessoal.
Advogada| Empreendedora feminina| Mentora de novas advogadas| Professora| Especialista em Direito Previdenciário| Autoconhecimento|
1 mMuito bom
Diretora Jurídica/ General Counsel/ Head of Legal
1 mAdorei o seu texto. Lembrei de exaustivas reuniões nas quais horas de discussão era para decidir onde iria a vírgula na frase. Nunca vi sentido naquilo, mas com o tempo fui me acostumando. Hoje, mais madura penso como você na busca por excelência. Obrigada por compartilhar.